Cultura

Resgate da tradição do bumba meu boi de zabumba é premiado pelo Iphan

Festival Bumba Meu Boi de Zabumba acontece todos os anos em São Luís, desde 1994; sotaque esteve em declínio nos últimos anos e quase foi extinto

Atualizada em 11/10/2022 às 12h44
Festival Bumba Meu Boi de Zabumba ganhará reconhecimento
Festival Bumba Meu Boi de Zabumba ganhará reconhecimento (boi de zabumba)

SÃO LUÍS - O Bumba Meu Boi está entre as manifestações culturais populares mais difundidas do país, com forte influência da cultura negra. A presença de elementos e rituais de matriz africana estão presentes nos ritmos, nas vestimentas, nos instrumentos. No entanto, muitas vezes há a negação da importância dos valores ancestrais africanos, apesar de serem marcantes no processo de desenvolvimento da cidadania brasileira. Observando esse grande risco à manifestação, o mestre Basílio Durans criou o Festival Bumba Meu Boi de Zabumba que, desde 1994, acontece todos os anos em São Luís. A proposta é resgatar as raízes do sotaque Zabumba, que esteve em declínio nos últimos anos e quase foi extinto.

Todo esse trabalho foi reconhecido e, este ano, é um dos vencedores da 29ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Categoria I – Iniciativas de excelência em técnicas de preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural. Além de levar às ruas este saber popular e estas tradições, o Festival procura fórmulas para transmitir o conhecimento com foco, principalmente, nos jovens. A ideia é deixar sempre claro que o tráfico de africanos para o Brasil, na condição de escravos, teve forte influência na formação da cultura maranhense, principalmente na culinária, mas também na linguagem e nas danças. O Bumba Meu Boi de Zabumba é uma das manifestações que mais se destacam entre aquelas que preservaram a cultura trazida do continente africano.

Mestre Basílio conta que, quando criança ficou doente e sua avó fez uma promessa. Se ele ficasse curado passaria a brincar o boi anualmente. E foi o que ele fez. “Aos dez anos de idade comecei a brincar o boi e não parei mais”, relembra. Ele gostou tanto que, há 23 anos, criou o Festival Bumba Meu Boi de Zabumba, que já faz parte do calendário municipal e estadual de cultura, envolvendo cerca de 1,6 mil pessoas. “Nós queremos incentivar os grupos existentes e a resgatar aqueles que foram esquecidos”, afirma. Durante o festival as apresentações se prolongam pelas ruas e vários grupos se revezam nas brincadeiras do boi na cidade de São Luís.

Para a preparação do Festival e durante o ano o grupo realiza encontros mensais onde preparam as ações com vistas a manter as formas tradicionais do sotaque, visando, também o envolvimento das novas gerações com pesquisa e preservação da sua cultura. O clube, local da reunião do grupo, se transformou em ponto de encontro de cantadores de Bumba Meu Boi.

O Bumba Meu Boi de Zabumba

O Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão foi registrado pelo Iphan, como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, em 2011. O Bumba Meu Boi é uma manifestação popular em homenagem a São João, protetor dessa tradição. O sotaque zabumba tem a singularidade de manter os saberes técnico originais, como a comédia, os personagens, o toque, os cantos e as dança, além da tradicional indumentária, chapéus, franjas e fitas coloridas. No início do século XX os grupos eram quase todos formados por pessoas originárias da região de Guimarães, a noroeste de São Luís, depois das baías de São Marcos e de Cumã. Boa parte de seus dirigentes migrou para a capital, onde recebiam parentes e amigos, com quem faziam a festa conforme suas tradições. Memórias locais indicam que foi nos arredores do bairro de Monte Castelo que surgiram os primeiros bois de zabumba de São Luís, que deram origem aos grupos que até hoje se mantêm na cidade. As cores vibrantes de um figurino rico em adereços que brilha ao ritmo das zabumbas, do tambor-onça, de pandeiros e maracás trazem de volta ao Brasil as raízes africanas.

Os sotaques mais conhecidos são matraca, zabumba, orquestra, baixada e costa de mão. O sotaque de zabumba caracteriza-se pela presença das próprias zabumbas, além de outros instrumentos de percussão: tambor-de-fogo, tamborinho ou pandeirinho, tambor-onça, maracás e apitos. Os brincantes dividem-se nos papéis de amos, índias, rajados, vaqueiros, palhaços, pais Francisco, catirinas e outros cômicos, assim como o próprio boi. Segundo a opinião corrente em São Luís, são os grupos desse sotaque os mais apegados às tradições cômicas de representação do auto do boi e de outras histórias sobre temas variados.

Grande parte dos brincantes é socializada no boi desde a infância ou juventude, e assim se aprende a executar atividades necessárias à sua manutenção, como cantar, tocar, dançar, bordar, confeccionar instrumentos musicais ou, ainda a administrar e organizar o conjunto. Além disso, a participação no grupo alimenta uma série de relações de cunho profissional, familiar, afetivo, político, entre outros. Brincar o boi significa não só compartilhar a dimensão lúdica e festiva, mas também cumprir obrigações para com a realização dessa brincadeira. É por meio dela que, na brincadeira, os humanos entrariam em contato com espíritos e outras entidades, em experiências de prazer e obrigação ou sacrifício pessoal.

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