Odebrecht

Odebrecht diz que caixa 2 sempre foi cultura reinante na política do país

Presidente do Conselho Administrativo da empresa prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro, coordenador da Lava Jato

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Emílio Odebrech foi testemunha do filho, Marcelo
Emílio Odebrech foi testemunha do filho, Marcelo (Odebrecht)

BRASÍLIA - O executivo Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração da empresa, afirmou ontem, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, que "sempre existiu" caixa dois para doações de campanha. "Sim, sabia que existia uso de recursos não contabilizados. Sempre foi modelo reinante no país e que veio até recentemente. O que houve impedimento foi a partir de 2014, 2015. Até então, sempre existiu. Desde minha época, da época do meu pai [Norberto] e também de Marcelo, sem dúvida nenhuma", afirmou o pai de Marcelo Odebrecht em depoimento sigiloso, mas que teve trechos vazados para a imprensa.

Norberto Odebercht fundou a empreiteira em 1944. Em 1991, ele transferiu a presidência para seu filho, Emílio, passando a ocupar a Presidência do Conselho de Administração. Em 2009, a presidência foi transferida para Marcelo Odebrecht.

Emílio foi arrolado como testemunha de defesa de Marcelo Odebrecht, presidente do grupo, na ação que acusa o ex-ministro Antonio Palocci de agir em favor dos interesses da empresa. Segundo Emílio, a Odebrecht doava para todos os partidos, por dentro e por fora, com recursos oficiais e não oficiais. "Na minha época, as coisas eram muito mais simples. Não tinha a complexidade que a organização passou a ter, trabalhando em mais de 20 países e lidando com 'n' negócios", afirmou.

O empresário afirmou que na época dele havia apenas um "responsável" por operacionalizar os recursos não contabilizados, repassando-os a políticos ou partidos beneficiados. "Existia uma regra: ou a gente não contribuía para ninguém, ou para todos", completou.

Emílio afirmou ainda que nunca tratou de pagamentos ilícitos com Palocci, mas "não tem dúvidas" de que ele pode ter sido um dos operadores do PT e recebido recursos em favor do partido. Contudo, o empresário afirmou que não sabe dizer se o "italiano" citado nas planilhas da empresa é Palocci. "Existem muitos apelidos na organização, eu seria leviano, irresponsável. Ele [italiano] pode ser também nosso Palocci. (...) Não sei dizer se efetivamente era o doutor Palocci, mas com certeza ele também era identificado como "italiano".

Cardozo também fala de Caixa 2

Após depoimento ao juiz Sérgio Moro que durou cerca de 20 minutos, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo disse que a prática de caixa 2 em campanhas eleitorais “é histórica e recorrente, fruto de um sistema político anacrônico” e acrescentou que a prática não está necessariamente associada a ato de corrupção ou lavagem de dinheiro.

Também foi ouvido hoje, por videoconferência, no Fórum Criminal de São Paulo, o empresário Emílio Odebrecht, dono do grupo Odebrecht e pai do ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht – condenado a 19 anos e quatro meses de prisão por participação no esquema investigado pela Operação Lava Jato. Trata-se do primeiro depoimento do empresário ao juiz Sérgio Moro.

Ao deixar o fórum, José Eduardo Cardozo disse que, apesar de ilegal, a prática de caixa dois “nem sempre agasalha a corrupção”. O ex-ministro disse que a empresa doa o dinheiro e o beneficiário processa como caixa dois, muitas vezes sem saber a origem dos recursos.

Ele relatou ter respondido a perguntas do advogado de defesa de Palocci e também feito esclarecimentos solicitados pelo juiz Moro. Mas se eximiu de dar detalhes sobre o teor das indagações, lembrando que o processo corre sob sigilo e que, caso quebrasse esta exigência, poderia correr o risco de entrar no Fórum como testemunha e sair como réu.

Questionado se tinha conhecimento de ilegalidades na campanha de 2014, o ex-ministro afirmou que, apesar de não ter participado, pode testemunhar que a ex-presidente Dilma Rouseff tinha uma postura rígida contra o recebimento de dinheiro ilegal.

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