Saúde

Maranhão é o segundo em casos de morte por câncer de colo de útero no Brasil

Baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é um dos principais motivos diretamente relacionados ao aumento constante de casos da doença; estado ocupa a penúltima posição no ranking

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Câncer de colo de útero tem evolução gradativa, que leva, em média, 10 anos
Câncer de colo de útero tem evolução gradativa, que leva, em média, 10 anos (câncer de colo)

SÃO LUÍS - O Maranhão é o segundo estado do Brasil onde o câncer de colo de útero resulta em mais óbitos, ficando atrás apenas de Alagoas. Em 2016, estavam previstos 16.340 novos casos da doença no país: 5,9% no estado, o que representa 970 casos. Um dos motivos mais diretamente relacionados a esse número é o baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). É o que aponta a pesquisa realizada pelo doutor em oncologia Pinho França, publicada na revista BMC Women's Health.

No março lilás, mês de sensibilização para a prevenção e combate ao câncer de colo de útero, a preocupação com a doença é redobrada. O estudo mostra que ela resultaria em número reduzido de mortes se a rede pública de saúde fosse mais eficaz.

Segundo o levantamento, mulheres residentes nos municípios com IDHM médio, baixo e muito baixo tiveram, respectivamente, 40%, 90% e 5,4 vezes mais risco de apresentar essas lesões que as dos municípios com IDHM alto. O Maranhão ocupa a penúltima posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano entre os Estados da Federação (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

As variações refletem as diferenças relacionadas com o acesso aos serviços de saúde, educação e a distribuição de renda, ou seja: a qualidade e as condições de vida da população nessas áreas geográficas. Essa delimitação espacial por IDHM evidenciou uma forte desigualdade social no que tange às chances de detecção de lesões precursoras e suspeitas de câncer de colo de útero (CCU). Mulheres, residentes em regiões com menos ou até desprovidas de condições essenciais à qualidade de vida, possivelmente tiveram uma maior susceptibilidade aos fatores de risco atinentes ao CCU.

Vale destacar a possibilidade real de subestimação para o Maranhão, sobretudo nos municípios do interior do estado, que historicamente são subnotificadores, na medida em que 23,71% dos casos esperados encontram-se na capital, São Luís, com uma taxa bruta de incidência de 42,58/100.000 mulheres, uma das maiores do Brasil. Em países desenvolvidos, a doença se tornou relativamente rara. Nos últimos 50 anos, a redução da mortalidade chegou a 75% após a implementação de programas de rastreamento citológico organizado (com o exame de Papanicolau) e de alta cobertura.

“A principal forma de prevenção à doença é o exame ginecológico papanicolau. O que se percebe é que há uma grande deficiência na rede pública de saúde, o que inclui uma baixa detecção das lesões e suspeitas de câncer. Uma das coisas que encontramos foi a zona de transformação, em que há células representativas do câncer. No estudo, 42% das coletas não tinham células desta zona, que é importante para a detecção do câncer. Ou seja: o material não é bem colhido”, destacou doutor Pinho França.

No Nordeste, é o segundo câncer mais frequente em mulheres e a segunda principal causa de morte por câncer. No país, é a terceira. Mais de 70% dos casos, quando são diagnosticados no Brasil, já estão em estado avançado, e não é mais possível fazer cirurgia. Nestas circunstâncias, o tratamento indicado é a quimioterapia associada à radioterapia.

Avanço lento
O câncer de colo de útero tem uma evolução gradativa, que leva, em média, 10 anos para passar de uma lesão do colo uterino para o câncer propriamente dito. A detecção é feita pelo exame ginecológico conhecido como Papanicolau.

As mulheres que estão mais suscetíveis à doença são as que têm mais de 30 anos, que tiveram início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros sexuais, são imunodepressivas, transplantadas ou tenham feito muito uso de corticoides.

Em média, uma lesão de pequeno grau pode ser tratada em dois anos. “O maior estudo referente à doença foi publicado em 2014, que avaliou os dados disponibilizados pelo Inca, e analisou mais de 30 mil pacientes mais de 70% das pacientes no diagnóstico dos casos detectados no Brasil já tinham o câncer em estado avançado, onde não dá mais para fazer cirurgia. Se você levar em consideração que é um tumor que leva, em média, 10 anos para agir, é muito tempo para dar início a um tratamento”, destacou a ginecologista especializada em oncologia ginecológica, Katerine Serafim.

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