Saúde precária

Mulher morre por falta de ambulância para o socorro

Vanilde Ferreira, de 52 anos, que morava em Bacabeira e precisava vir a São Luís frequentemente para sessões de hemodiálise, passou mal domingo e não havia ambulância para transportá-la; drama da paciente foi denunciado por O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h42
Vanilde Ferreira na última viagem que fez para São Luís em ambulância, sem enfermeiro, dia 23 deste mês
Vanilde Ferreira na última viagem que fez para São Luís em ambulância, sem enfermeiro, dia 23 deste mês (Vanilde Ferreira)

Na sexta-feira, dia 23, O Estado acompanhou o drama de Vanilde Ferreira, de 52, que tinha um problema nos rins e precisava vir três vezes por semana de Bacabeira, sua cidade, para São Luís, para as sessões de hemodiálise.Todas as vezes, ela enfrentava a viagem em uma ambulância em condições precárias. Ontem, de madrugada, Vanilde faleceu. E os seus parentes acreditam que foi a falta do transporte que contribuiu para o óbito.

Maria do Rosário Ferreira, irmã de Vanilde, foi quem esteve ontem no Instituto Médico Legal (IML) para liberar o corpo. Chorando muito e indignada com a situação, ela contou que na tarde do domingo de Natal, Vanilde começou a passar mal. Além dos problemas nos rins, ela sofria com hipertensão. No hospital, o médico que lhe atendeu foi enfático: ela tinha que vir para a capital para poder sobreviver.

Mas não tinha uma ambulância disponível na cidade para carregá-la. A cidade tem apenas dois veículos. Um deles já estava para São Luís com outro paciente, o outro estaria indisponível. A solução foi colocar Vanilde em um carro de passeio e trazê-la para um hospital na cidade. O cunhado e a irmã vieram juntos. “Foi complicado colocar alguém que está passando mal, que precisa de um acompanhamento, de atendimento, dentro de um carro pequeno e vir para cá”, afirmou o cunhado Fabiano.

No caminho, eles conseguiram socorro no posto do Corpo de Bombeiros no povoado de Periz de Baixo. Lá, os socorristas atenderam a mulher e a trouxeram para São Luís na ambulância disponível no posto. Ela chegou a um hospital de emergência localizado no Distrito Industrial e seria transferida para o Socorrão, para uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), mas faleceu por volta das 2h de ontem.

Negligência

De acordo com Maria do Rosário, ela soube, enquanto Vanilde ainda estava viva, que a ambulância que estava na cidade não podia ser utilizada, pois estava suja e o posto de lavagem estava com os serviços suspensos. Ou seja, o veículo que poderia salvar uma vida estava inutilizado por conta de negligência.“A gente soube que a ambulância não podia levar minha irmã porque estava suja. Isso não pode”, afirmou, revoltada.

Segundo o presidente do Sindicato dos Condutores de Ambulância do Maranhão (Sindconam-MA), Fernando França,mesmo que a ambulância estivesse disponível, não daria para realizar os procedimentos de emergência no transporte, já que os cilindros de oxigênio estão todos vazios. “A paciente teve que ser removida em carro pequeno, sem acompanhamento de especialistas da saúde e sem oxigênio, isto porque a outra ambulância estava suja e o posto de lavagem suspendeu o serviço. É inadmissível que uma ambulância deixe de atender por falta de um local para lavar”, reagiu.

Problema

A precariedade das ambulâncias em todo o Maranhão já foi abordado em várias reportagens feitas por O Estado. São veículos mal adaptados, com giroflex danificados, aparelhos de ar-condicionado que não funcionam, falta de equipamentos de proteção individual e tanques de oxigênio vazios, muita das vezes amarrados a bancos, com ataduras, cordas ou qualquer outro fio. Cadeiras improvisadas, macas e bancos rasgados, quebrados ou insuficientes são comuns, assim como janelas e portas quebradas, amarradas ou inoperantes.

Fora isso, a maioria das ambulâncias existentes nos municípios do interior do estado, circulam apenas com o motorista, sem enfermeiro ou mesmo o técnico de enfermagem, obrigatórios em veículos desse tipo, segundo o Ministério da Saúde.

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