Oscar 2017

Esnobado pelo Oscar, Capitão Fantástico propõe boas reflexões

Indicado apenas ao prêmio de Melhor Ator, para Viggo Mortensen, filme é uma crítica a muitas práticas da vida em sociedade

Poliana Ribeiro, de OEstadoma.com

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Cena do filme Capitão Fantástico, com Viggo Mortensen, indicado ao Oscar de Melhor Ator
Cena do filme Capitão Fantástico, com Viggo Mortensen, indicado ao Oscar de Melhor Ator (capitão fantástico)

O radicalismo do personagem Ben (Viggo Mortensen) na criação dos filhos - a ponto de torná-los hábeis caçadores em uma floresta - pode chocar um pouco, mas muitas de suas ideias levam a reflexões importantes e necessárias em um mundo marcado pelo consumismo exacerbado e distanciamento social, mesmo dentro da própria família. Capitão Fantástico, dirigido por Matt Ross, é uma crítica ao sistema - sobretudo ao norte-americano - e, talvez por isso, tenha recebido apenas a indicação de Melhor Ator para Viggo Mortensen, no Oscar 2017.

Sem querer lançar holofotes sobre um filme que questiona muitos dos valores e comportamentos legitimados nos Estados Unidos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas - responsável pela maior premiação do cinema mundial - esnobou um filme de qualidade e conteúdo, mas que nem por isso deve ser deixado de lado pelo público. Ao contrário, Capitão Fantástico - em cartaz no Cine Praia Grande - deve ser visto e debatido - em escolas, por exemplo - porque tem muito a acrescentar. Como dito no início, os radicalismos existem, mas servem muito mais como recursos narrativos e dramáticos. O importante mesmo é entender a essência do longa-metragem.

Ben é seguidor das ideias do filósofo e linguista Noam Choamsky - norte-americano com produção profícua nas áreas de linguística e política, que defende a necessidade de nutrir o caráter libertário e criativo do ser humano – e centra sua vida no slogan "Todo poder aos povos. Abaixo o sistema". É com essa ideologia que cria os seis filhos, em uma casa no meio de uma floresta, estabelecendo o mínimo de contato possível com tudo o que está diretamente relacionado ao capitalismo. Bo (George MacKay), Vespyr (Annalise Basso), Kyerli (Samantha Isler), Zaja (Shree Crooks), Rellian (Nicholas Hamilton) e Nai (Charlie Shotwell) são educados em casa e aprendem muito mais do que os livros ensinam - embora também aprendam, verdadeiramente, o que os livros ensinam. Sabem caçar e preparar a caça para o consumo, escalar montanhas e, mais que isso, sobreviver.

Mas essa vida longe da “civilização” é ameaçada por uma tragédia familiar, e Ben terá que levar os filhos para a cidade, onde encontrará seu sogro, a personificação de tudo o que ele combate. Nesse encontro, esses dois mundos tão distintos se chocarão, mas o resultado, ao final de tudo, não será de todo negativo. O problema é que o caminho para se chegar a isso será tortuoso.

Há quem, talvez, torça a cara para Capitão Fantástico por achar que ele é um incentivo a ideias socialistas – o que apavora muitos dos capitalistas mais exacerbados -, mas a verdade é que o filme é bem mais que a propagação de algum tipo de ideologia. O próprio Ben, ao longo de sua jornada com os filhos, percebe que pode se adaptar a muita coisa sem perder sua essência, sem fazer tantas concessões. E essa é uma das maiores lições que o longa-metragem deixa ao final de sua exibição. O conflito é necessário porque leva a alguma outra coisa, por vezes melhor do que se acreditava até então.

Em um mundo tão polarizado, onde parece não sobrar espaço para meios termos, refletir sobre algumas práticas, dar oportunidade aos contrapontos é mais que necessário, imprescindível. Ben resolve não mandar os filhos para a escola – opta pela educação doméstica – sem considerar que a escola é muito mais do que local de aprendizagem de conteúdos formais, mas espaço de sociabilidade. Por outro lado, consegue que seus filhos tenham muito mais embasamento sobre diversos assuntos porque acompanha de perto a educação dos filhos – algo que muitos pais delegam completamente a professores.

Capitão Fantástico pode ser uma fagulha para o surgimento de novos modos de pensar o mundo, para o contato com reflexões e obras importantes, como a de Choamsky, ou pode ser um ponto de partida para uma aproximação maior entre pais e filhos, tomando como exemplo o personagem, sempre tão direto e verdadeiro com os filhos (o que para muitos pode até soar cruel). Ou pode ser apenas mero entretenimento. De qualquer maneira, a experiência vale a pena!

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