George Vidor

Em zigue-zague

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41

A sensação no momento é que estamos naquela típica marcha da insensatez. No Brasil, uma democracia, que mal saíra da fase de engatinhar, mostra-se apodrecida; a peneira para separar o joio do trigo terá que ser necessariamente muito fina, pois a sensação é que não sobra ninguém. Em relação aos agentes econômicos, a sensação é a mesma: embora o mundo dos negócios nunca tenha sido um convento de freiras, pois a regra do jogo é passar a perna no outro, as revelações são de estarrecer qualquer um. A impressão é que a economia é movida somente por cafajestes.
Chegou-se a esse ponto por falta de instituições sérias ou porque a sociedade sempre teve alguma tolerância com o "rouba mas faz", estilo atribuído a Adhemar de Barros (célebre governador de São Paulo, aliado de Getúlio Vargas, que chegou a concorrer à Presidência da República, disputando com Jânio Quadros e o marechal Lott)? Sérgio Cabral fez um governo bem acima da média para os padrões do Estado do Rio. Cercou-se de muita gente séria e respeitável, camuflando os que não eram tanto. Está em Bangu 8 por causa de uma vida paralela que ele jamais conseguirá justificar nem a seu confessor.
Mas como a vida anda em zigue-zague, não é só ladeira abaixo, talvez tudo isso possa redundar em um novo ciclo, em que a questão ética venha a ter realmente valor. O mundo também está nesse zigue-zague. Por enquanto a impressão é que lá fora está tudo ladeira abaixo. Como, se temos hoje comunicação instantânea, vivemos mais e temos acesso a comodidades que ninguém, nem os mais ousados futurólogos, foram capaz de imaginar há 50 anos? Vamos em frente, mas em zigue-zague.
Angustiante
Somos vítimas da nossa própria vaidade, e não é preciso recorrer a um Nietzsche para amparar essa obviedade, tamanhas são as evidências. Dela não escapam nem São Francisco ou o Dalai Lama. A vaidade de Eike Batista o destruiu empresarialmente. Mas há muitos exemplos na história brasileira de pessoas com trajetória similar que deixaram legados importantes. Não deixamos de reverenciar o Barão de Mauá. Perto dele Eike foi um pobre amador, diria Tom Jobim (desculpem a forma que encontrei de homenagear nosso saudoso genial maestro numa coluna de economia). E isso sem falar no incompreendido americano Percival Farquhar que construiu portos e ferrovias pela América Latina, entre as quais a incrível Madeira-Mamoré.
Da fogueira das vaidades de Eike restaram legados importantes de infraestrutura, como o complexo industrial-portuário do Açu e o Porto do Sudeste. Restaram a exploração do gás natural em terra no Maranhão e usinas termoelétricas. E talvez, da antiga OGX, ainda possa emergir uma razoável companhia petrolífera quando se iniciar a produção de óleo pesado nos dois campos do pós-sal na Bacia de Santos. Sem os milhões de reais de contribuições financeiras recebidas de Eike, agora as UPPs cariocas vão mal das pernas. E a Lagoa Rodrigo de Freitas vai precisar de um outro mecenas.
O objetivo da nota não é a defesa de Eike, que passará bom tempo enroscado e enriquecendo advogados criminalistas. A pergunta é: só é possível fazer grandes negócios no Brasil caindo na corrupção, distribuindo propinas a torto e direito? E tudo isso por mera vaidade? Será mesmo a insustentável leveza do ser?

Antena
No relatório que prepara para seus clientes ao redor do planeta com previsões para 2017, a PwC chama atenção para o impacto de eleições gerais este ano especialmente na Europa: serão realizadas em 12 países que respondem por 70% da economia da zona do euro (sendo Alemanha, França e Itália os principais). Mesmo assim, espera-se que o emprego atinja um patamar histórico na zona do euro, com mais de 97 milhões de postos de trabalho. Além de China e Índia, que continuarão liderando as taxas de crescimento econômico, a PwC destaca a Indonésia, que este ano deverá se tornar a décima sexta economia do mundo, com uma população de 200 milhões, menos 7 milhões que o Brasil.

Bolsas e bolsas
Não é uma crítica, só uma observação: todo mundo sabe que a capacidade de as mulheres armazenarem calçados e bolsas é quase infinita! Mas é uma impossibilidade física, ainda que sempre exista o risco de todos os armários da casa passarem a ter essa finalidade. Pensando em resolver o problema, uma start-up (BoBAGS), fundada por Isabel Braga, criou um mercado virtual de revenda e aluguel de bolsas. No ano passado, cem mulheres participaram, movimentando o equivalente a R$ 200 mil. O negócio de Isabel já tem um investidor-anjo (chamados assim aqueles que aportam capital em empreendimentos iniciais, sem participar diretamente da administração e nem da responsabilidade de compromissos assumidos). Em tempo: uma pesquisa nos Estados Unidos mostrou que as mulheres não usam 70% das bolsas que estão em seus armários. Muitas dessas bolsas esquecidas custam hoje em torno de R$ 2 mil no mercado virtual. Então...

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