Artigo

Josué Montello e seus personagens

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40

Um personagem, em literatura, é um ser atuante de uma obra. Josué Montello criou inúmeras pessoas fruto de sua imaginação. Seus romances são obras de ficção que, embora apresentem fatos reais, não expressam uma realidade.

“Janelas Fechadas” foi o romance de estreia de Josué Montello, publicado em 1941. Benzinho, moça bonita, que morava no Anil, esperava sempre a vinda do bonde que podia trazer uma carta do pai de seu filho, enquanto D. Binoca deixava o tempo passar, tal qual o velho relógio de pêndulo, que acompanhou várias gerações e teve expressivo significado na vida de Eduardo, como nos narra “A Luz da Estrela Morta”.

Em “Labirinto de Espelhos”, Marta era uma viúva rica, cercada de herdeiros interesseiros, esperando um testamento, após sua morte. Em o “Camarote Vazio” existe um roubo de jóias, mas o camarote permanece intacto. Falando de cobiça obsessiva, Montello conta-nos a história de Abelardo que, regressando a São Luis, pretende adquirir a casa onde outrora residiam seus pais. Apaixonou-se pela filha do novo dono da casa. Casaram-se sem que a esposa apoiasse seu desejo obsessivo.

Como narrado em “Os degraus do Paraíso”, Josué crítica o fanatismo e o puritanismo religiosos e, referindo-se a uma epidemia da gripe espanhola, fala da morte física e espiritual. Seus personagens Ernesto, Cristina, Cipriana e Dr. Luna morrem. O “Cais da Sagração” retrata a vida do porto de São Luis e mostra como viviam os barqueiros. Seu personagem principal é Severino, um barqueiro desenganado pelo médico de coração.

“Os Tambores de São Luis” personifica as crenças, tradições, lutas, castigos e humilhações da escravidão, onde Damião é diferente da rebeldia maranhense de João Maurício, que enfrentou a Polícia Militar nas passeatas políticas, e quando foi indicado para dirigir uma luta armada no Maranhão, em 1935, recusou. João Maurício vinha de uma geração que lutava contra o poder, mas não estava preparada para assumi-lo.

Sobre o amor, Montello foi pródigo. Em “O Silêncio da Confissão” narra o fim do relacionamento entre Madalena e Benício. Fala do amor que existe entre os dois, em pleno regime militar, na década de 60. Benício era da direita, fiel aos princípios da doutrina que levou à caça aos comunistas. Volta a se referir ao amor com a história de um triângulo amoroso, Patrícia, Rodrigo e Simone. Obsessão e amor, tema de sua obra “Última Convidada”. Trata, ainda, do amor materno com uma estória triste, onde Luciana procura o filho desaparecido, esbarrando nos mistérios do terrorismo no Brasil. Sua obra foi “Uma Varanda sobre o Silêncio”. Finalmente, relata suas aventuras de colégio quando volta a São Luís para viver seu encontro e falar da convivência com Glorinha, em “Perto da Meia Noite”.

“O Baile da Despedida” acontecia enquanto se preparava a proclamação da república brasileira. A monarquia nem imaginava que aquela era a última oportunidade para se despedir do poder. Na “Condição Literária”, ele fala de figuras, fatos e figurões que foram importantes na literatura brasileira e das vicissitudes e grandezas do Prêmio Nobel de Literatura e do esplendor e decadências dos prêmios literários.

Foram esses os principais personagens de Josué Montello, um dos maiores romancistas do século XX, ungidos pelo seu brilhante imaginário e integrantes da sua criação romanesca. Josué Montello pouco falou de si, mas foi transparente ao dizer quando se referia à utopia: “O que caracteriza a utopia é constituir uma aspiração de muitos e para muitos num tempo futuro”. Era assim que sonhava, sempre caminhando vivo seu sonho estrelado, como queria Victor Hugo.

Aldy Mello

Ex-reitor da UFMA e do CEUMA, membro efetivo do IGHM e da ALL

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