Artigo

A história da verdade na Filosofia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40

A palavra verdade guarda uma das questões mais perigosas na história da filosofia. Da necessidade de sua contemplação à termo inconjurável e impronunciável são variadas as acepções que os filósofos desenvolveram da Grécia Antiga até a contemporaneidade. No português, a origem etimológica de verdade vem do latim “veritas”. No horizonte cotidiano, usa-se a palavra para explicar o que condiz com os fatos (a realidade), com os princípios científicos, religiosos ou morais ou ainda como qualidade daquilo que é honesto, sincero.

Mas sabemos que a filosofia é um terreno que evita o imediatismo das noções triviais. Nele, a disposição de um filósofo ao termo orienta a sua própria reflexão filosófica, podendo influenciar em suas percepções sobre diferentes conceitos e inferências nos temas filosóficos do conhecimento, metafísica, ética, estética e outros. Não seria incoerente afirmar que a lente da verdade determina os rumos da relação que estabelecemos com o mundo, o modo como o interpretamos.

Não se pode ficar na superfície quando se refere a esta questão. Não foram poucos os filósofos que se debruçaram na contemplação da verdade. Dos antigos Sócrates, Platão e Aristóteles aos medievais Agostinho, Anselmo e Tomás de Aquino, aos modernos Descartes e David Hume. Muitos a exaltaram e a questionaram. No estudo da Filosofia, apesar de muitas divergências, pode-se ter uma noção de certo modo universal quando se quer tratar do termo. Assim, uma definição geral - mas complexa - do termo pode ser encontrada no Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano (2012): a verdade é “validade ou eficácia dos procedimentos cognitivos”. Esta noção pode ser ampliada.

Diante das muitas concepções, o termo verdade, no geral, pode ser entendido como a qualidade ou virtude de qualquer procedimento cognitivo (intelectual) que se apresenta eficaz ou exitoso. A generalização, segundo Abbagnano, pode ser aplicada a concepções que tanto entendem o conhecimento como um processo mental quanto a concepções epistemológicas que consideram o saber um processo linguístico ou signíco.

A noção dispensa ainda a distinção que algumas linhas de interpretação fazem entre verdade e critério de verdade. A separação entre estes dois termos só se apresenta na teoria da correspondência e na teoria da verdade como conformidade à regra. Na primeira, critério de verdade é visto como uma evidência, recorrendo-se logo à tese da verdade como revelação. Na segunda acepção, Immanuel Kant apresenta a regra como um critério formal ao lado de um conceito de verdade, como correspondência. O filósofo alemão assim formula a teoria da verdade uma definição da própria verdade.

Existem cinco principais linhas de interpretação do problema filosófico: a verdade como correspondência, como revelação, como conformidade a uma regra, como coerência e como utilidade. As duas primeiras são as mais populares e já inspiram filósofos de diferentes épocas.

Como se pode ver, aprofundar-se neste problema filosófico não é uma tarefa simples, mas pode ser um caminho enriquecedor. Por isso, este texto inicia uma série que investigará as principais concepções de verdades e explicará a noção básica de cada uma, apontando suas nuances, seus defensores e aporias.

Além de textos, serão gravados e compartilhados vídeos sobre as acepções de verdade, a ser publicado no canal do Instituto Valor e Verdade no YouTube e compartilhados nas redes. A série começará pelo conceito de verdade como correspondência, a definição mais antiga do termo. Os vídeos serão postados semanalmente - no máximo, quinzenalmente, em caso de imprevistos, que normalmente acontecem.

André Lisboa

Professor de filosofia, jornalista e diretor no Instituto Valor e Verdade

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.