Meio ambiente

Mudanças urbanas aceleram degradação de manguezais

Crescimento da cidade, sobretudo a partir da década de 1990, é a principal causa da degradação ambiental; diversos bairros avançaram sobre o ecossistema

Jock Dean / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Ao longo da Avenida Ferreira Gullar, parte do mangue já virou moradia e o que ainda resta é devastado por quem mora nas proximidades
Ao longo da Avenida Ferreira Gullar, parte do mangue já virou moradia e o que ainda resta é devastado por quem mora nas proximidades

SÃO LUÍS - De 1970 até 2015, a população de São Luís aumentou quase 300%. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população da capital era de 270.651 mil habitantes em 1970. A última estimativa populacional do órgão, divulgada em agosto do ano passado, apontou uma população de quase 1,1 milhão de habitantes. Somados os quatro municípios da Ilha, são mais de 1,4 milhão de moradores. Com o crescimento populacional, veio a necessidade de aumentar a infraestrutura da região metropolitana, o que desenfreou a deterioração dos manguezais.

Este crescimento populacional foi incentivado pela instalação de grandes empreendimentos econômicos que atraíram milhares de pessoas para a capital maranhense e cidades do seu entorno. No fim da década de 1990 e início dos anos 2000, com a paridade entre o dólar e o real, o Maranhão viveu novo boom econômico. Os principais empreendimentos industriais instalados na Ilha, como a Vale e a Alumar, duplicaram seus portos, novas empreiteiras se instalaram na capital maranhense e a agricultura também recebeu novo impulso.

A partir daí, São Luís entrou em um ritmo acelerado de crescimento urbano, econômico e populacional, e desde a década de 1990 a Grande Ilha perdeu metade da sua área de manguezais. “Isto aconteceu porque os manguezais se tornaram o lugar de excelência para os aterramentos necessários para dotar a cidade da infraestrutura necessária para esta nova realidade”, explica a bióloga Flávia Mochel.

Nos aterramentos feitos em áreas de mangue, foram construídos bairros inteiros, grandes avenidas para receber a frota de veículos cada vez mais crescente da cidade e outras obras públicas. “Desde a década de 1990 os impactos sobre os manguezais variaram e aumentaram em intensidade e área degradada. Naquela época, também havia mais ação por parte dos órgãos fiscalizadores, o que não observamos com o mesmo empenho atualmente”, ressalta a bióloga.

[e-s001]Pontos de degradação
E entre os diversos pontos de degradação de manguezais citados pela bióloga estão justamente áreas da cidade cuja urbanização se intensificou na década de 1990, consolidando-se com o boom imobiliário dos anos 2000, sejam eles bairros construídos ou surgidos da ocupação irregular. Bairros como Renascença, Ponta d’Areia, Lagoa da Jansen, Ilhinha e Calhau estão entre os que têm diversos pontos remanescentes de manguezais ameaçados ou já totalmente degradados. “A região do Parquinho da Litorânea, onde constantemente se vê esgoto escorrendo para o mar, ainda tem mangue remanescente da área que foi devastada para a urbanização da área com a construção de avenida, casas e hotéis”, conta Flávia Mochel.

Em pontos de ocupação urbana mais antiga, como o centro da cidade, o Portinho é um dos locais onde os manguezais foram mais devastados. A ocupação das margens do Rio das Bicas levou à deterioração dos mangues da região. Aliás, das 11 principais bacias hidrográficas da Grande Ilha, algumas sofreram mais os impactos da degradação da sua área de mangue por causa da urbanização, pois a partir dos anos 1960 a cidade começou a se expandir para além das bacias dos rios Anil e Bacanga, no Centro Histórico, onde até então se concentrava a população ludovicense.

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Rios mais afetados
A Bacia do Rio Bacanga foi a que mais perdeu manguezais, segundo a bióloga, sobretudo por causa do desenvolvimento da zona industrial. Sua área concentra 23,7% da população de São Luís, que reside em bairros como o Anjo da Guarda, Vila Embratel, Sá Viana, Vila Isabel e outros. O rio já teve um importante papel na alimentação da população carente e mesmo como meio de comunicação, quando a área em que se encontra restringia-se a pequenas comunidades de pescadores.

A segunda bacia que mais perdeu mangues foi a do Rio Anil. A Bacia do Rio Anil foi uma das que mais sofreu degradação ambiental devido, principalmente, ao grande crescimento populacional registrado entre as décadas de 1970 e 1990, quando ocorreu uma elevada expansão demográfica do centro de São Luís para o interior da ilha.

A Bacia do Rio Paciência também foi uma das que mais perdeu área de mangues. Ela é a maior bacia hidrográfica da Ilha de São Luís, que drena áreas entre os quatro municípios da Ilha – São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar. O processo de degradação ambiental na Bacia do Rio Paciência começa com sua ocupação em meados dos anos oitenta, seguindo-se a construção de grandes conjuntos habitacionais e numerosas invasões. Hoje o rio é um depósito de esgoto e lixo dos bairros da sua área de influência. “A Bacia do Rio Paciência está altamente assoreada”, destaca Flávia Mochel.

[e-s001]Mais recentemente, a Bacia do Rio Tibiri, que concentra bairros a partir da região da Forquilha, principalmente da Maioba até São José de Ribamar, se destacou como uma das mais afetadas. “Durante muito tempo foi uma bacia com pouco impacto ambiental, mas nos últimos 15 anos esta realidade tem mudado por causa do crescimento da atividade industria e urbano e do desmatamento para pequenas produções de leite e piscicultura no seu entorno”, explica Flávia Mochel.

Evolução populacional de São Luís (IBGE)
Anos população
1872-31.604
1890-29.308
1900-36.798
1920-52.929
1940-85.583
1950-119.785
1960-159.628
1970-270.651
1980-460.320
1991-695.199
2000-868.047
2010-1.014.837

Rede hidrográfica

A Ilha de São Luís apresenta um potencial hidrográfico muito grande, bem como um grande desafio para o planejamento e gestão dos recursos naturais. As principais bacias hidrográficas da Ilha são: Anil, Bacanga, Tibiri, Paciência, Cachorros, Estiva, Guarapiranga, Inhaúma, Itaqui, Geniparana, Santo Antônio e as microbacias da região litorânea. Sendo que os rios Anil, com 12,63 quilômetros de extensão, e Bacanga, com 233,84 quilômetros, drenam para a Baía São Marcos, tendo em seus estuários áreas cobertas de mangues. Ao todo, a Ilha de São Luís têm 12 mil hectares de manguezais.

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