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Triunfo de Fillon pode debilitar a extrema-direita francesa

A presidente do partido Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, não esperou o anúncio da vitória de Fillon nas primárias da direita para partir para o ataque

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43

Paris - A extrema-direita francesa tem multiplicado os ataques contra François Fillon, o novo candidato da direita para a eleição presidencial de 2017, cujo discurso firme e conservador poderia seduzir uma parte do seu eleitorado.

A presidente do partido Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, que, de acordo com todas as pesquisas, estaria no segundo turno da eleição presidencial, não esperou o anúncio da vitória de Fillon nas primárias da direita para partir para o ataque.

"É o pior programa de fratura social que já existiu (...) nunca antes um candidato foi tão longe em submeter-se às exigências ultraliberais da União Europeia", declarou Le Pen no domingo, referindo-se ao programa claramente liberal do candidato da direita.

Se chegar à presidência da França em maio do próximo ano, Fillon promete suprimir meio milhão de empregos do funcionalismo público, cortar 100 bilhões em gastos públicos, eliminar o imposto sobre as grandes fortunas e aumentar o IVA em dois pontos.

Para a FN, seu melhor rival teria sido Alain Juppé, um candidato mais moderado, derrotado no domingo por Fillon. Com ele, "nós enfrentávamos um adversário claro em termos de nossas diferenças", admitiu esta semana Marion Marechal-Le Pen, sobrinha de Marine Le Pen e estrela em ascensão do partido. "É uma complexidade adicional para nós", admitiu.

A linha dura de Fillon na luta contra o extremismo islamita e a imigração poderia seduzir uma parte do eleitorado da direita mais radical e frear a ascensão da FN.

"Quando entra na casa de outra pessoa, por cortesia, não toma o poder", afirmou Fillon durante um debate na semana passada, estimando que os estrangeiros que chegam na França devem "integrar-se" na sociedade francesa. A "França não é uma nação multicultural", considerou.

'Frente republicana'
Fillon, que publicou há alguns meses um livro intitulado "Vaincre le totalitarisme islamique" ("Derrotar o totalitarismo Islâmico", em tradução livre) quer estabelecer quotas de imigração para limitar "a um mínimo".

Além disso, a visão conservadora da sociedade deste católico praticante, de 62 anos, filho de um notário provincial, também poderia cativar uma parte do eleitoral ultra-tradicionalista histórico do FN.

De acordo com as últimas pesquisas, François Fillon captaria mais votos do que Marine Le Pen no primeiro turno da eleição presidencial, em 23 de abril de 2017. Até recentemente, todas as pesquisas apontavam Le Pen em primeiro lugar.

Mas as pesquisas podem estar erradas. Além disso, alguns observadores acreditam que a estratégia de Fillon poderia ser contraproducente a longo prazo.

Segundo turno

Em 2002, quando o fundador da FN, Jean-Marie Le Pen, alcançou pela primeira vez o segundo turno das eleições presidenciais, para surpresa de todos, contra um candidato de direita, Jacques Chirac, a esquerda francesa se resignou a votar neste último, para evitar que a FN chegasse ao poder.

A chamada "frente republicana" voltou com força durante as eleições regionais de 2015 para evitar que a FN, que liderou o primeiro turno com 28% dos votos, não conquistasse uma única região.

Mas o discurso 'thatcheriano' de Francois Fillon e sua visão conservadora poderia atrofiar esse mecanismo.

Alguns partidários de esquerda participaram neste domingo nas primárias da direita, abertas a todos os franceses, para evitar que o ex-primeiro-ministro fosse nomeado.

Fillon representa o "catolicismo integral", uma "segunda faixa da extrema-direita" e, basicamente, "o mesmo que Marine Le Pen", estima Stéphane Lavignotte, um eleitor que votou nos subúrbios de Paris.

Mas para o cientista político Jean-Yves Camus, "a frente republicana vai funcionar". "Eu não vejo os franceses elegendo Marine Le Pen como presidente", disse ele.

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