Sobrevivendo à crise

Pessoas desempregadas buscam alternativas para garantir renda

Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos revela que 13,3 mil pessoas perderam o emprego no primeiro semestre no MA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45

As quatro pessoas de roupas gastas e semblantes cansados que vendem tangerinas no sinal de trânsito na Avenida Daniel de La Touche, em São Luís, são hoje estatísticas. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas fazem parte dos 328 mil maranhenses com mais de 14 anos de idade que estão desocupados, ou seja, não estão inseridos regularmente no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc), são alguns dos 13,3 mil que perderam os seus empregos em todo o estado durante o primeiro semestre deste ano e agora se viram como podem para sobreviver.
Mas eles têm nome, sobrenome e história. O mais jovem é John Kerlisson. A mulher, mais nova, é Erika Castro, sua esposa, os outros dois são Nilde Castro e Raniere Castro, tios de Erika. Todos desempregados, ex-funcionários de algum patrão que se viu obrigado a dispensá-los quando a crise apertou.
José Morais, diretor técnico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Maranhão (Sebrae), enfoca justamente isso: quando o negócio começa a enveredar numa espiral de queda, a primeira coisa que o dono faz é cortar as cabeças pensantes e os profissionais qualificados, por anos de prática, antes de atacar outro setor realmente defeituoso. Daí, essas pessoas começam a se virar para ganhar a vida.
Kerlison e família foram jogados nesta espiral. Sem maiores qualificações (têm apenas o ensino médio), vendem frutas no sinal. Neste período, estão apostando nas tangerinas. Um pacote com cinco delas sai por R$ 3 e dois, por R$ 5. Em outros meses, surgem outras opções, como abacaxi, maçã e até mesmo água. O rendimento? Por sete dias de trabalho na semana, pelo menos cinco horas por dia, eles recebem entre R$ 150 e R$ 200.

Mais estatística
No primeiro semestre deste ano, somente São Luís perdeu 8.858 empregos, a maioria no setor da construção civil, menos 4.730 vagas. Isso força as pessoas a gerarem a sua própria economia e ir atrás de renda. Segundo o Sebrae, o Maranhão compra de outros hoje 87% de tudo o que consome. Daí que este se torna um cenário propício para o empreendedorismo e a inovação. As pessoas só têm que saber se inserir corretamente na cadeia produtiva.
Tomamos como exemplo o mineiro Renato Narciso Lopes. Originalmente funcionário do ramo da construção civil, ele tinha um terreno ocioso no Jardim Eldorado, um dos grandes bairros residenciais de São Luís, cercado de mansões. Resolveu investir num hobby cultivado desde a época em que morava em Minas Gerais: montou uma plantação de hortaliças.
Há cerca de um ano com o negócio, ele hoje consegue até mesmo manter um funcionário, o piauiense Domingos Rodrigues de Carvalho, com as vendas realizadas aos moradores do bairro. Ou seja, Renato Lopes viu uma oportunidade, tinha as ferramentas e as colocou em prática.
Mesmo sua plantação sendo perto de um grande supermercado, ele conseguiu se inserir no mercado oferendo um diferencial: hortaliças livres de agrotóxicos, colhidas na hora e ao gosto do freguês. Agora, ele tem clientes de toda a cidade, não apenas do seu círculo de vizinhos.
Mas, de acordo com José Morais do Sebrae, nem sempre é tão fácil se colocar nessa cadeia produtiva. Ele toma como modelos os empresários da região Itaqui-Bacanga, um dos maiores centros urbanos da capital maranhense. Ali, a maioria dos micro e pequenos não consegue dialogar com as grandes empresas existentes na região, como as mineradoras, fabricantes de cimento, termelétricas, entre tantas outras.
Por isso, acrescenta, se fazem necessárias a intermediação, orientação e qualificação de uma instituição como o Sebrae, que vai dizer como esses pequenos devem se comportar ante os grandes e andar junto com eles sem serem pisados.

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