Homenagem

O notável humanista

José Maria Ramos Martins deixou uma rica contribuição para o magistério e para a arte maranhense

Georgino Melo e Silva/ Procurador Geral da República aposentado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45
José Maria Ramos Martins foi um notável intelectual
José Maria Ramos Martins foi um notável intelectual (José Maria Ramos Martins)

Certa vez, perguntaram a um notável escritor espanhol como se faz para escrever um grande livro. Um grande livro, disse ele, começa-se geralmente com letra maiúscula e, no fim, põe-se um ponto final. E no meio? No meio, "hay que poner talento".

A morte inesperada do Professor José Maria Ramos Martins, na tarde do último dia 6 de setembro, subtraiu do Maranhão um homem que exerceu o magistério com arte e muito talento, a sensação é de um cruel desperdício. Deus faz dessas coisas. Fabrica gênios e depois quebra o molde.

A sua figura humana era marcante. O professor José Maria trazia dentro de si uma aura peculiar e um magnetismo que contagiava a todos. A rica biografia do já saudoso Mestre é uma lição que nos emociona.

Sua história é de integridade, dignidade, amor ao próximo e defesa intransigente dos valores mais altos do Maranhão.

Tive a honra de ser seu aluno nas cadeiras Introdução à Ciência do Direito e o Direto Penal. O manuseio da palavra franca e sincera para a composição dos interesses e a busca do bem comum sempre foi uma das características do Mestre José Maria.

Outra característica marcante de José Maria Ramos Martins é a amizade cativante que estendia àqueles com quem criava laços, afetivos ou de trabalho.

Mas o professor José Maria Ramos Martins não foi apenas amigo. Antes, tratava-se de um trabalhador infatigável em favor das causas que considerava justas, pois ele tinha o sentimento e a consciência de justiça.

A morte do professor José Maria na plenitude de seus 96 anos é algo nos emociona e nos faz chorar. A sua genialidade de grande humanista, pois ele tinha o sentimento da grandeza de uma vida digna.

José Maria era um mestre do tempo, ele também sabia administrar a essência do tempo político. A atuação de gestor público de José Maria Ramos Martins, em todos os momentos de sua trajetória, merece uma cátedra em nossos cursos universitários, tal a profundidade, a inteligência e a versatilidade da sua atuação como administrador da coisa pública. Maquiavel dizia que o Poder não é uma dádiva para os pobres de espírito.

Guiava-o a visão fáustica, em que Goethe da velhice pôs toda a força dos ideais da civilização ocidental, "volúpia de agir e beleza”, salvando o Fausto da desgraça pelo ato de semear, secar o pântano e erguer a cidade. Penso, no que T.E.Lawrence escreveu: Todos os homens sonham: mas não igualmente. Os que sonham noite adentro no poeirento recesso dos seus espíritos acordam de dia, para ver que tudo era vaidade; mas os sonhadores do dia são homens perigosos, porque agem seu sonho com os olhos abertos para fazê-lo possível. José Maria Ramos Martins foi desses homens perigosos. Felizes os que tivemos a sorte de tê-lo para fazer o sonho possível.

A morte do professor José Maria Ramos deixa um gigantesco vazio cultural em nossa paisagem, onde os arbustos são muitos mais numerosos que as árvores.

Nesta quadra decisiva da História do Brasil, o professor José Maria nos deixa para permanecer na História. A morte pode até acabar com tudo, porém a memória traz de volta a vida. As pessoas só existem na memória.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.