Má utilização

Em São Luís, quase 70% da água são desperdiçados

Ligações clandestinas e “gatos” são as principais formas adotadas por usuários para fraudar o sistema e ter o abastecimento garantido em suas casas, o que provoca prejuízos para o sistema e inviabiliza investimentos

Jock Dean / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43
Torneira com água jorrando é uma das formas de desperdício
Torneira com água jorrando é uma das formas de desperdício (Desperdício de água)

A falta d’água nas torneiras é uma reclamação constante da população de São Luís. O abastecimento nos bairros da capital é feito de forma alternada, ou como dizem os moradores: tem água dia sim e dia não. Mas algumas localidades passam dias sem abastecimento. Essa realidade poderia ser diferente se quase 70% da água não fosse desperdiçada em São Luís. Os dados são do Ministério das Cidades, por meio do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e o Índice de Perdas de Faturamento Total (IPFT), que estima o quantitativo de água potável que foi produzida, mas não faturada. As ligações clandestinas são a principal causa de desperdício.

O estado do Maranhão tem uma perda total de água superior a 64,52%, e São Luís uma média de 68,61%. Por causa do desperdício, São Luís figura no 4º lugar entre as capitais do ranking nacional dos piores índices de perdas de faturamento total, ficando atrás das cidades de Manaus (AM), Macapá (AP) e Porto Velho (RO).

As ligações clandestinas de água estão entre os maiores problemas que afetam o setor de distribuição do líquido na cidade, segundo a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema). Ainda segundo a companhia, não há como estimar quantas ligações clandestinas há na cidade já que o universo de fraude é grande. Entretanto, a Caema informou que fraude de água é toda infração causada propositalmente pelo usuário com o intuito de distorcer o real consumo.

“Gatos”

Também conhecidas como “gatos”, as fraudes desviam a passagem de água ou alteram a medição de consumo com a manipulação do hidrômetro. Em caso de desperdício a hidrometração é o mais recomendado, frisa a Caema. A companhia também alerta que os casos de ligação indevida não autorizada, denominada “ligação clandestina”, constitui-se prática criminosa passível de penalidade.

A Caema informou que está em curso a implementação do programa de macromedição (avaliação dos volumes produzidos e dos volumes entregues a setores de abastecimento ou subsetores) e micromedição (medição realizada no ponto de entrada de abastecimento de um usuário). A instalação de hidrômetro possibilita a justa cobrança pelo consumo de água, ao tempo em que contribui significativamente para a redução do desperdício de água.

Perda financeira

De acordo com o levantamento, as perdas de água representam um dos maiores desafios e dificuldades para a expansão das redes de distribuição de água no Brasil. A perda financeira com a água produzida e não faturada faz com que o setor do saneamento perca recursos fundamentais também para a expansão do esgotamento sanitário no país.

Essas perdas financeiras derivam da água produzida, mas que não consegue ser cobrada do usuário por problemas técnicos, de ineficiência na gestão, entre outros. Os prejuízos com faturamento são derivados de ligações clandestinas, roubo de água, problemas e/ou falta de hidrantes e de medição em geral, sub-medições e, sobretudo, dos vazamentos que ocorrem por pressão nas redes em horários de baixa demanda, por corrosão e/ou idade avançada das redes de distribuição, uso de materiais inadequado ou fora dos padrões técnicos, obras mal executadas, entre outros.

Em São Luís, o principal sistema de abastecimento de água é o Italuís, mas com cerca de 30 anos de operação, sua estrutura está comprometida pela ferrugem e corrosão que provocam rompimentos ao longo da tubulação com certa frequência. Atualmente, o sistema passa por obras de substituição da sua estrutura.

Ofício

Por causa dos dados, o Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), da Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE/MA) enviou ofício ao presidente da Caema, Davi Telles. No documento, o defensor público titular do Nudecon e criador do projeto “Defensores do Saneamento”, Alberto Pessoa Bastos, afirma que o quadro causa o consumo desenfreado e irracional, impossibilitando a companhia de assegurar recursos para investir em novas redes coletoras, já que sobrevive com mais de 60% de prejuízos.

Para o Nudecon, os dados refletem não só o desperdício do recurso hídrico que provoca a falta de água em vários pontos da capital, mas também os valores que a concessionária deixa de receber pela água consumida, mas não faturada, comprometendo a capacidade de investir em outras demandas sociais, a exemplo de instalação de novas redes de água e esgoto.

Números

237.148 é o número de ligações de água na capital, segundo a Caema, o que corresponde a 317.183 domicílios.

Mais

Estrutura de abastecimento de água disponível na capital

Sistemas: Italuís (1.500 litros por segundo)

Sacavém Poços (250 litros por segundo); Batatã (nível crítico – fora de operação);

Paciência poços (350 litros por segundo)

Poços (sistemas isolados) - 1500 litros por segundo

Vazão total de 3600 litros por segundo

Fonte: Caema

Os dez mandamentos para economizar água

1 - No banho: se molhe, feche o chuveiro, se ensaboe e depois abra para enxaguar. Não fique com o chuveiro aberto. O consumo cairá de 180 para 48 litros.

2 - Ao escovar os dentes: escove os dentes e enxágue a boca com a água do copo. Economize 3 litros de água.

3 - Na descarga: verifique se a válvula não está com defeito, aperte-a uma única vez e não jogue lixo e restos de comida no vaso sanitário.

4 - Na torneira: uma torneira aberta gasta de 12 a 20 litros/minuto. Pingando, 46 litros/dia. Isto significa, 1.380 litros por mês. Feche bem as torneiras.

5 - Vazamentos: um buraco de 2 milímetros no encanamento desperdiça cerca de 3 caixas d’água de mil litros.

6 - Na caixa d’água: não a deixe transbordar e mantenha-a tampada.

7 - Na lavagem de louças: lavar louças com a torneira aberta, o tempo todo, desperdiça até 105 litros. Ensaboe a louça com a torneira fechada e depois enxágue tudo de uma vez. Na máquina de lavar são gastos 40 litros. Utilize-a somente quando estiver cheia.

8 - Regar jardins e plantas: no inverno, a rega pode ser feita dia sim, dia não, pela manhã ou à noite. Use mangueira com esguicho-revólver ou regador.

9 - Lavar carro: com uma mangueira gasta 600 litros de água. Só lave o carro uma vez por mês, com balde de 10 litros, para ensaboar e enxaguar. Para isso, use a água da sobra da máquina de lavar louça.

10 - Na limpeza de quintal e calçadas use vassoura: se precisar utilize a água que sai do enxágue da máquina de lavar.

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