Na rua

Logradouros são moradia de pessoas em situação de rua em SL

Sem abrigo, praças, parques e outros espaços são ocupados, causando reclamações por parte da população, que critica a sujeira e insegurança; pesquisa busca mudar a visão de que pessoas em situação de rua sejam criminosas

Jock Dean / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43
Moradores de rua já ocuparam a Fonte das Pedras, onde dormem durante o dia e permabulam à noite
Moradores de rua já ocuparam a Fonte das Pedras, onde dormem durante o dia e permabulam à noite (Fonte)

Sem ter onde morar, pessoas em situação de rua abrigam-se em diversos logradouros de São Luís. No centro da capital, diversos locais servem de moradia para essa população. As praças Deodoro e do Pantheon, Fonte das Pedras e Parque do Bom Menino estão entre os principais locais ocupados por eles.

A presença incomoda e provoca reclamações de quem trabalha nas proximidades.
Carolina Freitas, de 32 anos, passa pela Praça Deodoro todas as manhãs a caminho da Rua Grande, onde trabalha como gerente de uma loja de vestuário e, segundo ela, o aspecto da praça às 7h é de abandono.

“Tem poças de urina, fezes em alguns cantos, muita sujeira e comida derramada”, reclama.
A comerciária também questiona por que o problema não é resolvido. “Não consigo entender porque se permite essa bagunça, não tem um vigia, um policial, ninguém para colocar alguma ordem aqui”, diz. Ela afirma que entende a situação das pessoas que vivem nas ruas de São Luís, mas questiona a sujeira nos logradouros da cidade.

Os taxistas do posto em frente à Biblioteca Pública Benedito Leite reclamam da insegurança causada pela presença de quem faz da praça moradia. “Muitos deles usam drogas e as pessoas ficam com medo de passar por aqui. A gente até perde corrida, porque tem cliente que fica com medo de ser abordado enquanto estiver entrando no carro. É uma situação bem complicada. Nós, que trabalhamos aqui todos dos dias, temos medo de ser vítima de alguma ação criminosa, porque vemos muitos deles consumindo drogas livremente”, comenta Airton de Jesus Machado.

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Ainda segundo Airton de Jesus Machado, é no início da manhã e depois das 17h que é possível encontrar a maioria das pessoas em situação de rua que vivem nas proximidades da Praça Deodoro. “É o horário em que o sol está mais frio. Nesse intervalo eles ficam andando pelas ruas do Centro, pedindo dinheiro para comprar comida, bebida alcoólica e, alguns deles, até droga. À noite, eles ocupam a maioria dos bancos e calçadas da área”, afirma.

Drogas
Para todos os entrevistados ouvidos por O Estado, as pessoas em situação de rua são usuários de drogas e cometem furtos para sustentar o vício. De fato, segundo a Secretária Municipal da Criança e Assistência Social (Semcas), o uso de drogas está entre os motivos que levam as pessoas a deixarem suas casas e irem para as ruas, mas conflitos familiares, desemprego, problemas de saúde mental também aparecem entre os motivos que levam as pessoas a vivem nas ruas.

A ideia de que toda pessoa em situação de rua seja usuária de drogas e cometa crimes também é contestada pelas pesquisadoras Letícia Monteiro Costa e Marine Mota de Melo, que publicaram o trabalho “Criminalização de moradores de rua em São Luís-MA: uma outra visão sobre os sem teto do Centro Histórico”.

Para elas, as pessoas em situação de rua “são o retrato de um país castigado por miséria, desemprego e abandono, que incomoda o cidadão comum e assusta o turista”. Elas também defendem que “primeiramente deve se considerar o contexto em que vivem. Por que se encontram naquela situação?

Todos são realmente criminosos? Os indivíduos que vivem em um estado de extrema carência material e não conseguem, por meios próprios, garantir sua sobrevivência estão de fato inseridos no estereótipo de criminoso estabelecido pela sociedade. Essas pessoas que sofrem todo o tipo de violência e discriminação”.

Arredio como a maioria das pessoas na mesma situação, Arlesson Ferreira, de 28 anos, conta que já morou em diversos bairros de São Luís desde que deixou a casa dos pais, no bairro Gancharia, aos 21 anos, e foi para o Presídio de Pedrinhas, onde cumpriu pena de quatro anos pelo furto de R$ 500,00 de uma loja no bairro onde morava. “Eu nunca usei drogas. Quando peguei o dinheiro foi para curtir. Mesmo nas ruas, desde que fui solto, nunca usei nada. Mas minha família não me quis mais em casa, então, acabei vindo para as ruas. Se eu conseguisse um emprego, mudaria de vida, mas nem todo mundo quer ajudar a gente”, conta.

Em maio deste ano, a Prefeitura de São Luís, por meio da Semcas, em parceria com a Secretaria de Estado do Trabalho e da Economia Solidária, realizou o cadastro e atualização, de usuários dos Centros Especializados para Pessoas em Situação de Rua - Centro Pop Centro e Cohab, no banco de dados do Sistema Nacional de Empregos (Sine). O objetivo do cadastro é promover oportunidades de trabalho, emprego e renda para pessoas em situação de rua, por meio da qualificação profissional.

SAIBA MAIS

Centro Pop - O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) está previsto no Decreto nº 7.053/2009 e na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. O Centro Pop representa espaço de referência para o convívio grupal, social e para o desenvolvimento de relações de solidariedade, afetividade e respeito. O objetivo é proporcionar vivências para o alcance da autonomia, estimulando, além disso, a organização, a mobilização e a participação social. As unidades Centro Pop Rua, Centro e Cohab, recebem em média, diariamente, 40 pessoas que têm acesso a serviços de higiene, café da manhã, palestras, almoço, emissão de documentos, atividades de lazer e culturais, acompanhamento com psicólogos, assistentes sociais e pedagogos. Além de encaminhamento a outras políticas públicas, inserção em cursos de qualificação profissional e no mercado de trabalho.
População de rua - De acordo com o relatório do primeiro Encontro Nacional Sobre População em Situação de Rua, organizado e realizado em 2005 pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome por meio da Secretaria Nacional de Assistência Social, a definição dos moradores de rua ficou da seguinte forma: grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que tem em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação convencional regular, sendo compelido a utilizar a rua como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente.

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