Vida de pescador - 2ª parte

Barco e mar são extensões do pescador de Raposa

Passando um ou vários dias embarcados, trabalhadores estão prontos para ir atrás do pescado; eles levam carne, frango e farinha para se alimentar, mas não dispensam o peixe fresco escalado e assado no fogareiro

Adriano Martins Costa / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40

[e-s001]RAPOSA - O barco é a segunda casa de um pescador, já que ele passa dias e dias dentro do transporte, quando vai para o mar em busca do pescado. Também é como se fosse da família, um filho ou um segundo amor. Tanto que, quando perdeu sua embarcação, atropelada por um navio cargueiro, o pescador Jackson Gonçalves ficou vários dias pesaroso. “Era como se fosse alguém da família. Já tinha 10 anos que trabalhava com ela. Mas perdi o material, tudo, e aí senti um desgosto da vida”, conta o homem, que ficou uma noite inteira naufragado depois do acidente.

Antes de colocar o barco no mar, os pescadores de Raposa realizam uma série de ações que já estão enraizadas em cronograma, de tão repetitivas e há tanto tempo que fazem. Vistoriar o barco, colocar o óleo, preparar as redes, encher o barco de gelo, costurar os panos e, claro, não se pode esquecer do tonel de água doce (guarde bem este tonel, pois voltaremos a ele mais a diante) e da comida. Claro que, para um pescador, a principal comida é o peixe, pescado na hora, escalado e assado em um pequeno fogareiro artesanal, já preparado previamente, mas levam também um pouco de carne, frango e farinha. Muita farinha. “A gente leva só para variar um pouco, mas é tudo cheio de hormônio e agrotóxico. O peixe pescado na hora é bem melhor”, conta o pescador Rogério Costa Araújo.

O hospital do pescador é o mar. Depois que a água salgada corre na veia, ele não sente nada. Só vai sentir mais tarde, quando ficar velho”Jackson Gonçalves, 49 anos, pescador

No mar
Os barcos saem quase no mesmo dia para o mar. Segundo a pesquisadora Paula Verônica Campos Jorge Santos, mestre em Direito Ambiental e Políticas Públicas, grande parte dos pescadores não pernoita no mar. Cerca de metade deles vai e volta no mesmo dia.

Outros 39% pescam com uma frequência semanal,permanecendo cerca de cinco dias no mar e 10% pescam mensalmente, onde a estadia no mar pode perdurar por até 15 dias. Esse últimos, são menos frequentes, porque existe a necessidade de embarcações maiores, com mais autonomia, para permanências mais longas.

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Ainda assim, o menor dos barcos não se afasta menos do que seis quilômetros da costa. Clodoaldo do Espírito Santo, o “Pelado”, dono de uma embarcação média, com pouco mais de seis metros de comprimento, diz que o melhor lugar para se conseguir os peixes é depois do canal dos grandes navios cargueiros.

[e-s001]Segundo ele conta, os peixes costumam se esconder nos canais, por que são mais profundos, e garantem proteção, principalmente para as crias. Daí, os pescadores jogam as iscas, e preparam as redes. Numa boa pesca, de dois ou três dias, chegam a levar para casa até meia tonelada de pescado, dos mais diversos tipos. Mas essa quantidade de peixe está diminuindo, já que antes os barcos chegavam a pescar até mais de uma tonelada de pescados.

SAIBA MAIS

Os pescadores de Raposa geralmente utilizam dois tipos de rede com mais frequência. A rede serreira tem uma altura na água de aproximadamente 4m e comprimento variando de 800 m a 1600 m. A gozeira é uma rede colocada na superfície ou a meia água fixa à embarcação por um cabo de nylon. Seu comprimento pode variar de 300 m a 730 m e geralmente é manuseada
por três pescadores.

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