Mensagem

Em mensagem interna, Janot diz que Lava Jato "desagrada estrutura de poder"

Segundo procurador-geral da República, o momento é "grave e decisivo" para o futuro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h42
Janot mandou mensagem em comemoração ao Dia Nacional do Ministério Público
Janot mandou mensagem em comemoração ao Dia Nacional do Ministério Público (Rodrigo Janot também criticou articulação por Caixa 2)

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou mensagem pela rede interna de procuradores da República na noite desta quarta-feira, 14, na qual afirma que a Lava Jato tem desagradado "parte da estrutura de poder" e diz que há reações contra o Ministério Público em razão das investigações realizadas.

"Muitas forças se levantam contra o Ministério Público nesse momento, não por seus eventuais erros, mas pelo acerto de seu trabalho. Fazer parte desse processo, que representa mudança de cultura e progresso social, sempre e necessariamente, contraria fortes interesses dos que se habituaram a tirar proveito de um sistema, em sua maior parte, corrompido. A reação é, muitas vezes, desproporcional", escreveu Janot.

Segundo ele, o momento é "grave e decisivo" para o futuro. "Às milhares de ações que fazem parte de nosso cotidiano veio se somar a maior e mais complexa investigação criminal de que se tem conhecimento, que avança e desagrada parte da estrutura de poder. Esse processo, necessário para a consolidação da democracia, das instituições e da própria República, jamais transcorreria sem tribulações para o país e, particularmente, para o próprio Ministério Público", escreveu Janot.

A mensagem foi enviada em comemoração ao Dia Nacional do Ministério Público, à noite. Também no início da noite, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou novamente colocar na pauta de votação o projeto que prevê crime de abuso de autoridade para magistrados e membros do Ministério Público. A inclusão do texto na pauta do Senado, neste momento, é algo visto pelo MP como uma retaliação da classe política aos trabalhos de investigação do Ministério Público.

Na mensagem, Janot cita como exemplo das "reações" contra o MP os "inúmeros projetos de lei, pautados ou aprovados nos últimos dias e especialmente nas últimas horas, a toque de caixa, contendo institutos e instrumentos que podem servir para coartar a Instituição ou que, de alguma maneira, afetam o exercício eficiente das nossas atribuições". "Nenhum deles jamais teve o meu apoio", disse Janot.

Retaliação

No início do mês, após a Câmara votar o pacote anticorrupção com alterações no texto enviado pelo Ministério Público, Janot disse ao jornal O Estado de S.Paulo que as 10 medidas contra a corrupção "morreram". Na mensagem aos procuradores, Janot afirmou que "ameaças de retaliação e revanchismo" não podem desviar os integrantes da instituição do trabalho realizado.

"A Lava Jato é fato que se impõe a todos. Prosseguir é, sobretudo, um dever institucional. Exercer o munus de conduzir uma investigação de combate à corrupção de tamanha magnitude requer serenidade, profissionalismo e, acima de tudo, resiliência", escreveu. Após a votação do pacote anticorrupção na Câmara, a Força-Tarefa da Lava Jato ameaçou renunciar caso o texto fosse sancionado. Janot minimizou as declarações do grupo e disse, em entrevista, que podem ter sido dadas "no calor da notícia".

Na mensagem desta quarta-feira, o procurador-geral pediu coragem aos integrantes do MP. "É preciso coragem para agir, apesar dos desígnios contrários à nossa atuação institucional. Coragem que sei existir em cada um de nós. Coragem que dignifica e permite acreditarmos em um amanhã melhor para o nosso País. A hora é de nos mantermos firmes no bom combate. A hora é de sermos o Ministério Público do primeiro dia de trabalho. Ainda há muito por fazer. E faremos.", escreveu.

Na segunda-feira, Janot recebeu do Planalto e da Advocacia-Geral da União um requerimento para dar celeridade às investigações da Lava Jato, após o vazamento de parte da negociação de delação premiada da Odebrecht, que atinge a cúpula do governo. A base aliada do presidente Michel Temer tem defendido que a delação da Odebrecht seja anulada. O procurador-geral da República não deu nenhuma resposta pública ao Planalto, mas em nota sobre outro assunto divulgada na terça-feira a PGR informou que as investigações obedecem a "tempo próprio".

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