Crise

Ministro diz que estados devem fazer sua parte e não esperar apenas pela União

Atualizada em 11/10/2022 às 12h42
Henrique Meireles exorta governadores a tomar medidas para enfrentar a crise
Henrique Meireles exorta governadores a tomar medidas para enfrentar a crise (Henrique Meireles, ministro da Fazenda)

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, demonstrou estar sensível à situação de crise financeira dos Estados, mas usou tom duro ao citar que a solução para o problema não virá apenas da União. "Não deve haver a ilusão de que tudo virá da ajuda federal.

A União não criou essa situação para os Estados", disse o ministro. "É importante não transferir responsabilidades para a União."

A declaração de Meireles é, em certa medida, uma resposta ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que, em entrevista ao jornal espanhol El país, semana passada, jogou no governo Temer a responsabilidade pela solução da crise.

Ao repetir que está preocupado com as contas estaduais, Meirelles citou que o governo trabalha para oferecer ajuda aos governadores "o mais rápido possível desde que se obedeça a Lei e não prejudique o ajuste federal".

O ministro reafirmou que eventual socorro não poderá ameaçar o ajuste que a equipe econômica tem feito nas contas federais. "Estados enfrentam um problema sério, mas a União também".

Meirelles defendeu mais uma vez a importância do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), cujo texto alterado na Câmara foi vetado pelo presidente Michel Temer. "O Regime será um mecanismo importante para organização desse processo de ajuste dos Estados Mas o veto se deu há poucos dias. Então, temos de fazer um trabalho rápido de novo", disse, ao citar a chance de reapresentar o texto ao Congresso.

Meirelles também afirmou que o governo federal está "preocupadíssimo" com a situação financeira dos Estados. Diante dessa situação, a União estuda maneiras de ajudar emergencialmente governadores que enfrentam quadro mais crítico. Eventual socorro, porém, terá de seguir necessariamente dois pontos: respeitar o ajuste fiscal federal e ter parâmetro legal

"Estamos preocupadíssimos com todos os Estados e estudamos todas as alternativas. Estamos procurando formas para que o governo conceda alguma ajuda, mas dentro das limitações da dívida pública federal", disse Meirelles, após cerimônia que oficializou a entrada do Brasil no Clube de Paris - grupo de credores internacionais. Imediatamente, lembrou o ministro, não há respaldo legal para iniciativas como nova carência da dívida. "Não há caminho jurídico para permitir o adiamento dos pagamentos dos Estados".

Não deve haver a ilusão de que tudo virá da ajuda federal. A União não criou essa situação para os Estados. É importante não transferir responsabilidades para a União."Henrique Meireles, ministro da Fazenda

O ministro explicou que eventual ajuda não poderá ir na contramão do esforço fiscal do governo federal. "Se sacrificarmos o fiscal para ajudar os Estados, vamos estar impedindo o ajuste federal. Isso não é solução", disse.

Meirelles citou que alguns Estados têm apresentado soluções individuais e a equipe econômica tem avaliado caso a caso. Essas soluções, lembrou o ministro, têm de respeitar a legislação. Ele lembrou o caso do Rio de Janeiro que teve ajuda emergencial antes da Olimpíada. Nesse caso, citou, o Tribunal de Contas da União foi consultado previamente.

Henrique Meirelles, disse que o controle da inflação está sendo eficaz. Para o ministro, com a queda da inflação e uma perspectiva de retomada da economia, a tendência é de queda da taxa de juros.

"A retomada da economia é parte importante do processo, ninguém vai investir recursos de longo prazo numa economia que está numa trajetória de falta de crescimento. Na medida em que estamos fazendo o ajuste fiscal e resolvendo as questões macroeconômicas brasileiras, isso faz com que a taxa de juro estrutural da economia caia, que é o chamado risco Brasil. O importante é o patamar da taxa estrutural", frisou Meirelles.

O presidente Michel Temer, por sua vez, destacou que o governo cogita "outras hipóteses de concessão", mas não entrou em detalhes. "O Estado não pode fazer tudo sozinho, tem de fazer com a colaboração da sociedade e da iniciativa privada", comentou Temer. "O crescimento virá, a confiança vai sendo restabelecida com muita força".

Na conversa com repórteres, o presidente negou que tenha adotado medidas intervencionistas, frisando que o governo tem mantido longas conversas com o setor financeiro na elaboração de propostas econômicas. "Não há nenhuma intervenção nem administrativa nem legislativa, é acordado", disse Temer.

Mais

Na entrevista de final de ano, Meirelles comemorou a redução da inflação no mês de dezembro, mas ressalvou que uma aceleração do ritmo de corte das taxas de juros é algo a ser decidido pelo Banco Central. Meirelles reiterou que foi presidente do BC por oito anos e sempre considerou que o Ministério da Fazenda não deveria fazer declaração pública sobre juros. "No momento que estou na Fazenda, me cumpre a adotar a mesma medida", disse. O ministro disse acreditar que o BC tem condições de adotar a mesma decisão


Ministro defende regime fiscal


O ministro da Fazenda, fez uma forte defesa do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) para os Estados, cujo texto modificado pela Câmara foi vetado pelo presidente Michel Temer. Para o ministro, o regime especial para Estados com problema de solvência traz uma solução mais ampla aos Estados que a simples renegociação das dívidas.

"É uma recuperação judicial e não a postergação do problema. Portanto, é importante que o plano de recuperação seja integralmente adotado", disse Meirelles, em entrevista coletiva após a oficialização da entrada do Brasil no Clube de Paris. O texto do projeto deverá ser reapresentado pelo governo ao Congresso após a eleição da Mesa Diretora das duas casas no início de fevereiro. Para ingressar ao RRF, lembrou o ministro, o Estado precisa cumprir uma série de parâmetros, como estar em situação de insolvência.

O ministro lembrou que o RRF previa suspensão de pagamentos dos compromissos estaduais com a União por três anos e venda de ativos dos Estados. "Mas como a Câmara eliminou as contrapartidas, teremos apenas a postergação da dívida", disse, ao comentar que foi sancionada apenas a renegociação da dívida em até 20 anos - texto aprovado integralmente pelos deputados.

Nesse projeto, há basicamente apenas uma contrapartida que é atrelar o aumento dos gastos públicos à inflação por dois anos.

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