Violência

Exército sírio assume controle de bairro rebelde de Aleppo

Farafira é uma área rebelde conquistada por rebeldes em 2012; locais da cidade no norte da Síria são alvos de intensos bombardeios; imagens feitas por um drone e divulgadas pela agência Reuters, ontem, mostram a destruição em um dos bairros

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45
Desde o fim da trégua os bairros rebeldes de Aleppo são alvos de um intenso bombardeio da aviação do regime e da Rússia
Desde o fim da trégua os bairros rebeldes de Aleppo são alvos de um intenso bombardeio da aviação do regime e da Rússia (Equipe de resgate retira o corpo de uma menina do meio dos destroços de um prédio)

Aleppo - O exército sírio assumiu ontem o controle do bairro Farafira, área rebelde próxima do centro de Aleppo, no norte do país, segundo relato de fonte militar feito à agência AFP. Especialistas trabalhavam para retirar as minas terrestres do bairro.

A fonte afirmou ainda que “vários terroristas” foram neutralizados durante a ação militar. O regime utiliza o termo "terrorista" para designar todos os que pegaram em armas contra Damasco, sejam rebeldes ou extremistas.

O bairro de Farafira foi conquistado em 2012 pelos rebeldes, que na época haviam dominado metade da ex-capital econômica do país. "Esta operação é parte das operações militares que foram anunciadas [na quinta-feira), que incluem um componente aéreo e outro terrestre com a utilização de artilharia", completou a fonte.

Desde o fim da trégua os bairros rebeldes de Aleppo são alvos de um intenso bombardeio da aviação do regime e da Rússia. Um bombardeio aéreo contra o bairro de Al-Shaar deixou mortos, entre eles, uma menina. O pai dela se desesperou ao ver o corpo ser retirado dos destroços.

No início do mês, um cessar-fogo, organizado pelos Estados Unidos e pela Rússia, contribuiu para reduzir o número de mortes diárias no país. A iniciativa fracassou e desde sábado,17, o país vive uma intensificação da violência em várias regiões.

A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou no domingo,25, que pelo menos 139 pessoas morreram nos últimos dias devido aos ataques na parte leste de Aleppo.

Destruição

Imagens feitas por um drone e divulgadas pela agência Reuters, ontem, mostram a destruição em um dos bairros controlados pelos rebeldes em Aleppo, cidade síria que foi alvo de intensos bombardeios nos últimos dias.

Segundo a agência a AFP, alimentos e medicamentos são cada vez mais escassos nos bairros rebeldes de Aleppo, submetidos a intensos bombardeios do regime sírio e da Rússia, acusados de "crimes de guerra" pelas potências ocidentais.

"Nos últimos anos suportamos os bombardeios e não abandonamos Aleppo. Mas agora não há pão, água, nada nos mercados. A situação piora dia a dia", afirmou na segunda-feira Hassan Yasin, de 40 anos. Este pai de quatro filhos teve que abandonar com a família o apartamento no terceiro andar de um prédio e buscar refúgio em uma barraca no térreo, para evitar os ataques contra o bairro de Ferdus.

Na segunda-feira, a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou que o balanço de mortos subiu a 140 - maioria civis - desde quinta-feira à noite, quando o exército sírio anunciou uma ofensiva mais intensa para reconquistar a totalidade de Aleppo.

Os aviões russos e do regime realizaram "dezenas de ataques" a partir da meia-noite no leste da cidade controlada pelos rebeldes, segundo o OSDH. Ao amanhecer, os bombardeios se intensificaram e provocaram incêndios.

'Esgotados'
Os quase 250 mil habitantes dos bairros rebeldes de Aleppo não recebem ajuda externa há dois meses. Desde os bombardeios de sábado, a população não tem água, de acordo com o Unicef.

"Os hospitais se encontram sob forte pressão com o número elevado de feridos e a falta de sangue disponível, além da ausência de cirurgiões especializados em transfusões", afirmou uma fonte médica à AFP.

"Por isto, as pessoas gravemente feridas são imediatamente amputadas", completou a fonte.

"Os pacientes são colocados no chão e as equipes médicas trabalham no limite da resistência humana" contou o médico Abu Rajab, da ONG Save the Children, destacando que quase metade dos pacientes nos hospitais são crianças.

Tensão entre Rússia e Ocidente
Em Nova York, as potências ocidentais criticaram a Rússia no domingo em uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, com acusações diretas a respeito da ofensiva contra Aleppo. "O que a Rússia apoia e faz não é luta antiterrorista, é barbárie", disse a embaixadora americana Samantha Power.

O Kremlin respondeu na segunda-feira e criticou "o tom e a retórica inadmissíveis" dos Estados Unidos e do Reino Unido.

"Consideramos o tom e a retórica dos representantes do Reino Unido e Estados Unidos inadmissíveis e, inclusive, suscetíveis de prejudicar nossas relações", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O embaixador britânico Matthew Rycroft citou a possibilidade de levar a questão ao Tribunal Penal Internacional, competente para os crimes de guera. A última tentativa do Conselho de Segurança esbarrou no veto da Rússia.

No atual contexto, o apelo do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para "acabar com o pesadelo" na Síria tem poucas possibilidades de ser ouvido nesta semana.

É a terceira evacuação desse tipo depois de um acordo de dezembro prevendo que esse setor passaria para controle do exército sírio em troca de levantar o cerco imposto três anos antes. Cerca de 600 mil pessoas vivem sitiadas em toda a Síria, segundo a ONU.

Além disso, chegou uma ajuda no domingo pela primeira vez em seis meses a quatro localidades sitiadas: Madaya e Zabadani, cercadas por tropas do regime na província de Damasco, e Fua e Kafraya, pelos rebeldes em Idleb (noroeste), segundo a Cruz Vermelha.

O conflito sírio provocou mais de 300 mil mortes desde 2011, segundo o OSDH, e resultou na maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.

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