Insegurança

Atrás das grades: refém de assaltantes, periferia se protege

Uma, duas, três, até 15 vezes um comércio é alvo da ação inescrupulosa de marginais; para quem sofre os prejuízos e o medo constante de perder bens e até a vida, o jeito é se precaver, se escondendo atrás de alguma proteção

Adriano Martins Costa / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41
Domingos Brito vende pela portinhola
Domingos Brito vende pela portinhola

SÃO LUÍS - O estabelecimento comercial de Domingos Brito de Sena, na Estrada da Vitória, no bairro Vila Lobão, já foi assaltado 13 vezes. Há 15 anos ele trabalha lá, e na última vez, há cerca de um ano e três meses, resolveu fechá-lo, pois não aguentava mais. “Mas não tive condições de ficar sem trabalho. Tinha de sustentar minha família”, conta ele, que teve de reabrir o pequeno negócio.

A solução foi colocar grade em tudo. Desde então, é através das barras de ferro que Domingos atende seus clientes. Primeiro, atende ao pedido, recebe o dinheiro e repassa as compras por meio de uma portinhola feita exclusivamente para isso. Nesse tempo, até o fechamento desta edição e graças a Deus, não sofreu mais assaltos.

Rotina de medo
No bairro em que Domingos Brito mora, a Vila Lobão, todos os comércios são trancafiados dentro de grades, até mesmo a farmácia. E se alguém quiser um medicamento, tem de gritar pelo nome da atendente.

Segundo os comerciantes, os bandidos surgem a qualquer hora e qualquer dia, por isso não podem arriscar ficar sem a proteção. E na hora do assalto, eles utilizam principalmente armas de fogo, ou simulacros, que, com o pânico, não dá para diferenciar muito.

[e-s001]Presa em casa
Neide da Silva, de 72 anos, chegou à Rua do Codozinho, no bairro do Tirirical, lá pelos idos de 1972. Ela veio de Magalhães de Almeida (409 km de São Luís), na divisa com o Piauí, e se alojou em uma pequena casa de taipa, onde hoje é sua residência. Para sobreviver, passou a vender cocada na rua. Apurou um dinheiro, e começou a vender outros produtos, até que conseguiu montar o seu pequeno comércio. Isso foi há 40 anos.

Nesse tempo todo, a quitanda de dona Neide da Silva já foi assaltada, roubada e invadida várias vezes. Há cinco anos ela começou a colocar grade em tudo. Primeiro, fechou apenas a bancada em que atendia os clientes e também ficava o caixa. Mas os marginais apareciam e metiam a mão para roubar. Foi então que colocou mais grades, cercando tudo e deixando apenas um pequeno espaço para os clientes circularem.

A medida dificultou um pouco para o crime, mas não o extinguiu de vez. Depois disso, chegaram a invadir o comércio pelo telhado e levaram vários produtos. A medida foi colocar laje em tudo.
Depois, ainda teve um assalto a mão armada. O criminoso se aproximou do caixa, como um cliente, mostrou a arma e disse que queria o dinheiro. “Da primeira vez, fiquei com medo e em choque e dei o que ele pediu, mas ele voltou uma segunda vez e aí o enfrentei. Depois disso, nunca mais ele voltou”, conta a senhora. Mais tarde, o assaltante teria morrido em um embate com a polícia.

Para Neide da Silva, no entanto, o que mais pesa é a falta de contato físico com os clientes, a maioria seus vizinhos, que agora ela vê somente através das grades, como se estivesse presa. “No começo, os clientes reclamaram, mas não posso fazer nada. Tinha de zelar pela minha segurança”, afirmou.

O Estado manteve contato com o Governo do Estado, para saber que tipo de atividades são feitas para coibir as ações criminosas na periferia da cidade, mas até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

SAIBA MAIS

Há pelo menos 14 anos O Estado mostra em reportagens que os comerciantes de São Luís estão se trancando para poderem exercer seu trabalho.
Em 2004, foi mostrado que, na Liberdade, Socorro Rocha, proprietária de um minimercado, teve de comprometer parte do lucro com equipamentos de segurança e câmeras, além dos portões. Anjo da Guarda e Vinhais também tinham comércios revestidos com barras de ferro para evitar assaltos.
Dois anos depois, em 2006, foi a vez da população do Monte Castelo estar na reportagem. Na época, papelarias, videolocadoras, mercados e até um salão de beleza ficavam trancados no cadeado. Em 2007, foram visitados João de Deus, Anjo da Guarda, Liberdade e Vila Embratel, todos eles com os comércios fechados.
Já em 2009, foi relatado o drama dos comerciantes da Cohab, que utilizavam, além dos gradeados em todo o estabelecimento, segurança armada, câmeras internas e externas e alarmes.

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