Artigo

As ruas de São Luís

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40

As chuvas chegaram com grande intensidade no início do mês de janeiro e, como era de se esperar, a cidade ficou caótica. Logo agora que o prefeito mandou asfaltar 120 quilômetros de ruas durante a última campanha eleitoral. A população residente gostou, e pelo menos por algum tempo, vai usufruir do benefício. Coincidentemente, todos os prefeitos perto das eleições asfaltam a cidade. O antecessor do prefeito atual também sustentou sua campanha nas ruas que asfaltou e certamente o próximo que vier continuará o mesmo ritual. Às vezes essa velha estratégia política funciona.

Não critico particularmente nenhum dos responsáveis pela administração da nossa cidade, apenas não posso entender a maneira como os recursos públicos têm sido aplicados nas ruas sem o necessário estudo técnico que garanta a qualidade dos serviços no que diz respeito a drenagem pluvial, confecção das calçadas, instalação das redes de esgotos e de água potável e, por último, a pavimentação. Porém, tudo é feito apressadamente sem a participação dos demais órgãos influentes na infraestrutura da cidade, tais como: a Caema, Cemar, empresas de telefonia e TV.

Um detalhe importante sobre a pavimentação dos logradouros é a sua reduzidíssima vida útil. É entristecedor ouvir as pessoas jocosamente criticarem o “asfalto sonrisal” sem que ninguém seja responsabilizado por esse enorme desperdício do dinheiro público.

É claro que alguma coisa não está sendo executada corretamente. Imagino que não estejam sendo levadas em consideração as modificações dos conceitos até então adotados para o cálculo dos pavimentos, tanto em suas camadas inferiores como no revestimento asfáltico, pois, sem elas, não é mais possível executarem-se bons projetos, uma vez que a dinâmica da cidade mudou radicalmente e os métodos de cálculo utilizados já podem ser considerados obsoletos.

O órgão de planejamento urbano deveria levar em consideração os três tipos principais de pavimento, ou seja, onde deve ser projetado o pavimento flexível, o semirrígido ou o rígido, nunca generalizando um único tipo como vem sendo feito, pois nem sempre a solução de menor preço é a mais econômica. Entretanto, para isso é preciso um estudo prévio e realístico, principalmente do solo e do tráfego, sem os quais não é possível tal definição, coisa que evidentemente não vem sendo observada.

Essa aplicação indevida de recursos é repetida governo após governo, sempre apressadamente nos finais de mandato, sem que os órgãos encarregados da fiscalização extramunicipal dos projetos - o CREA principalmente - acionem seus responsáveis pela confecção e aplicação nas obras. Parece que todos aceitam a situação como se o ”asfalto sonrisal” fizesse parte do nosso folclore.

Tivessem os administradores de nossa cidade procurado executar obras bem-feitas e duradouras, mesmo fazendo menos do que anunciam nos fins de mandato, a qualidade das nossas ruas poderia ser motivo de orgulho para a população beneficiada e o ganho político seria incomparavelmente maior. É apenas uma questão de lógica desprezada por muitos administradores, cuja visão não vai além do horizonte dos quatro anos de mandato, por isso estão sempre apressados no final e terminam deixando coisas mal feitas.

Quando os prefeitos começam a alongar suas realizações, lembro-me da frase de Blaise Pascal: “Fiz esta carta mais longa porque não tive tempo de fazê-la curta. ”

Arthur Ribeiro Bastos

Engenheiro civil

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