SÃO LUÍS - Uma casa pode ter muitos segredos. Voltar ao lugar onde se passou a infância nem sempre pode ser uma tarefa agradável e cheia de afetos. Ter um encontro com o passado pode trazer de volta à superfície dores e dramas que fazem sangrar. É mais ou menos assim a relação de pai e filha retratada no filme “Clarisse (ou alguma coisa sobre nós dois)”, do cineasta cearense Petrus Cariry. A obra teve sua estreia nacional na última quinta-feira, 2, e, em São Luís, segue em cartaz no Cine Praia Grande e no Centerplex.

Com uma carreira bem-sucedida em festivais no ano passado, com prêmios como Melhor longa-metragem cearense de 2016 de acordo com a Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine), entre vários outros prêmios, o filme encerra a trilogia do cineasta, iniciada com “O Grão” (2007), passando por “Mãe e Filha” (2011). Todos são interligados com a essência da morte, de encerramento de ciclos e não é um filme tão fácil para o grande público, mas é uma obra a que é impossível ficar indiferente.

Cheio de metáforas, com poucos diálogos (que são concebidos de forma quase teatral), uma fotografia mais sombria e uma trilha de suspense, o filme consegue traduzir o desconforto pelos quais passam os personagens em um reencontro necessário.

Na trama, Clarisse (Sabrina Greve), é uma mulher rica, casada com um executivo estrangeiro. Mãe de uma menina, ela tem a vida tranquila, porém, isso nem chega perto da vaga lembrança de felicidade. Em um relacionamento apenas conveniente, Clarisse sangra. O sangue sai dos seus ouvidos, do seu nariz, no seu suor, como se de alguma forma isso a pudesse liberar das toxinas e do fardo da vida em que se encontra.

Um dia, ela precisa viajar de Fortaleza para a cidade de Maranguape, para visitar o pai moribundo (Everaldo Pontes), visita que também tem relação com um documento que ela precisa pegar com o pai para entregar ao marido, que cuida atualmente dos negócios da família.

Durante essa visita, nos corredores do casarão decadente, os fantasmas que atormentam pai e filha ganham força, enquanto o tempo corrói os dois. Fotografias e gravações trazem de volta à cena a mãe morta ainda na infância da menina, a falta de carinho do pai, as lembranças do irmão que morreu após uma brincadeira de roleta russa, e mostram que em uma relação entre pai e filha pode caber muito mais mágoas que uma vida pode suportar, mas que enfrentar é um desafio libertador para que os ciclos sejam fechados e todos os fantasmas possam descansar em paz.

Neste jogo cênico, a morte aparece em vários lugares, seja no sacrifício de animais para as refeições, no estado de abandono de um casarão, no corpo cada dia mais fraco do pai ou ainda nas aparições quase fantasmagóricas da empregada Caetana (Verônica Cavalcanti), que é responsável por cuidar da casa e também por confrontar Clarisse, com uma realidade que ela ainda não conhece.

Vale destacar as boas atuações de Sabrina Greve e de Everaldo Pontes, nas quais é possível perceber uma entrega honesta para defender personagens tão complexos. É, sem nenhuma dúvida, uma obra para ser apreciada com atenção e que tira o público da sua zona de conforto.

Serviço

Filme

“Clarisse (ou alguma coisa sobre nós dois)”

Onde

Cine Praia Grande e Centerplex

Sessões

No Centerplex (Pátio Norte). Sala 5. Sessões. 18h45. No Cine Praia Grande. Sessões. 14h45 (quinta, segunda e quarta), 16h50 (sexta, sábado e terça) e 20h10 ( quinta, domingo e quarta)

Classificação: 16 anos.

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