Artigo

Solidão, a cura dos ferimentos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40

A raiz de todos os males é a solidão. Não viemos ao mundo para vivermos isolados. E não me refiro aqui somente a alguém do sexo oposto. Em verdade, precisamos muito também da companhia de nossos familiares e amigos, enfim, das pessoas que nos amam, sem as quais não há felicidade.

Ficarmos sozinhos, sem ninguém para dividir os nossos risos e lágrimas, causa-nos um mal enorme. É como estarmos perdidos na escuridão em plena tempestade, desabrigados, com fome e sede, ao sabor do uivo do vento, que causa espanto e desespero, o cenário de um verdadeiro inverno da alma.

A vida, e tudo o que se possa extrair dela, deve ser partilhada com outras pessoas, para que possamos festejar as nossas vitórias, e dividir com alguém a dor de cada lágrima derramada, amenizando o sofrimento das horas de tormenta.

Mas em algumas circunstâncias, precisamos nos recolher, ficarmos um pouco sozinhos, longe da multidão, distantes de todos.

Após uma batalha, da qual saímos derrotados, temos de nos retirar um pouco de cena, fugir da luz dos holofotes, e nos abrigar de todo o contexto da guerra.

Quando somos feridos, é bom ficarmos em companhia da escuridão, reclusos, para que o tempo cure os ferimentos, para que o nosso coração se recomponha, para que o nosso caráter seja moldado com as labaredas da derrota, do infortúnio.

O silêncio nessas horas é tão vital quanto o ar que respiramos. Há horas em que devemos recolher as armas, assimilar a queda, maturar todos os acontecimentos, e refletir bastante.

Pensando bem, a solidão não é de todo ruim. Nos momentos de aflição, pode ser o remédio amargo para darmos a volta por cima. É quando precisamos dela para crescer, para nos aperfeiçoar, e nos tornar mais maduros.

Quem disse que os momentos de cólera não edificam? A sabedoria é filha da dor, e nasce com lágrimas. Mas é preciso saber lidar com o exílio. Não se pode encará-lo com um sentimento de autocomiseração, mas sim de oportunidade de aprendizado, de crescimento.

A solidão deve ser entendida como um recolhimento estratégico, com a finalidade de recompor o exército, de recobrar as forças, e de retraçar o plano de ação.

É como um animal que sai ferido após uma luta. Logo que batido em combate, ele se isola dos demais animais. Procura um abrigo, e lá permanece até sarar todas as suas feridas. Após um tempo recluso, quando se sente fortalecido, é que volta ao convívio dos demais.

E cabe a cada um de nós saber quando é hora de nos recolher. Quando saímos com o coração ferido, fazem-nos bem um pouco de solidão. É quando precisamos de um tempo só para nós, para refletirmos sobre tudo que tem ocorrido conosco, para mudarmos a nossa postura diante da vida. Nessas horas, não adianta olhar para o céu e pedir pelo milagre, mas sim mudar o leme do barco para seguir adiante. E não existe melhor oficina do que o silêncio.

Há horas em que devemos promover mudanças em nossas vidas. E mudanças importantes só são temperadas em meio ao silêncio e à meditação. Ninguém consegue mudar em meio ao tumulto. O grito da multidão impede a mudança.

A solidão, portanto, é senhora do saber. Lapida o conhecimento, cura as feridas, edifica homens e solidifica a maturidade.

Alex Murad

Conselheiro federal da OAB, presidente da Comissão de Mediação e Arbitragem da OAB/MA, especialista em Direito Constitucional, Direito Civil e Processo Civil

E-mail: alexmurad@uol.com.br

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