Artigo

Amor à vida

Atualizada em 11/10/2022 às 12h44

Ainda hoje sou capaz de ver o rosto das pessoas que eu conheci que se suicidaram. Nenhuma delas tinha o estereotipo de um suicida. Bem diferente do que a maioria das pessoas pensa.

Eram pessoas normais como qualquer outra, e que, por algum motivo, resolveram ceifar suas próprias vidas. Algumas perderam a razão de viver pelo divórcio, outras pela perda do emprego, outras por dificuldades financeiras, e por tantos outros motivos. Foram perdas irreparáveis, principalmente para as suas famílias. Pessoas saudáveis, amadas e bem-humoradas. Todas levadas por um impulso arrebatador, letal e desesperador.

Em todos os casos havia tudo, menos qualquer razão verdadeira para que se recorresse ao suicídio. O suicida não tem uma causa, ele apenas acha que tem.

Por mais preocupante que seja a condição de alguém, nada justifica o suicídio. Viver é sempre a melhor escolha a fazer. Mas essas pessoas só se dão conta disso tarde demais, quando as coisas no mundo real não podem mais ser mudadas.

Certa vez, conversando com um amigo psicólogo, ele me disse estar certo de que uma pessoa que se joga do alto de um prédio de 15 andares, logo que se lança no ar, já se arrependeu. Mas, infelizmente, aí já não há nada mais a fazer. Homens não têm asas.

Um caso similar a esse aconteceu com um amigo que se suicidou há alguns anos. Ele havia descoberto que sua namorada estava tendo um caso com um homem mais velho. Ao procurá-la para tomar satisfação, flagrou os dois na cama. Ele saiu em disparada e tomou um veneno para se matar. Logo depois, com os primeiros sintomas de agonia, ligou desesperado para o seu irmão, pedindo que o socorresse. Quando o seu irmão chegou ao local, ele já havia morrido.

Em contramão a isso tudo, conheço casos de pessoas que vivem com limitações e dificuldades em razão de problemas de saúde, mas que lutam pela vida como verdadeiros guerreiros, pois sabem que, mesmo em circunstâncias adversas, viver vale a pena.

São idosos que andam na cadeira de rodas e não têm mais sequer perspectivas de voltar a andar; pessoas que lutam contra um câncer há mais de 10 anos, debilitadas e sentindo dores no corpo inteiro; enfermos que vivem durante 24 horas com uma máscara ligada a um balão de oxigênio; homens e mulheres que vivem sem os braços e as pernas; idosos que já não conseguem mais fazer nada sozinhos, dependendo de terceiros para as necessidades mais prementes, e tantos outros.

Fico comovido em presenciar as pessoas nessas condições lutando pela vida como se estivessem na flor da idade e com saúde para dar e vender.

Por outro lado, fico perplexo em saber que há pessoas com a saúde em perfeito estado, com uma família maravilhosa e uma vida confortável que cismam não ter mais razão para viver, e recorrem ao suicídio. Acho mesmo que estão certos aqueles que dizem que “Deus dá asas a quem não sabe voar”. Por que dar saúde para aqueles que não valorizam a vida? Por que não dotar de saúde as pessoas gravemente enfermas que têm um enorme apego à vida?

Mas não tem jeito. Muitas pessoas só se dão conta da importância de sua saúde e da beleza da sua vida quando as perdem. Trata-se de um enredo decadente que anuncia o trágico final de uma vida sem “vida”.

Alex Murad

Conselheiro federal da OAB, presidente da Comissão de Conciliação, Mediação e Arbitragem da OAB/MA, MBA em Direito Tributário, especialista em Direito Constitucional, Direito Civil e Processo Civil

E-mail: alexmurad@uol.com.br

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