Gastos

Acidentes de trânsito fazem crescer custos sociais para o Estado

Último levantamento divulgado pelo ONSV é referente ao ano de 2014 e mostra que o custo social dos sinistros no trânsito para o Estado do Maranhão foi de superior a R$ 2.300 bilhões

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41
Acidentes geram gastos cada vez maiores  em socorro e  assistência  social
Acidentes geram gastos cada vez maiores em socorro e assistência social (acidente)

SÃO LUÍS - Setenta e oito pessoas morreram no trânsito da Região Metropolitana de São Luís em 2016. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP­MA), por meio do seu relatório quantitativo diário de crimes violentos e outras mortes. Mesmo com fiscalização e leis de tolerância zero com motoristas imprudentes, a violência nas estradas e nas vias de tráfego urbanas tem crescido em todo o Brasil. E o impacto dos números, no entanto, não se dá apenas na vida dos que foram marcados pelos episódios. Enquanto a população é vítima do trânsito, órgãos públicos carregam o ônus dos gastos cada vez maiores em socorro e assistência social.

É o que mostram dados do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), uma organização não governamental, sem fins lucrativos, dedicada a desenvolver ações que contribuam de maneira efetiva, para a diminuição dos elevados índices de acidentes no trânsito brasileiro, sendo reconhecido pelo Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), atuando muito mais do que como um órgão consultivo.

O último levantamento divulgado pelo órgão é referente ao ano de 2014 e mostra que o custo social dos acidentes de trânsito para o Estado do Maranhão foi de superior a R$ 2.300 bilhões e que este total vem subindo anualmente, pelo menos desde o ano de 2005, quando o custo social em decorrência dos acidentes de trânsito foi de R$ 717.610 milhões.

Custos sociais
Quando uma pessoa – seja condutor, passageiro ou pedestre – sofre um acidente de trânsito, ela necessita de atendimento médico-hospitalar. Dependendo da gravidade, terá de passar por cirurgias, receberá medicamentos e, se requerer, receberá a indenização prevista no Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) e outros. “As despesas pagas diretamente pelo Sistema Único de Saúde [SUS] e pelo Seguro DPVAT são os chamados custos sociais”, explica a médica especialista em medicina do tráfego, Rita Camarão.

Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), também referentes ao ano de 2014, os acidentes nas rodovias federais brasileiras somaram R$ 12 bilhões em custos sociais. O resultado da pesquisa divulgado naquele ano pela PRF, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontou que um acidente fatal gera um custo médio de R$ 647 mil, enquanto o acidente com vítima gera um custo de R$ 90 mil. Os acidentes sem vítimas ficam em R$ 23 mil. A análise dos custos sociais mostra a importância das ações que têm por objetivo reduzir os índices de letalidade no trânsito.

Mas Rita Camarão destaca que, além das despesas pagas diretamente pelo SUS, há outras que não são contabilizadas. “Se essa pessoa acidentada precisa se afastar do trabalho, recebendo algum tipo de benefício, seja do INSS ou de algum plano privado, se ela se aposenta por invalidez ou necessita de qualquer auxílio decorrente dos traumas deste acidente, ela também gera custos”, informa.

Rita Camarão chama atenção também para outro dado: a maioria das mortes no trânsito é de homens jovens. “São homens em idade produtiva que se acidentam gravemente e deixam de manter suas famílias. Então, além da dor da perda de um ente querido, dos transtornos afetivos e emocionais que decorrem de um acidente, ainda há os custos que o Estado arca em decorrência destes acidentes”, frisa.

Perigo sobre duas rodas
Ainda de acordo com a médica, esse aumento é reflexo do crescimento da frota e do número de condutores nos últimos anos. E ela chama atenção para um grupo específico. “Os motociclistas são principais envolvidos em acidentes de trânsito no Maranhão. Eles são os que mais lotam as enfermarias dos hospitais e são também as principais vítimas fatais”, destaca.

Os dados do observatório mostram que, em 2014, morreram três vezes mais motociclistas que o total de vítimas dos demais tipos de veículos catalogados: automóveis, bicicletas, ônibus, caminhões, além de pedestres.

Em 2014, reportagem publicada por O Estado mostrava que 60% das vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), em São Luís, somente de janeiro a outubro, eram motociclistas. A estatística não incluía dados referentes ao mês de julho daquele ano.

Dados mais recentes atestam esta realidade. Em 2016, foram pagas quase 12 mil indenizações pelo Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), no Maranhão, de acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda. E acidentes envolvendo motocicletas representaram mais de 80% deste total.

Frota
Atualmente, mais da metade da frota de veículos do estado é de motocicleta. Mas até março de 2016, em 214 dos 217 municípios maranhenses, o número de motocicletas ultrapassava a quantidade de carros. Os únicos três municípios em que a frota de carros é maior que a de motocicletas são São Luís, São José de Ribamar e Paço do Lumiar. São Luís é a maior frota do estado, representando cerca de 25% do total de veículos que circulam pelo Maranhão. A capital tem ainda a maior frota de motocicletas, eram quase 94 mil até março de 2016.

Em 2012, um relatório do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) já apontava o Maranhão como o estado brasileiro com o maior percentual proporcional de motocicletas em circulação em relação à proporção do país. Naquele ano, no Maranhão, essa proporção chegava a 49,57% do total da frota de veículos. Dados do Detran mostram que pelo menos desde 2007, as motocicletas representam a maioria dos veículos novos que entraram em circulação no estado.

Consequências
As consequências do crescimento da frota, do número de acidentes e dos custos sociais são sentidos por toda a população nas áreas da saúde, trânsito, entre outras, segundo Rita Camarão. “A primeira conseqüência do crescimento as frota são os engarrafamentos, o trânsito mais lento e o estresse do condutor e passageiros. Em caso de acidentes, são emergências hospitalares lotadas, filas de espera por cirurgias, macas nos corredores, leitos insuficientes para todos os pacientes, médicos também em número menor que a demanda”, afirma.

A solução para este problema, aponta a especialista, é aumentar a educação para o trânsito, a fiscalização e a punição. “A falha humana é a principal causa de acidentes de trânsito. A maioria dos acidentes acontece porque o condutor tem uma prática de tráfego que é diferente da teoria da autoescola, ou seja, ele dirige desrespeitando o Código de Trânsito. É o condutor que trafega pela esquerda e ultrapassa pela direita, que dirige com excesso de velocidade, não respeita a faixa de pedestres entre outros desrespeitos”, afirma.

SAIBA MAIS

Acidentes em 2016

O número de óbitos no trânsito em 2016 (78) é 4% maior que o de 2015, quando 75 pessoas morreram e bem inferior a 2014, que registrou 94 mortes. Desse total de mortos, 77 foram classificados como mortes acidentais, em que o autor não teve a intenção de matar. Apesar das reduções expressivas, os dados ainda são preocupantes. A quantidade de óbitos ocasionados por atropelamentos preocupa. Segundo as estatísticas, 42,3% das mortes se deram por atropelamentos, 38,46% resultaram de colisões e os choques ocasionaram 14,1% dos falecimentos. Outros 5,2% das vítimas morreram em capotamentos, quedas de motocicleta e derrapagens.
Além das causas dos acidentes, outro dado que preocupa diz respeito ao perfil das vítimas. 61,52% dos mortos são jovens até 40 anos de idade, comum destaque para a faixa etária entre 21 e 30 anos, que concentra 28,2% de todos os mortos. Uma criança de três anos de idade também entrou para a estatística, além de outros 9 jovens entre 11 e 20 anos de idade. Os idosos correspondem a 11,53% dos mortos no trânsito, incluindo um senhor de 90 anos. Homens também são as maiores vítimas, 80,76%.

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