Abandono

Praça Deodoro é imagem do caos e descaso público

Suja, repleta de bancas do comércio ambulante, sem espaço para frequentadores sentarem e, em alguns pontos, até andarem, logradouro está esquecido pelo poder público e com estrutura física comprometida

Jock Dean / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41
Calçamento danificado na praça e entulho na raiz da árvore deixam cenário de sujeira e abandono
Calçamento danificado na praça e entulho na raiz da árvore deixam cenário de sujeira e abandono

SÃO LUÍS - As praças deveriam ser espaços de convivência entre os cidadãos, mas não é isso o que se observa em muitos dos logradouros do tipo, em São Luís. A Praça Deodoro, uma das mais tradicionais e movimentadas do centro da capital, é ponto de convergência para a maioria das linhas de ônibus que circulam pela cidade e demais municípios da Ilha. Por isso, milhares de moradores dos mais diversos bairros da região metropolitana circulam por ela diariamente e observam a constante degradação do local.

A estrutura física da praça está comprometida. As árvores perecem por causa da ação do tempo e da falta de conservação. O comércio que se instalou na área piora a poluição visual da paisagem urbana. E o trânsito intenso torna o cenário ainda mais entristecedor.

[e-s001]Não precisa andar muito pelo logradouro para observar a precariedade do local. Próximo ao semáforo do cruzamento da Avenida Gomes de Castro com a Rua do Passeio, um trecho do piso foi removido. Sem a proteção do concreto, o terreno erodiu, as raízes de uma árvore que fica no local ficaram expostas e, após tantos dias seguidos de chuva, o que se vê é uma grande poça de lama. “Isso está assim há pelo menos cinco meses. Foi piorando aos poucos, e a chuva forte está esburacando ainda mais”, é o que conta a vendedora Anelise Feitosa, que tem uma banca em frente à poça.

Mas este não é o único ponto da praça em que a pavimentação e os equipamentos urbanos estão comprometidos. Várias lixeiras da praça estão danificadas e a população e comerciantes acabam jogando o lixo no chão ou deixando os sacos aos pés das luminárias do local. Em diversas partes há buracos no calçamento que oferecem riscos para as pessoas que caminham pela praça. “É feio o estado em que a praça se encontra. Tudo desorganizado e sujo”, reclama a dona de casa Áurea Maria Ferreira.

[e-s001]Comércio
Se os buracos no calçamento e o acúmulo de lixo prejudicam o espaço que deveria ser destinado ao passeio de pessoas, outro problema contribui para deixar a situação ainda complicada. Hoje, a Praça Deodoro é ocupada por comerciantes dos mais variados setores. São vendedores de lanches dos mais variados tipos, chips para celular, bancas de revistas, bijuterias, artesanato, vestuário, calçado, bolsas, relógios, óculos de grau e de sol piratas, refrigerante, água, bebidas alcoólicas, refeições, eletroeletrônicos, brinquedos, flores e mudas de plantas. Há ainda tendas para tatuagens e colocação de piercing, relojoeiro, produtos naturais e suplementos para nutrição desportiva.

Com a ocupação do espaço público pelo comércio, falta espaço para os frequentadores. Até os bancos que deveriam ser destinados para o descanso ou contemplação da paisagem pela população, são ocupados pelos comerciantes.

E não é apenas a falta de espaço para sentar que causa indignação aos frequentadores da praça. Muitos comerciantes que hoje ocupam a Praça Deodoro têm a autorização da Prefeitura de São Luís. Outros foram transferidos da Praça da Alegria para a Deodoro quando aquela passou por reforma há cerca de três anos. Há, ainda, comerciantes que se estabeleceram no lugar por conta própria, por causa do aumento do desemprego.

[e-s001]Abandono
Há ainda bancas de jornais, revistas lanches e outros tipos de comércio, abandonadas. A estrutura de uma tenda também ocupa a praça. Situações que contribui para o “inchaço” da região.
“Nos últimos anos, a praça ficou ainda mais ocupada. E é uma ocupação que ocorre de forma desordenada. Não sei se impedir o comércio seria correto, mas acho que, se reformassem e organizassem o espaço para que comerciantes e frequentadores pudessem usar de forma harmoniosa, já melhoraria muito”, diz o comerciante Anísio Diniz.

Enquanto muitos cidadãos reclamam da falta espaço para sentar, em um dos trechos da Praça Deodoro vários bancos de pedra estão jogados, amontoados, sem nenhum cuidado, enquanto o mato cresce no seu entorno e o lixo se acumula.

Se o cidadão que estiver de passagem sentir vontade de ir ao banheiro, terá de optar em andar até o comércio mais próximo e pedir para usar o vaso sanitário, esperar até chegar em casa ou encarar o banheiro sujo, sem água e papel do coreto da praça. Em uma das portas que dava acesso a um dos lavabos, é possível ver sujeira de todo tipo. A estrutura não passa por obras de reforma ou manutenção há vários anos e se desgasta com o tempo e a ação de vândalos.

[e-s001]Trânsito
Todo este cenário é completado com o tráfego cada vez mais intenso e sempre engarrafado nas vias no entorno da praça – as avendias Gomes de Castro e Silva Maia, ruas Rio Branco, do Passeio, da Paz e do Sol. A barulheira causada pelas buzinas é o reflexo do estresse dos condutores que trafegam pela região.

A lentidão do trânsito aumenta por causa da presença dos táxis-lotação, os populares carrinhos, que fazem fila dupla no cruzamento da Gomes de Castro com a descida da Rio Branco e congestionam ainda mais o tráfego. “É preciso ter muita paciência para trafegar por aqui, porque se o trânsito em São Luís já é complicado, aqui é mil vezes pior”, disse o motorista Claudionor Viana.

Fechando o cenário de descaso e abandono da região, cartazes colados em qualquer lugar, sem nenhum tipo de padronização, a falta de vagas para estacionamento, a presença de placas dos mais diversos tipos de serviços oferecidos por comerciantes do local e a falta de manutenção de árvores consideradas centenárias aumentam a poluição visual e sonora, contribuindo para a degradação da paisagem urbana.

O Estado entrou em contato com a Prefeitura de São Luís para saber se há algum projeto de disciplinamento do espaço urbano da Praça Deodoro, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.

SAIBA MAIS

A Praça Deodoro está incluída no projeto de revitalização da Rua Grande, cuja ordem de serviço foi assinada em abril de 2015, mas as obras ainda não foram iniciadas. As obras de requalificação urbanística incluem ainda as praças Deodoro, Pantheon e suas alamedas (avenidas Silva Maia e Gomes de Castro). Para isso, foram feitas diversas pesquisas históricas para que a área retome ao máximo suas características originais.
A Praça Deodoro fica em uma área conhecida antigamente como Campo do Ourique, que ia até a Rua de Santaninha. Naquela área ficava o antigo quartel da cidade, que foi demolido e em sua área foi construído o Liceu Maranhense. Depois, toda a região foi sendo ocupada pelos diversos prédios que existem ali hoje, como a Biblioteca Pública Benedito Leite, agências bancárias e outros.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a obra de revitalização da Rua Grande possui os recursos garantidos, está com os projetos elaborados e a previsão para o início de sua execução é para o mês de março deste ano.

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