Artigo

Juros de Mora

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45

Guido Mantega foi a pessoa que durante mais tempo exerceu o cargo de ministro da Fazenda no Brasil: oito anos, de 2006, no governo Lula, até 2014, quase ao final do desastre econômico petista engendrado pela ex-presidente Dilma Roussef e seu partido. Ele foi considerado pela revista “Época”, na época, um dos 100 brasileiros mais influentes de 2009.

Pois o ex-ministro influente e tão longevo no ministério foi, primeiro, conduzido, há meses, coercitivamente, pela Polícia Federal à sede do órgão, em São Paulo, no âmbito da Operação Zelotes, para depor em inquérito que investiga reduções ou cancelamentos ilegais de multas a várias empresas suspeitas de terem comprado decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - Carf, do Ministério da Fazenda, e delas se beneficiado; agora, na quinta-feira passada, ele foi alvo da famosa Operação Lava Jato, em sua 34ª fase, e preso temporariamente, mas logo solto, por suspeita de corrupção, fraude em licitações, associação criminosa e lavagem de dinheiro, em contratos assinados entre a Petrobras e o consórcio Integra Offshore, composto pela OSX e Mendes Júnior, para a construção das plataformas P-67 e P-70 para a exploração das reservas do pré-sal, o mesmo pré-e-sal que ia ser a redenção do Brasil, mas tornou-se a redenção financeira de dirigentes do PT e de partidos associados.

Falo sobre Mantega porque ele, junto com José Dirceu, o suposto guerreiro do povo brasileiro, e, naturalmente, Lula, "comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava Jato", na expressão usada na denúncia dele à Justiça, feita, em Curitiba, pelo Ministério Público Federal, são, em conjunto, o que de mais simbólico, no mau sentido, há nos escândalos de corrupção do PT. Segundo meu entendimento, o mais danoso para o país está em que os assaltos a empresas estatais e fundos de pensão, afora a mineração em veios auríferos menos rendosos, serviam, não exclusivamente, ao enriquecimento dos dirigentes partidários; serviam, igualmente, a projeto de poder, cujas táticas de ataque incluíam a desmoralização das instituições e de pessoas, de tal forma que, enfraquecidas, elas não tivessem forças, como não têm na Venezuela, de se opor ao mando petralha. Ao contrário, chancelariam, já aparelhadas, um regime ditatorial que manteria aparências de democrático. Lembremos que Hitler subiu ao poder por decisão do povo da Alemanha, pelo mecanismo de eleições, mas antes ele e seu partido já haviam debilitado as instituições democráticas alemãs.

Meu desacordo (digamos assim) com o PT não está, tão só, na desonestidade de seus dirigentes, nem em sua mentalidade de bunker, que leva seus adeptos a se verem como do Partido Escolhido divinamente para espargir o bem monopolisticamente, pelas mãos de vanguarda partidária, que saberia o que é bom para o povo, melhor do que o próprio povo. Minha discordância essencial nasce tanto de seus métodos, como, por exemplo, a tentativa controle estatal de todos os meios de comunicação, quanto de seus objetivos, consubstanciados no desejo de hegemonia ditatorial.

O Brasil está mudando. Os devedores pagarão seus débitos, com juros e juros de mora.

Lino Raposo Moreira

PhD, membr da Academia Maranhense de Letras

E-mail: linomoreira@linomoreira.com

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