Editorial

O sonho da Chape não pode acabar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43

Quis o destino que o jogo mais importante do único clube de uma cidade catarinense de pouco mais de 210 mil habitantes ocorresse longe de casa. Em Medellín, na Colômbia. Quem poderia imaginar que um time tão simpático, um São Caetano da década de 2010, acabasse de uma hora para outra. De um sonho a um pesadelo. A história da Chape daria um livro que, sem dúvida, não merecia (e não merece ter nas últimas linhas) um final como este, em um acidente aéreo.

O povo brasileiro acordou nas primeiras horas de ontem, 29, tentando entender um fato que, de tão súbito, parecia não ter acontecido. Clubes de futebol do país e do restante do mundo “abandonaram” suas cores, distintivos e tradições e se vestiram de verde e branco. As cores da Chape. As cores do mundo. Até mesmo o Sport Club Corinthians Paulista, que renegava a plenos pulmões a cor verde, se “rendeu” à comoção mundial.

Quantas famílias, quantos sonhos destruídos num único voo! De um Cléber Santana, veterano meia e capitão do time que passou por grandes clubes - como o Atlético de Madrid (ESP) - a um meia talentoso como Thiaguinho que, com sua canhota, tinha tanto futuro pela frente. Tudo acabou. De uma hora para outra e de uma forma tão súbita como a ascensão do time que, em sete anos, deixou a série D para o sonho de duelar com o atual campeão da América e um dos melhores do continente.

A frase que melhor representa o momento da Chape foi dita por Caio Júnior, o talentoso treinador da equipe também foi vítima da tragédia. Ele disse após a classificação contra o San Lorenzo (Argentina), na Copa Sul-Americana: “Se eu morrer hoje, morreria feliz com o que fizemos com a Chape”. Parecia uma premonição. Não, era apenas a exposição da alegria de um homem que, com 51 anos de idade, dizia ter assumido o melhor time de sua carreira.

O clima na cidade entre os moradores é de perda de entes familiares. E não é exagero pensar assim. Afinal de contas, a cidade de Chapecó (SC) sempre respirou o time, mesmo nos momentos mais difíceis. O orgulho da Chapecoense era proporcional à admiração de seus rivais pela administração racional realizada há vários anos no clube, que sanou suas dívidas, ampliou sua arrecadação e se tornou o time de campanha mais regular das últimas três edições da Série A do Brasileiro.

Até mesmo a tradição maranhense de fabricar pés de obra também foi atingida, com a perda do meia Ananias, com passagens por clubes como Sport (PE) e Portuguesa (SP). Ele, que construiu a classificação do time na fase anterior da Sul-Americana contra o San Lorenzo, marcando um gol na partida de ida, deixou há vários anos uma família na capital maranhense e também foi atrás de seu sonho de conquistar títulos e dar melhor condição de vida para seus parentes.

Diante da tragédia, os clubes brasileiros se uniram e ofereceram à Chape jogadores e a anistia para não ser rebaixado nos próximos anos. Que a CBF tenha bom senso e apenas reconheça o pedido. Nada mais justo para um recomeço.

Recomeçar. Este será o principal verbo a ser conjugado pela Chapecoense daqui para frente. Uma nova história dura, difícil em meio às lágrimas. Que não será apenas a recuperação de um time de futebol, mas da autoestima de uma cidade, de um país abalado por uma tragédia.

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