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Juiz da lava Jato critica articulações para anistiar crimes de caixa 2

Sérgio Moro emitiu nota pública em que mostra preocupação com os processos já julgados ou em curso, sobretudo os que tratam da operação do qual é coordenador

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43
Moro preocupa-se com articulação da Câmara dos Deputados, que pode resultar em riscos para a lava Jato
Moro preocupa-se com articulação da Câmara dos Deputados, que pode resultar em riscos para a lava Jato (Sérgio moro mostra preocupação com anistia a Caixa 2)

BRASÍLIA - O juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, emitiu nesta quinta-feira (24) uma nota pública em que contesta as possíveis articulações para anistiar o crime de caixa 2 no projeto que estabelece medidas contra a corrupção (PL 4850/16), em debate na Câmara dos Deputados. O magistrado responsável pelos processos em primeira instância da Operação Lava Jato disse sentir-se "obrigado a vir a público manifestar-se a respeito, considerando o possível impacto nos processos já julgados ou em curso".

Moro afirma na nota que "toda anistia é questionável, pois estimula o desprezo à lei e gera desconfiança". Por isso, segundo ele, a possibilidade de anistiar os crimes de doações eleitorais não registradas deveria ser "amplamente discutida com a população" e "objeto de intensa deliberação parlamentar".

O juiz disse, ainda, estar preocupado com a possibilidade de que a anistia ao caixa 2 beneficie infratores que tenham praticado corrupção e lavagem de dinheiro justamente através de doações eleitorais. "Impactaria não só as investigações e os processos já julgados no âmbito da operação Lava Jato, mas a integridade e a credibilidade, interna e externa, do Estado de Direito e da democracia brasileira", argumentou.

Ao encerrar a nota, Sergio Moro afirmou ter "esperança" de que a medida não será aprovada pelos "nossos representantes eleitos, zelosos de suas elevadas responsabilidades".

O caixa 2 eleitoral está em debate na Câmara dos Deputados, que vota hoje (24) em plenário as medidas anticorrupção, no Projeto de Lei (PL 4.850/16). A criminalização da prática foi incluída no texto do relator Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Ontem (23), ele e o presidente da comissão especial que analisou o PL, deputado Joaquim Passarinho (PSD-PA), divulgaram uma nota em que manifestaram repúdio contra uma suposta manobra para tentar anistiar a prática de caixa 2.

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quinta que não vê brechas para uma anistia ao caixa 2 praticado antes da possível aprovação desta lei. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que há "forçação na expressão anistia de caixa 2".

Os procuradores da força-tarefa que investiga os crimes apurados no âmbito da Operação Lava Jato também manifestaram preocupação com a hipótese de o Congresso Nacional aprovar mudanças legislativas que, para eles, ameaçam o combate à corrupção.

Deputados decidem adiar votação na Câmara

Na tarde desta quinta-feira (2$), após a polêmica que tomou conta da Câmara dos Deputados em torno da proposta de criminalizar o caixa 2, o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu adiar a votação do pacote de medidas contra a corrupção.

De acordo com Maia, a votação será reiniciada na próxima terça-feira (29). Para Rodrigo Maia, é necessário que a votação na próxima terça-feira aconteça de forma “democrática”, e frisou que o plenário tem independência para votar toda e qualquer matéria, e que ninguém tem direito de se sentir ofendido com uma decisão.

"O nosso plenário tem independência para votar todas matéria, para aprovar ou rejeitar qualquer texto e ninguém pode se sentir ofendido com essa decisão. Em nenhum momento, ouviram da minha boca que haveria numa votação importante como essa qualquer pegadinha. [...] Então, assim será feita essa votação", disse Maia.

Maia prosseguiu: "A nossa obrigação é, de cabeça erguida, discutir essa matéria que eu disse desde o início que, votada na comissão, estaria pronta para ser votada no plenário em seguida. E vamos acabar com essa discussão de anistia. Não há anistia de um crime que não existe. Isso é só um jogo de palavras para desmoralizar e enfraquecer o parlamento brasileiro. Temos a nossa responsabilidade e de hoje até terça-feira, ouvindo todos os líderes, todos os parlamentares que quiserem participar, e ouvindo os presidentes de partido, nós vamos tomar uma decisão sobre essa matéria", afirmou.

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