Análise

Festival Lollapalooza 2017: roqueiros intrusos

O Lollapalooza de 2017 dialoga com o que a juventude, embora disfarce a "pegada de rock" com os "nomões" citados nesta matéria

Pedro Antunes/Estadão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Lollapalooza de 2017.
Lollapalooza de 2017. (Lollapalooza 2017)

SÃO PAULO - Metallica e The Strokes como os nomes mais altos nos cartazes do Lollapalooza de 2017, realizado no próximo fim de semana, dias 25 e 26, no Autódromo de Interlagos, são só uma distração - ou uma tentativa de garantir a venda de uma parcela de ingressos. Não se engane com isso, contudo. A maior banda de heavy metal da atualidade e os nova-iorquinos que capitanearam a última revolução do rock’n’roll, nos idos de 2000, são os bastiões de uma equivocada ideia de tradição roqueira de um festival ligado à cultura alternativa.

Criado por Perry Farrell, vocalista da banda Jane's Addiction, em 1991, em Chicago, o Lollapalooza era o palco para os esquisitos (que nos anos 1990 tinham guitarra e pedais de distorção), para aqueles que ficavam à margem, longe do que era estabelecido, e, principalmente, para os jovens. Hoje, o alternativo é outro, soa diferente daquela sujeira deliciosa que estabeleceu o grunge nos Estados Unidos e da febre das raves que ajudou a fundamentar o britpop. Ela, hoje, vem dos beats, as batidas eletrônicas trocadas, por vezes mais parecidas com o som gerado por um liquidificador batendo um jogo de talheres inteiro de uma só vez. O Lollapalooza de 2017 dialoga com o que a juventude, embora disfarce a "pegada de rock" com os "nomões" supracitados.

O Lollapalooza reflete atitudes de festivais grandes ao redor do mundo ao colocar bandas como The Chainsmokers, por exemplo, no mesmo horário do Metallica. O duo deve roubar para si o público mais jovem do festival, aqueles que precisaram se decidir se assistiam ao The xx, no palco Onix, ou Tove Lo no palco Axe, no início da noite de sábado. Chainsmokers alcançou um feito dos Beatles há dez dias, ao conseguir emplacar três músicas entre as 10 mais executadas dos Estados Unidos. Além de Paul McCartney e companhia, somente os Bee Gees podiam se gabar do feito.

No domingo, enquanto o The Strokes se apresenta no palco Skol, o principal do festival, o Axe será invadido pelo Flume, projeto do produtor australiano Harley Edward Streten, que recentemente ganhou o Grammy de melhor disco eletrônico por Skin.

São dois exemplos, nos horários mais nobres, mas que escancaram o que o restante da programação do festival já indica. Até bandas com vocações guitarrísticas, caso de Two Door Cinema Club e a veterana Duran Duran, atrações de domingo, se inclinam para a batida eletrônica. E atrações que lideram o segundo pelotão em importância em cada um dos dias, caso de The xx (sábado) e The Weeknd (domingo) são figuras proeminentes e estabelecidas de um pop dançante. A primeira, um trio inglês, está mais solar do que nunca com o disco I See You. Já o produtor canadense, com Starboy, rendeu-se de vez ao mainstream, seja isso bom ou ruim.

Até tu, Strokes? Curioso que enquanto o Metallica, com o disco Hardwired... to Self-Destruct, buscou reencontrar a velha essência das guitarras viris, o Strokes aponta para outro caminho. O EP lançado pelo quinteto Future Present Past é um flerte com um eletrônico vintage oitentista - o prometido sexto álbum deve seguir a mesma linha.

Se ao olhar o cartaz do Lollapalooza e torcer o nariz para as atrações eletrônicas demais, aceite o fato: a programação do festival foi feita para pessoas mais jovens do que você.

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