Vida de pescador - 1ª parte

Amor à profissão e perigo se unem no mar de Raposa

O que seria mais um tranquilo dia de pesca acabou com um barco destruído e dois pescadores no mar durante toda o dia e noite, à espera de outros barcos para lhes resgatar

Adriano Martins Costa / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41
Jackson conta a sua  aventura no mar  da área  de Raposa
Jackson conta a sua aventura no mar da área de Raposa (pescador Jackson)

RAPOSA - O pescador Jackson Gonçalves, de 49 anos, sempre sai para o mar pronto para encontrar a vida, mas na manhã de 9 de janeiro se deparou com a morte, quando sua embarcação foi atropelada por um enorme navio cargueiro em alto-mar. O Estado ouviu pescadores, foi para o mar e traz hoje a primeira parte da aventura no mar de Raposa.

Jackson é pescador há 28 anos, morava na liberdade e se mudou para a Raposa, porque ficou apaixonado pela pesca. Viu no então povoado, uma oportunidade de exercer sua paixão. No começo, até conseguiu um barco próprio, mas conta que a cachaça o “confiscou”. A partir daí, passou a trabalhar no barco de outras pessoas.

O esquema de divisão é meio a meio. O pescador pega o barco, vai para o mar e volta com o pescado. Em terra, ele e o dono do transporte vendem o peixe. Com o dinheiro em mãos, pagam as despesas com material, combustível, os vigias do barco, e o que sobra é dividido meio a meio. Geralmente, a sobra para ele não passa de 30% do total faturado.

No dia de seu acidente, ele saiu no barco com seu companheiro de pesca, Agnaldo. Foram para a região de pesca, que fica depois dos canais dos navios cargueiros. O tempo fechou e caiu uma chuva torrencial, daquelas em que não se consegue ver nada, nem mesmo um navio de mais de 100 metros de comprimento.

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Calmos, já que estavam acostumados a passar por esse tipo de tempestades, os dois começaram a recolher vagarosamente o equipamento de pesca, redes, peixes. Foi quando Jackson percebeu o navio, já prestes a se chocar com sua embarcação. “Quando apareceu já estava em cima, não deu tempo para nada, o tempo foi só no sentido de sobrevivência, para pular e avisar o companheiro”, contou o pescador.

O cargueiro avançou em alta velocidade e levou o pesqueiro. Quando voltou à superfície, Jackson só pensava no amigo de pesca e começou a gritar seu nome por alguns momentos até que o outro homem também retornou seu chamado.

Juntos, eles pegaram um pedaço da embarcação destruída e conceberam uma balsa, rudimentar, na qual passaram o resto do dia e a noite inteira. “Ficamos à deriva. Ia ser difícil ser resgatado naquela noite, por causa do tempo fechado. Passamos a noite toda dentro da água. Pela manhã, na hora das embarcações passarem, a primeira que surgiu levou a gente”, disse o homem.

Acostumado com o mar, ele sabia que ali onde estava era caminho dos barcos, só restava então esperar, e com a água batendo no peito, os dois ficaram horas e horas pensando nas famílias, nunca na morte. “Medo, a gente tem da morte, mas nessa hora não sentia medo, sentia falta dos meus filhos. Não tinha medo de morrer, ir embora. Tinha medo de deixar eles desamparados”, finalizou.

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