Diz Lula

“Não há ninguém público mais fiscalizado do que eu”, diz Lula

Ex-presidente afirma que se ficar provado qualquer crime contra ele, ele próprio se entregará à Polícia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45
Lula fez ontem seu primeiro pronunciamento após a apresentação da denúncia
Lula fez ontem seu primeiro pronunciamento após a apresentação da denúncia (Lula mobiliza militantes em entrevista)

O ex-presidente Lula fez ontem seu primeiro pronunciamento após a apresentação da denúncia contra ele pelo Ministério Público Federal (MPF). Lula afirmou que não iria agir como ex-presidente, como um "cara perseguido" reivindicando algum favor. Ele iniciou o discurso elogiando os advogados de defesa e disse que a esposa, Marisa Letícia, não compareceu à coletiva porque os “filhos pediram para almoçar com ela”.

O petista voltou a negar que seja dono do triplex em Guarujá, objeto da denúncia dos procuradores. Segundo ele, seus acusadores precisaram sustentar a mentira até o final, mas que, caso consigam provar algum crime de corrupção, ele se entrega à polícia.

"A desgraça de quem conta a primeira mentira é que é obrigado a passar a vida mentira. Eles inventaram que eu tinha coisas que não tenho. Quando eu transgredir a lei, me punam para servir de exemplo. Mas quando eu não transgredir, procurem outro para criar problema. Provem corrupção minha que eu irei a pé para ser preso", afirmou. "Me dedicaram um apartamento que eu não tenho, uma chácara que não é minha, disseram que eu sou o comandante maior. Eu não tenho provas, mas eu tenho convicção de que quem mentiu está numa enrascada".

Lula também elogiou o PT, partido do qual é um dos fundadores. “Tenho orgulho profundamente de ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina”, disse. “Nós fomos elegendo prefeitos, vereadores e, com apenas 20 anos de existência, ganhamos as eleições [presidenciais] neste país. Era uma coisa inesperada”, acrescentou.

O ex-presidente destacou que, no país, havia pouca gente com a vida "mais pública, mais fiscalizada" do que a dele, desde os tempos de dirigente sindical, nas greves de 78 e 79.

Lula afirmou ainda que tinha "orgulho" de ter criado o partido político "mais importante da América Latina".

O ex-presidente Lula relembrou sua trajetória política, e lembrou das suas disputaseleitorais. Ele citou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmando que ele "não sabia que eu tinha em mente o fracasso do Lech Walesa. Eu dizia: eu não posso fracassar e tinha como uma profissão de fé não errar", disse.

Ao lembrar seus planos após eleito, ele destacou: "Eu fui humilde: se cada brasileiro pudesse realizar três refeições por dia, eu já tinha realizado a obra da minha vida."

Lula comparou-se aos ex-presidentes Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas e João Goulart. “Juscelino foi vítima de mais inquéritos que eu. Não tenho a vocação de Getúlio para me dar o tiro, do Jango, para sair do Brasil. Portanto, se eles querem me tirar, vão ter que disputar comigo, na rua. Eles achavam que eu estava vencido. Não sangrei e fui reeleito em 2006 embaixo da maior baixaria eleitoral acontecida até então. Meu adversário com cara de santinho, estava nervoso. Eu me 'quedei' tranquilo e ganhei as eleições. Tenho consciência de que meu fracasso teria agradado meus adversários e não teria despertado tanto ódio com o PT. O que despertou a ira foi o sucesso do meu governo, a maior política de inclusão social desse país”, disse.

Para Lula, o seu "fracasso não teria despertado tanto ódio contra o PT. O que despertou a ira foi o sucesso desse governo".

Lula afirmou que o impeachment de Dilma Rousseff foi articulado "por um homem que acaba de ser cassado". "Conseguiram dar um golpe pacífico", disse, sem deixar de destacar a violência da Polícia Militar contra manifestantes.

"Se eles tratassem ladrão como tratam a molecada honesta que vai para rua, talvez não tivesse tanto ladrão. É uma vergonha jornalista ir para a rua de capacete", criticou.

O ex-presidente citou ainda as instituições no País, e como elas se fortaleceram durante seu governo. Contudo, destacou que hoje "a lógica é a manchete, não os autos de um processo". "Quem é que nós vamos criminalizar?", perguntou, em crítica à Lava Jato. "Só ganha de mim aqui no Brasil Jesus Cristo", acrescentou, sobre acusações contra ele.

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Lula chegou à entrevista no Novotel Jaraguá com 30 minutos de atraso. Foi recebido por militantes com gritos de “Lula guerreiro do povo brasileiro” e “Fascistas não passarão”. Do lado de fora do hotel, onde ocorre a entrevista, algumas pessoas se reuniam em um ato de apoio a Lula.

Petista cobra igualdade de espaços

Lula terminou seu pronunciamento pedindo igualdade de tempo e espaço em relação ao destaque dos procuradores da Lava Jato na imprensa. "Espero que eu tenha o mesmo destaque que meus acusadores tiveram ontem, só igualdade, oportunidade".

Nesta quinta-feira (14), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi denunciado à Justiça pela primeira vez no âmbito da Operação Lava Jato. A denúncia também inclui a esposa dele, Marisa Letícia da Silva, e outras seis pessoas: o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e quatro pessoas relacionadas à empreiteira OAS: Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Paulo Roberto Valente Gordilho, Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira. Lula foi denunciado por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e falsidade ideológica.

Os procuradores afirmam que o ex-presidente recebeu vantagens indevidas referentes à reforma de um triplex em Guarujá (SP) feita pela empreiteira OAS. Segundo o MPF, a reforma foi oferecida a ele como compensação por ações do ex-presidente no esquema de corrupção da Petrobras.

A coletiva foi aberta por Rui Falcão, presidente do PT, que leu uma nota do partido em que diz que a denúncia do Ministério Público Federal foi um “espetáculo midiático”. Segundo a nota, a denúncia faz “um julgamento sumário” contra Lula e teria, segundo o PT, o objetivo de retirar Lula da disputa pela presidência da República em 2018. “Conclamamos todos os democratas a resistirem”.

Diversos ex-ministros petistas, deputados, vereadores, artistas e advogados acompanham a entrevista, tais como a senadora Gleise Hoffmann, o senador Humberto Costa, o senador Lindbergh Farias, Alexandre Padilha [atual secretário de saúde municipal de São Paulo], Jaques Wagner, Juca Ferreira, Marco Aurélio Garcia, os advogados José Roberto Batochio e Cristiano Zanin Martins, além do presidente nacional da CUT Vagner Freitas, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Gilmar Mauro, o ex-presidente nacional do PCdoB Renato Rabelo, o candidato a vereador Eduardo Suplicy e o deputado federal Vicentinho.

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