Aventuras

Quando o repórter fotográfico vira o foco da notícia

José de Jesus Moreira da Penha ou De Jesus, como assina suas fotos,trabalha há 30 anos em O Estado, tempo em que viveu muitas histórias curiosas e até perigosas

Adriano Martins Costa - Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41
Fotógrafo De Jesus já viveu muitas experiências na profissão
Fotógrafo De Jesus já viveu muitas experiências na profissão (De jesus h)

O repórter fotográfico de O Estado José de Jesus Moreira da Penha, ou simplesmente De Jesus, como assina em suas imagens, completou 30 anos de casa em 2016. E nesse tempo coleciona histórias que merecem ser contadas.

De Jesus entrou para o mundo da fotografia no ano de 1982, na extinta profissão de laboratorista fotográfico. E caso você não saiba o que é um laboratorista, basta dizer que ele é quem imprimia as fotos antigamente. Também ampliava as imagens, revelava filmes coloridos, preto e branco, dispositivos e negativos, preparava equipamentos e soluções químicas. Numa época em que os computadores estavam apenas engatinhando e uma foto não levava menos de três horas para ficar pronta.

Em 1986, ele foi contratado para ser laboratorista de O Estado, mas ficou apenas dois meses no cargo, porque descobriu que em vez de revelar as fotos o que realmente queria era fotografar. Começou timidamente, cobrindo um ou outro buraco, quando o fotógrafo do jornal faltava. “Eu trabalhava à noite. Às vezes, surgia um acidente, um evento, e eu ia lá e fazia. Foi quando surgiu uma vaga e eu falei para o diretor do jornal que a queria”, relembra De Jesus.

Fotógrafo oficial daquele que já era o maior jornal impresso do Maranhão, De Jesus viajou por todo o estado fazendo reportagens. Havia meses em que ele passava até 18 dias longe de casa. Numa dessas viagens viu a morte de perto, pela primeira vez.

Ele e o repórter José Reinaldo Martins foram a Barreirinhas para uma reportagem especial. Na volta, pela estrada de piçarra, nas proximidades do município de Urbano Santos, o carro em que estava foi cortado por um ônibus. O motorista do jornal perdeu o controle do veículo, que capotou seis vezes. De Jesus sacou de dentro da cabine e parou oito metros adiante, perto de uma cerca. Desmaiou ali mesmo.

Acordou com o motorista lhe chamando. Todo doído, não conseguia nem se colocar de pé. Quebrou um braço, duas costelas e teve cortes por todo o corpo. Por sorte, ou intervenção superior, não teve mais escoriações ou sequelas, e depois de oito dias internado já estava em casa e pronto para o trabalho. O mesmo não pôde dizer seu colega repórter, que, antes de ter alta médica, ficou em coma, na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), por vários dias.

Fogo

Anos depois, já recuperado do acidente, De Jesus já estava de volta à estrada, como sempre fez. Dessa vez, o trajeto era uma descida em uma tradicional balsa de madeira e palha pelo Rio Balsas, na Região Tocantina. A ocasião era de festa. Dezenas de autoridades presentes, comida, bebida e coisas tais. De Jesus estava justamente na balsa que também servia de cozinha quando percebeu que estava vazando gás do botijão. Mas não deu nem tempo de avisar: o fogo já veio em sua direção e ele colocou a mão para se proteger das chamas.

Mas a intensidade do fogo era tanta que saiu queimando mãos, rosto, costas. No ímpeto, ainda tentou se salvar se jogando no rio, mas foi impedido por um deputado. “O fogo já tinha passado, mas eu não tinha percebido”, conta.

Com queimaduras de 3º grau, De Jesus foi colocado em uma moto aquática e encaminhado para o hospital na cidade. Lá, foi medicado e retornou para o hotel, quando se lembrou do seu equipamento. A máquina fotográfica era uma das mais modernas, até então. O primeiro equipamento digital da empresa. Não teve dúvidas: pegou um mototáxi e foi até a beira do rio, o mais próximo que podia do acidente, para tentar encontrar alguém e rever a câmera. Por sorte, já haviam guardado e ensacado o material.

No dia seguinte, pegou um avião, pago pelo jornal, e voltou a São Luís, onde terminou o tratamento das queimaduras. Nesse tempo, só desesperou-se em um momento, no hotel, quando se viu pela primeira vez no espelho e percebeu a gravidade de seus ferimentos. “Eu consegui dormir, mas acordei no meio da noite e fui ao banheiro. No espelho, vi o meu rosto, e ali me deu vontade de chorar em pensar que nunca mais iria ficar bom de novo”, conta.

O desespero durou pouco. Hoje, ele guarda poucas marcas do acidente com fogo, que faz questão de narrar de forma alegre.

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