Fim de conflito

Começa cessar-fogo do governo colombiano e a guerrilha das Farc

Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, comemora no Twitter; acordo de paz foi concluído em Havana, Cuba, na semana passada; fim das hostilidades é um marco na história da Colômbia que durante 52 anos viveu o conflito com esse grupo guerrilheiro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45
Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, comemora no Twitter
Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, comemora no Twitter (Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, fala no Twitter sobre fim da guerra com Farc)

Bogotá - O esperado cessar-fogo e de hostilidades bilateral e definitivo entre o governo colombiano e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) começou à 0h (horário local, 2h em Brasília) de ontem.

"Neste 29 de agosto começa uma nova história para a Colômbia. Silenciamos os fuzis. Acabou a guerra com as Farc!", escreveu à meia-noite o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, em sua conta no Twitter.

O fim das hostilidades é um marco na história da Colômbia que durante 52 anos viveu o conflito armado com esse grupo guerrilheiro, o maior do país, uma disputa que se calcula deixou 7 milhões de vítimas e cerca de 260 mil mortos.

Fruto do acordo de paz assinado em Havana na quarta-feira (24), Santos anunciou no dia seguinte que tinha ordenado iniciar o cessar-fogo a zero hora de hoje. "Quero informar aos colombianos que como chefe de Estado e como comandante-em-chefe de nossas Forças Armadas, ordenei a cessação de fogo definitivo com as Farc a partir de zero hora da próxima segunda-feira, dia 29 de agosto", disse na ocasião o presidente.

Neste domingo,28, o chefe das Farc, Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como "Timochenko", confirmou o início do cessar-fogo em declaração feita na capital cubana.

"Em minha condição de comandante do Estado-Maior Central das Farc-EP ordeno a todos nossos comandantes, a todas nossas unidades, a todos e cada um de nossos e nossas combatentes a cessar o fogo e as hostilidades de maneira definitiva contra o Estado colombiano a partir das 24h da noite de hoje", leu o máximo chefe da guerrilha.

No primeiro minuto de hoje [ontem], as mensagens relativas ao início do cessar-fogo inundaram as redes sociais para anunciar o que se denominou popularmente de um "novo amanhecer" para o país.

"A partir desta hora os colombianos começam a viver um momento histórico e desejado por anos #AdiosALaGuerra", publicou a Chancelaria na rede social.

Desde o dia 20 de julho do ano passado regia no país o último cessar-fogo unilateral das Farc como medida para gerar confiança no processo de paz, que foi respondido pelo governo com a suspensão de bombardeios a acampamentos dessa guerrilha, o que reduziu de maneira considerável a intensidade do conflito.

Plebiscito
O acordo deve ser referendado via plebiscito, como foi acertado entre as partes. No discurso, Santos disse que enviará o texto definitivo do acordo para o Congresso e anunciou o plebiscito para o dia 2 de outubro. "Será a votação mais importante das nossas vidas", disse.

Se o acordo passar na prova das urnas (para o qual requer ao menos 4,4 milhões de votos afirmativos), será possível dizer que o último conflito armado na América está em vias de ser extinto.

Acordo histórico

O acordo com as Farc, grupo armado desde 1964 e maior guerrilha da Colômbia, permitirá superar em grande parte um confronto que já deixou 260 mil mortos, quase 7 milhões de deslocados e 45 mil desaparecidos.

Entretanto, ainda estão ativos o Exército de Libertação Nacional (ELN) e grupos de crime organizado dedicados ao tráfico e à mineração ilegal. Além das Farc e do ELN, na chamada guerra interna da Colômbia, participaram agentes do Estado e grupos paramilitares de extrema-direita.

Um setor influente na Colômbia, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), se opõe firmemente ao decidido em Havana por considerar que deixará crimes das Farc sem punição.

O acordo é histórico porque desde 1983 o país fracassou em três tentativas de negociar a paz, como informa o jornal "El Tiempo". Essas tentativas ocorreram durante os governos de Belisario Betancur, César Gaviria e de Andrés Pastrana.

Após o anúncio, o presidente americano Barack Obama falou ao telefone com Juan Manuel Santos para o parabenizar pelo acordo. "O presidente reconheceu este dia histórico como um momento crítico no que será um longo processo para implementar totalmente um acordo de paz justo e duradouro que pode fazer avançar a segurança e a prosperidade ao povo colombiano", diz o comunicado da Casa Branca.

Pontos acordados

Na última semana, as equipes negociadoras das Farc e do governo trabalharam de forma ininterrupta para terminar o acordo. Os assuntos que ainda estavam sendo discutidos eram o alcance da anistia para as Farc (que exclui os responsáveis por crimes como sequestro, deslocamento e violência sexual) e a participação política dos rebeldes.

O pacto da Havana prevê acordos e compromissos em seis pontos: reforma rural, participação política dos ex-combatentes da guerrilha, cessar-fogo bilateral e definitivo, solução ao problema das drogas ilícitas, ressarcimento das vítimas e Mecanismos de implementação e verificação.

O compromisso alcançado em Cuba estabelece que quem confessar seus crimes diante de um tribunal especial poderá evitar a prisão e receber penas alternativas. Se não for feito dessa forma e forem declarados culpados, serão condenados a penas de 8 a 20 anos de prisão.

Além disso, espera-se que as Farc iniciem seu desarme uma vez que sejam referendados os acordos em um prazo de seis meses contados a partir de sua concentração em 23 áreas e oito acampamentos na Colômbia.

Observadores desarmados da ONU, delegados das Farc e o governo verificarão o processo de abandono das armas, com as quais serão levantados três monumentos.

Frase

"Em minha condição de comandante do Estado-Maior Central das Farc-EP ordeno a todos nossos comandantes, a todas nossas unidades, a todos e cada um de nossos e nossas combatentes a cessar o fogo”

Rodrigo Londoño Echeverri

Chefe das Farc

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