Eduardo Cunha

Eduardo Cunha diz a advogados que pretende falar o que sabe à Justiça

Ex-deputado queria falar mesmo sem acordo de delação, mas foi orientado pelos advogados a esperar a proposta do MPF

Atualizada em 11/10/2022 às 12h44
(Eduardo Cunha está preso desde quarta-feira)

BRASÍLIA - O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB) afirmou, na quinta-feira (20), a seus advogados que está disposto a prestar informações para colaborar com as investigações da Operação Lava-Jato. "Eu quero falar, eu vou falar", teria afirmado o ex-presidente da Câmara, de acordo com informações do jornal Valor.

A reportagem destaca que a intenção inicial de Cunha seria de depor sem fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). Os defensores de Cunha, no entanto, o alertaram para as implicações decorrentes da confissão fora de uma colaboração. Processado por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-deputado está sujeito a uma sentença que, em tese, pode ultrapassar 20 anos, caso o juiz federal Sergio Moro opte por condená-lo às penas máximas previstas pelos delitos a que responde.

“Eu quero falar, eu vou falar”Eduardo Cunha, ex-deputado federal

Ainda de acordo com o Valor, Cunha já foi informado por seus advogados de uma exigência da qual o MPF não abre mão para começar a conversar sobre um eventual acordo, caso haja interesse por parte dos procuradores: ele terá de concordar com o cumprimento de um período mínimo de três anos, em regime fechado, se de fato passar à condição de delator da Lava-Jato - e o acordo for homologado.

A reportagem destaca que desde que foi encarcerado na custódia da Polícia Federal (PF) em Curitiba, na quarta-feira, Cunha teve conversas longas e tensas com integrantes de sua equipe de advogados. Em um dos diálogos, um dos defensores deixou clara a situação do ex-deputado.

"A questão agora é preservar a sua família, salvar a sua mulher. Por enquanto, é preciso esquecer a vida pública", disse um deles, segundo o relato de uma fonte próxima de familiares de Cunha.

O Valor destaca que desde que foi preso, Cunha teve rompantes de raiva durante as conversas com os advogados. Ele disse repetidas vezes que quer entregar o que sabe sobre supostos ilícitos que envolveriam Moreira Franco, secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos e figura importante do governo do presidente Michel Temer. Moreira Franco tem negado qualquer envolvimento em irregularidades.

Ainda segundo a reportagem, em outro momento de explosão Cunha teria dito aos advogados que dispõe de informações para "arrebentar" com parte do setor privado, e mencionou a ocorrência de irregularidades que envolveriam as áreas de telefonia, portos além de problemas na edição de medidas provisórias - suspeitas de irregularidades em MPs editadas nos governos Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva já são investigadas pela Operação Zelotes e pela própria Lava-Jato.

Mais

O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, recebeu na sexta-feira (21) a visita da sua mulher, Cláudia Cruz. Ele está preso preventivamente na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, desde quarta-feira (19). A Polícia Federal não soube informar quanto tempo Claudia Cruz esteve no local. Ela estava acompanhada de um advogado. Cláudia Cruz também é ré na Operação Lava Jato. Em junho deste ano, o juiz federal Sérgio Moro recebeu denúncia oferecida pelos procuradores da força-tarefa da Operação contra ela.

Procuradores suspeitam de contas ainda não identificadas

A força tarefa da Operação Lava Jato indica que o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB) pode ter um patrimônio até 53 vezes maior do que o declarado. Há ainda a suspeita de que Cunha possa ter contas ainda não identificadas nos Estados Unidos.

As suspeitas dos procuradores da República se baseiam nas informações obtidas por meio da cooperação internacional com o Ministério Público da Suíça. Foram identificadas quatro contas, sendo três vinculadas ao peemedebista e uma a sua mulher Cláudia Cruz, que já renderam denúncias na Lava Jato.

No documento de abertura de uma destas contas, a Triumph, no Banco Suíço Julius Baer, em 2007, o peemedebista declarou possuir um patrimônio de US$ 20 milhões. Naquele mesmo ano, Cunha declarou ao Imposto de Renda ter um patrimônio de R$ 1,2 milhão.

Em 2008, Cunha abriu outra conta, a Orion SP, no Banco Merril Lynch na Suíça (atual Julius Baer) e a própria instituição financeira avaliou seu patrimônio em US$ 16 milhões "proveniente de investimento no mercado imobiliário e na bolsa de valores". No mesmo ano, Cunha declarou que o patrimônio seria de US$ 11 milhões.

"Ademais, há informação da gerente da conta de que o conhece (Eduardo Cunha) há 6 anos, de que é cliente do Merril Lynch por 20 anos, bem como também proprietário das contas Orion, Triunph, Netherton e Kopek (todas estas já identificadas na Lava Jato)", assinalam os procuradores da República, que acrescentam: "As demais contas suíças foram fechadas pelo ex-deputado federal, sendo que permanece oculto um patrimônio de aproximadamente USD 13 milhões. Também não se tem conhecimento da localização das possíveis contas existentes em nome de Eduardo Cunha nos Estados Unidos, constando dos documentos suíços que a conta no Merril Lynch em Nova Iorque teria sido fechada no ano de 2008."

Jornal revela suposta reunião

de Temer pós prisão de Cunha

De acordo com o argentino “O Clarín”, presidente chamou parlamentares do PMDB para tentar conter “uma desgraça”

BRASÍLIA - Matéria publicada na sexta-feira, 21, pelo Clarín conta que o Presidente Michel Temer convocou reuniões de emergência na quinta-feira, 20, com parlamentares de seu partido para tentar conter uma "desgraça" com a prisão de Eduardo Cunha, ex-deputado que foi um dos grandes arquitetos da sua ascensão à liderança.

Segundo reportagem do jornal argentino o presidente instrui todos para fingir que "nada aconteceu" e seguir com a agenda normalmente.

O Clarín observa que na verdade a prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados, que foi fundamental nessa posição até 7 de julho, produziu um terremoto legislativo. O episódio ameaça uma debandada do Congresso que, se não for evitada a tempo, poderia comprometer a votação sobre as medidas-chave do governo atual, principalmente com relação ao congelamento dos gastos públicos por 20 anos.

O noticiário diz que a decisão de prender o ex-parlamentar, tomada na quarta-feira (19) pelo juiz Sergio Moro, produziu efeitos significativos; tanto no campo do partido no poder quanto na oposição. O juiz se defendeu na quinta-feira (20) contra as críticas:

"Quando a regra do jogo é a corrupção, deve-se admitir que existe um risco de reincidência", e concluiu que "a prisão preventiva foi necessária".

Ele disse enfaticamente que o Brasil "está em uma encruzilhada", e exige, por esse motivo, "a aplicação rigorosa da lei contra a corrupção." O juiz admitiu que sua atitude poderia ser considerada como uma "solução autoritária", já que tudo deve ser feito dentro do devido processo legal e "com respeito pelos direitos fundamentais dos acusados".

O Clarín ressalta que agora analisar Temer e seus ministros é como superar o impacto, o julgamento regressiva e a prisão de Cunha. O ex-deputado teve uma grande influência sobre o chamado "centrão" da Câmara, uma constelação de blocos políticos que reúne mais de metade dos deputados. O temor é grande entre a maioria dos legisladores, além do governo; que "traíram" Cunha votando pela sua cassação . Isso poderá ser visto mais claramente na próxima terça-feira (25), quando os deputados devem votar a legislação que limita os gastos do governo por duas décadas.

O Clarín revela que de acordo com fontes do governo em Brasília, o presidente deve seguir com articulações via telefone com os líderes desses grupos. E na segunda-feira (24) se reunirá com eles para acalmar os ânimos e garantir o sucesso.

O diário argentino destaca que Moreira Franco é um que está na mira de ex-parlamentar e presente no núcleo mais próximo do presidente Temer. Ele é secretário-executivo do Programa das parcerias público-privadas para investimento. Em outras palavras, é o homem destinado a liderar as futuras privatizações. Mas há outras "peças" que poderiam ser "invertidas" se Cunha resolver falar.

Para finalizar o Clarín afirma que ambos, Renan e Moreira, têm um grande peso no Senado, como é óbvio, no caso de Calheiros, que dirige o Senado. E o que eles querem agora é promover uma lei contra "abusos" judiciais no Brasil chamados informalmente como "operação de asfixia."

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