Referências

Era uma vez no bairro Camboa

Bairro passou por modificações ao longo dos anos, mas algumas brincadeiras de crianças ainda são constantes

José Louzeiro Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h42
Hábito e empinar papagaios continua vivo em bairro de São Luís
Hábito e empinar papagaios continua vivo em bairro de São Luís (Menino empina papagaio)

Outro dia, por obra do acaso, com certo empurrão de Ednalva Tavares, eis-me de volta à Camboa em meio aos meus pensamentos. Quanta modificação!

Mas os personagens do meu tempo são os mesmos; mantêm-se indestrutíveis: registraram-se grandes mudanças na arquitetura dos trens, mas o lugarzinho chamado Camboa permanece num desafio à minha capacidade histórica.

Na memória, estive bem perto do que hoje está bem longe fisicamente de mim: empinação de papagaios e curicas, a latinha de cerol, sorrateiramente produzida entre os vidrinhos mais caros que mamãe mantinha reservados no seu armário de obras da vidraçaria.

Não demorava muito, lá estava ela procurando pelo vidrinho de Phymatosan, que já destruímos com todas as letras.

Dona Raimunda, pequenina e paciente, não discutia com os sumidores de vidros, pois sabia onde chegaria se resolvesse, num acesso de loucura, reunir algumas obras que, em dado momento, ainda mantinha numa prateleira especial, pois o restante da vidraçaria andava com os dias contados e disso ninguém podia saber.

Os vidros de perfume eram os primeiros a entrar na fila dos objetos preferidos. Reconheço certa maldade, quando temos que fazer uso urgente de certos perfumes, a fim de esmigalhar sem dó o seu encantador recipiente.

Por essa época, até eu tinha condição de transformar objetos caseiros em peças que durante semanas me espiavam de cima do guarda-roupa ou da cômoda.

Este exercício era mantido em segredo, aliás, nosso parceiro era tio Bernardo, nas temporadas em que se mantinha fora do hospício e eu brincava com ele, geralmente de “esconder”, entre as peças que faltavam ser trabalhadas pelos pedreiros.

Diversão
Nós nos divertíamos e o maior da turma que era o Zeca, fazia a dança da piçarra, que deixava seu Aproniano fora dos trilhos. E quanto mais ele se indignava, mais entusiasmo dava à nossa turminha do barulho.

Em dia de molecada na obra perto do Colégio, eu tinha que ter cuidado para que o sucesso da turma não ardesse no nosso couro, e tal era o cinismo que os apontados como grandes culpados, eram na verdade os filhos na maratona que sabiam fazer a trampolinagem que raramente eram pegos, embora fossem mais do que conhecidos.

Os responsáveis pelas embromagens sabiam se esconder atrás das pipas e arraias.

Saiba mais

As aventuras descritas nas memórias do escritor inspiraram o livro “A Gang do Beijo”, de sua autoria, no qual cita as brincadeiras das crianças de São Luís nas décadas de 1930 e 1940. O livro foi lançado pela editora Ediouro. Além deles, os amigos peraltas de São Luís também aparecem em outras obras do escritor como “Ritinha Temporal” e “O Bezerro de Ouro-uma aventura da gang do beijo”. Desta vez, os meninos se envolvem num grande projeto chamado "Cara-metade" e numa história que mistura folclore, um boi premiado, uma passagem bíblica e muito suspense. Novamente, o colégio São Luís é cenário de acontecimentos misteriosos, que só serão desvendados por quem tiver muita astúcia. Coisa que a Gang do Beijo tem de sobra.

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