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Chance de Geert Wilders virar premiê da Holanda ''é quase nula'', diz especialista

Geert Wilders domina as atenções na campanha eleitoral da Holanda. Em entrevista, especialista explica por que é pouco provável que o candidato populista chegue ao poder

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
( Geert Wilders posa ao lado de eleitoral durante campanha em Breda)

Holanda - Pouco antes das eleições parlamentares da próxima quarta-feira, 15, na Holanda, todos falam do candidato populista de direita Geert Wilders.

Em entrevista à DW, o cientista político Andrei Zaslove disse considerar, no entanto, improvável que Wilders venha a se tornar primeiro-ministro. Mesmo assim, o populista "deslocou a fronteira do que não pode ser dito: nos anos 1990, políticos poderiam ser processados pelo que falam hoje abertamente", analisa Zaslove.

"Com suas declarações populistas contra o islã, a União Europeia e a imigração, Wilders chamou, naturalmente, muita atenção. Eu não diria que ele é antidemocrático, mas ele testa, provocativamente, os limites da democracia", avalia o cientista político.

Andrej Zaslove ensina política comparada na Universidade Radboud, em Nijmegen. Nos últimos 13 anos, ele vem pesquisando sobre o fenômeno do populismo na Holanda e em outros países. Entre outros, é o autor do livro The Re-invention of the European Radical Right (A re-invenção da direita radical europeia, em tradução livre).

DW: Indo direto à questão mais premente, Geert Wilders pode vencer a eleição na Holanda com sua legenda populista de direita Partido da Liberdade (PVV)?

Andrej Zaslove: Segundo as últimas sondagens, o PVV deverá se tornar apenas a segunda maior força política do país, depois do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), que já está no poder. Mas mesmo que Wilders viesse a ficar ligeiramente na frente, ele precisaria de parceiros de coalizão para formar um governo. A não ser que ele possa atrair para si os votos de mais de 50% dos eleitores – e isso é impensável no sistema multipartidário holandês.

DW: E haveria parceiros de coalizão?

Andrej Zaslove: Nunca se deve dizer não, mas até agora todos os partidos relevantes rejeitaram claramente uma cooperação. A probabilidade de que vejamos em breve Wilders como primeiro-ministro gira em torno de zero.

DW: Por que os índices de aprovação de Wilders pioraram pouco antes da eleição?

Andrej Zaslove: A campanha eleitoral dele foi estranha, ele quase não apareceu. Talvez isso tenha mudado a opinião de alguns indecisos. Mas ainda é cedo para descartar Wilders. Muitos questionam se tudo é algo calculado e se ele ainda não vai iniciar um ataque surpresa.

DW: E apesar ou até mesmo por causa da ausência de Wilders, as pessoas continuaram a falar sobre ele. Por quê?

Andrej Zaslove: Com suas declarações populistas contra o islã, a União Europeia e a imigração, Wilders chamou, naturalmente, muita atenção. Eu não diria que ele é antidemocrático, mas ele testa, provocativamente, os limites da democracia. Ao contrário, por exemplo, de Donald Trump, Wilders tem uma visão de mundo consistente, age de forma calculada e é um político experiente.

Na maioria das vezes, a campanha de Wilders contra muçulmanos e imigrantes não parece muito prudente, como, por exemplo, a fotomontagem que ele tuitou após o atentado ao mercado de Natal em Berlim e que mostra Angela Merkel com as mãos manchadas de sangue.

Há anos que Wilders faz campanha contra o islã, essa luta é sua principal preocupação. Na Holanda, muitas pessoas também se indagam se o isolamento dele radicalizou ainda mais essa posições já exacerbadas. Desde 2004, ele vive sob proteção policial constante devido a ameaças de morte, quase como numa prisão.

DW: Wilders fundou o PVV em 2006. Como o partido tem influenciado o debate político na Holanda desde então?

Andrej Zaslove: No geral, observa-se uma guinada à direita. Pois os demais partidos, como, por exemplo, o neoliberal VVD do primeiro-ministro Mark Rutte, não querem deixar o campo livre para Wilders, perdendo votos para ele. Wilders deslocou a fronteira do que não pode ser dito: nos anos 1990, políticos poderiam ser processados pelo que falam hoje abertamente.

DW: Quem são as pessoas que votam no PVV?

Andrej Zaslove: Uma parte dos votos do PVV provém de um eleitorado que é muito leal há anos. De acordo com estudos, a tendência é que, nesse rol de eleitores, haja mais homens que mulheres e também pessoas de menor escolaridade e que se sentem deixadas para trás. Além disso, para muitos, votar em Wilders é um ato de protesto contra o establishment político, contra o qual tem crescido nos últimos anos o descontentamento frente a uma grande e morosa coalizão de governo – da mesma forma que na Alemanha.

DW: Vamos supor que o PVV venha a governar em breve a Holanda. Promessas de Wilders, como o "Nexit" (saída da Holanda da União Europeia), a proibição do Alcorão e o fechamento de fronteiras se tornariam realidade?

Andrej Zaslove: Acho que muito disso é impraticável. Para uma saída da União Europeia não haveria apoio suficiente na população holandesa, isso é algo que simplesmente não consigo ver. Outras reivindicações não são compatíveis com a Constituição. E, na Holanda, um primeiro-ministro não tem tanto poder quanto, por exemplo, a chanceler federal Angela Merkel na Alemanha.

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