Violência agrária

Conselho relata crueldade e diz que 6 índios foram mortos em menos de 90 dias no MA

Conselho missionário fala em 12 mortes no ano e ONU alerta para “riscos mais graves desde a adoção da Constituição de 1988

OESTADOMA.COM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43
a foto, sem camisa, José Dias Guajajara, um dos assassinados nos últimos 90 dias
a foto, sem camisa, José Dias Guajajara, um dos assassinados nos últimos 90 dias (INDIOS ASSASSINADOS )

SÃO LUÍS – Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, Em menos de 90 dias, seis indígenas foram assassinados no estado. O conselho afirma que as mortes se deram por causa da luta dos indígenas em defesa das terras tradicionais. Levantamento do Cimi aponta que chega ao menos a 12 o número de homicídios contra indígenas neste ano, quantidade que supera anos anteriores. O conselho detalha em seu site como algumas destas mortes foram violência, como em um caso que um Guajajara foi encontrado, em Barra do Corda, com a língua decepada e a pele do rosto arrancada.

Recentemente, um relatório do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (UNHRC) informou que o Maranhão é o estado do Brasil que apresenta o maior número de conflitos indígenas. A relatora da ONU, Victoria Tauli-Corpuz, ressaltou que os povos indígenas brasileiros enfrentam atualmente riscos mais graves do que em qualquer outro momento desde a adoção da Constituição de 1988.

Em reportagem publicada em sua página na internet, o conselho indígena divulgou que os seis mortos recentemente são moradores de aldeias das terras indígenas Bacurizinho, Cana Brava e Morro Branco, localizadas nos municípios de Grajaú e Barra do Corda. Segundo a reportagem, os Guajajara encontram-se assustados e falam de ameaças permanentes de não-índios, incluindo os que ainda se encontram no interior das terras indígenas. Os indígenas dizem ter medo de declarações públicas.

Conforme apuração do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, o primeiro assassinato desta série ocorreu no dia 23 de setembro; o último em 26 de novembro, mas ambos na aldeia Travessia, TI Cana Brava, envolvendo lideranças destacadas dos Guajajara na luta em defesa da demarcação da terra tradicional e a retirada de invasores de dentro de seus limites.

Assassinatos

José Queirós Guajajara, 45 anos, foi encontrado morto às 5 horas do dia 23 num açude próximo à aldeia Nova. A família suspeita que ele foi morto eletrocutado nas redes elétricas do açude, dada as marcas de queimadura no corpo. Informações dão conta de que um fazendeiro tramou a morte, já que o açude se encontra dentro da terra indígena e não deveria ter redes elétricas.

"O indígena era um lutador em defesa da terra indígena, contra a retirada ilegal de madeira e despertava muita raiva em quem vivia dessa atividade ilegal", explica a direção regional do Cimi. Já no último sábado (26) o cacique José Colírio Oliveira Guajajara, da aldeia Travessia, foi morto com um tiro à queima roupa na frente da família em um crime de emboscada. O cacique era a principal liderança da aldeia contra invasores.

Um dia antes da morte do cacique, na sexta-feira (25) o corpo do técnico de enfermagem Hugo Pompeu Guajajara foi encontrado em Barra do Corda com a língua decepada e a pele do rosto arrancada. O indígena morava em uma das aldeias da TI Cana Brava, às margens da BR-226. Segundo o Cimi, decepar membros dos corpos é uma característica comum a outros assassinatos da série.

"A notícia nos abateu profundamente. Estávamos cuidando de obter informações de dois outros assassinatos de Guajajara, ocorrido desde o início da semana, quando ficamos sabendo. Foi aberto inquérito", explica o regional do Cimi. No dia 5 de novembro, Lopes de Sousa Guajajara, de 16 anos, da TI Morro Branco, foi encontrado morto no rio Grajaú. O corpo estava com ponta do pênis e as orelhas decepados.

No dia 21 de novembro, José Dias de Oliveira Lopes Guajajara foi encontrado morto no Rio Mearim. O corpo apresentava sinais de estrangulamento, sangramento na nuca e parte da pele do rosto arrancada. A filha informou ao Ministério Público Federal (MPF) de Imperatriz que o indígena vinha recebendo ameaças indiretas de Ednewton Fontenele Viana, entregues sempre por Francisco Pereira dos Santos.

Divino Carvalho Guajajara, 18 anos, morador da aldeia Taboca, TI Bacurizinho, terminou assassinado no dia 29 de outubro. O jovem foi morto a facadas por um não-indígena que morava na aldeia por ser casado com uma indígena.

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