História

Indonésia e seus conflitos em publicação

Na fictícia Halimunda, a vida de uma prostituta extremamente bela, que ressuscita depois de 21 anos enterrada, é o pano de fundo para Eka Kurniawan repassar episódios sangrentos da história de seu país

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Eka Kurniawan utiliza romance para contar episódios sangrentos do seu país
Eka Kurniawan utiliza romance para contar episódios sangrentos do seu país (Eka Kurniawan)

A vida da prostituta Dewi Ayu e das quatro filhas é marcada por estupros, incestos, assassinatos e fantasmas – muitas vezes vingativos. Ao contar essa história, o escritor indonésio Eka Kurniawan combina folclore, sátira, tragédia familiar e a formação da Indonésia, culminando no livro “A beleza é uma ferida”.

Tradição e superstições também influenciaram a vida de Dewi Ayu, como a lenda da bela princesa Rengganis, que se casou com um cão e morava em Halimunda. Sua história serve como um aviso para mulheres bonitas na região. Séculos mais tarde, a beleza ainda é igualmente reverenciada e temida.

Os conflitos internos e políticos povoam as páginas do romance e descrevem o seu impacto na vida das pessoas comuns. Eka faz uma crítica mordaz ao passado conturbado da sua jovem nação: a ganância do colonialismo; a luta caótica para a independência; a ocupação japonesa; o assassinato de um milhão de “comunistas” em 1965, seguido por três décadas de governo despótico de Suharto. Nesse quase um século, o autor constrói um retrato dos tempos sombrios, e reconhece que o passado pode não ter acabado ainda. Contra as mortes daqueles anos e a amnésia coletiva usada para apagar o destino das vítimas, a ficção convoca sua legião de fantasmas.

Baseado em contos folclóricos, a voz inconfundível de Kurniawan – inspirada em Melville e Gogol – traz originalidade e relevância para a literatura contemporânea. Os personagens de Kurniawan são todos destinados ao desespero e à tristeza, e para a crítica internacional o resultado é uma leitura mais escura e desafiadora do que Cem anos de solidão. Kurniawan tem uma maneira perturbadora de inserir o sobrenatural no cotidiano, se deleita em obscenidade – nenhum tópico é poupado de sua marca satírica sanguinária.

“A beleza é uma ferida” é brutalmente inserido em um cenário devastador, de beleza idílica e violenta. Com paixão e ironia, Kurniawan oferece aos leitores o prazer na linguagem exuberante usada para descrever uma carnificina, defendendo simultaneamente a força necessária para sobreviver.

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