Trégua

Rússia, Turquia e Irã chegam a acordo para consolidar cessar-fogo na Síria

Desde a entrada em vigor do cessar-fogo, em 30 de dezembro, a violência no país diminuiu, mas não cessou completamente

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41
Diálogo de paz no Cazaquistão teve poucos avanços em direção a solução definitiva
Diálogo de paz no Cazaquistão teve poucos avanços em direção a solução definitiva (Jihadistas do Estado Islâmico exibem suas armas e bandeiras do grupo em comboio em uma estrada de Raqqa, na Síria)

CAAQUISTÃO- Os patrocinadores dos diálogos de paz de Astana, Rússia, Turquia e Irã, chegaram a um acordo ontem para consolidar o cessar-fogo na Síria, mas poucos avanços foram feitos em direção a a uma solução para o conflito ao final de uma reunião de dois dias.

Os três países concordaram em "estabelecer um mecanismo para vigiar e garantir a completa aplicação do cessar-fogo e para evitar qualquer provocação" na Síria, disse o ministro cazaque das Relações Exteriores, Kairat Abdrajmanov, ao ler a declaração final adotada pelos participantes após dois dias de discussões na capital do Cazaquistão.

O mecanismo responde aos desejos do enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, e é apoiado pelos rebeldes, que esperam um congelamento das operações militares, principalmente em Wadi Barada, uma zona-chave para o abastecimento de água de Damasco, onde os combates prosseguiram na madrugada de segunda-feira.

Os três países afirmaram que são a favor da participação dos rebeldes sírios nos próximos diálogos de paz, que devem acontecer em Genebra, em 8 de fevereiro, patrocinados pela ONU.

Sobre o acordo, o "grupo operacional" deve começar seu trabalho "a partir de fevereiro em Astana", com o objetivo de "supervisionar o cessar-fogo", explicou o enviado especial do presidente russo Vladimir Putin para a Síria, Alexandre Lavrentiev, considerando "globalmente positivo" o resultado dessas negociações que aconteceram, segundo ele, na presença de "especialistas militares" russos.

Além disso, a Rússia entregou um rascunho de Constituição para a Síria à delegação rebelde para acelerar as negociações políticas e terminar com o conflito, segundo informou o enviado especial do Kremlin. "Fizemos isso exclusivamente para acelerar o processo e acabar com a guerra", explicou. Contudo, uma fonte da delegação rebelde disse à AFP que este projeto foi rejeitado.

'Sem solução militar'

Rússia, Turquia e Irã, que assumiram as rédeas do dossiê sírio ao obterem no final de 2016 um cessar-fogo entre o exército do presidente Bashar al-Assad e os grupos rebeldes, reiteraram "que não há solução militar para o conflito, que só pode ser resolvido por meio de um processo político".

Desde a entrada em vigor do cessar-fogo, em 30 de dezembro, a violência no país diminuiu, mas não cessou completamente.

Assim, em Wadi Barada, os combates prosseguiram na madrugada de segunda-feira, enquanto os rebeldes insistem no fato de que "o principal obstáculo ao êxito das negociações são as reiteradas violações (da trégua) e a ameaça de deslocamentos forçados em certas zonas".

"A operação do exército sírio vai continuar enquanto os terroristas continuarem a privar de água" os sete milhões de habitantes da capital, martelou, por sua vez, o negociador-chefe do regime, Bashar Jaafari.

Contudo, ele saudou o fato de que "a reunião de Astana conseguiu alcançar o objetivo de consolidar o cessar-fogo por um período de tempo, mostrando o caminho para um diálogo entre os sírios".

Por sua parte, o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, assegurou que a ONU estava "pronta para ajudar (...) no desenvolvimento do mecanismo trilateral e para garantir o reforço e a qualidade do cessar-fogo".

Dificuldades

Mas após mais de cinco anos de uma guerra que já fez mais de 310.000 mortos, a reunião de Astana mostrou que é mais fácil para Moscou obter vitórias militares, como em Aleppo - que foi completamente recuperada pelas forças sírias - do que restabelecer a paz.

Neste sentido, a declaração final do encontro não foi assinada pelas duas delegações sírias, que se recusaram a negociar diretamente.

O chefe da delegação rebelde em Astana, Mohammad Allouche, acusou o regime sírio e o Irã de serem responsáveis pela falta de "progressos tangíveis" nas negociações, as primeiras organizadas desde o início da guerra entre representantes de Damasco e dos líderes militares rebeldes, à frente de milhares de combatentes.

"Até o momento, não houve nenhum progresso tangível nas negociações em razão da intransigência do Irã e do regime" sírio, acusou Allouche ao final de dois dias de negociações.

Em compensação, elogiou o fato de ter a chance de falar diretamente com os russos. "Confirmamos a vontade dos rebeldes de por fim ao derramamento de sangue na Síria e seus esforços a fim de encontrar uma solução", explicou.

Paralelamente, a ONU lançou um apelo nesta terça-feira aos países doadores a fornecer 4,6 bilhões de dólares adicionais para ajudar os milhões de sírios refugiados nos países vizinhos.

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