Artigo

Adeus Jomar Moraes!

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45

Sempre muito modesto com os seus cabedais, você conversava com ele e até parecia que não tinha todo aquele manancial de cultura, de tanta simplicidade. Gostava de lhe importunar quando possuía alguma dúvida a despeito de história e de literatura do Maranhão. Muito solícito, me falou certa feita por telefone que pretendia reeditar o seu magistral “Guia de São Luís do Maranhão”, posto que precisava de algumas atualizações.

Decerto o célebre “Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão”, do doutor César Marques, relançado em sua 3.ª edição com críticas e complementações, acrescido de 809 verbetes. Foi sem dúvida alguma um trabalho exaustivo e fabuloso. “Ana Jansen, Rainha do Maranhão”, uma compilação de vários ensaios sobre a poderosa matrona maranhense. Os seus estudos sobre Gonçalves Dias e Sousândrade, bem como o relançamento de várias obras de grandes vultos maranhense, como “Obras de João Francisco Lisboa” e tantas outras. Que maravilha! E “Apontamentos de Literatura Maranhense”. Dizia, com sua modesta peculiar, que “não passavam de simples apontamentos”. Nunca esqueço de dizer-me que tinha uma biblioteca composta de aproximadamente 30.000 títulos, dos quais ainda não teria lido todos, mas com uma boa margem de segurança, regozijando-se, sabia que já tinha folheado pelo menos quase a totalidade daquelas obras. Incrível!

Tinha uma pena leve e elegante; sentiu na arte da palavra o fascínio da beleza. Os seus escritos sobre a historiografia literária da nossa terra sempre serão lembrados. Visionário da sistematização do conhecimento sobre a cultura do Maranhão, um verdadeiro polígrafo (lhe roubando uma expressão que sempre gostava de usar em suas crônicas publicadas no Jornal “O Estado”). As quais, até quando a sua saúde lhe permitiu publicar, eu não deixava de ler uma.

Não esqueço, pelos idos da década de 90, quando um renomado professor e pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco veio a São Luís fazer o lançamento no Ceuma/Renascença de um livro sobre o genial matemático maranhense, Joaquim Gomes de Souza, uma das maiores inteligências brasileiras do século XIX, cognominado “o Newton do Brasil”, em alusão ao cientista inglês Isaac Newton. Este, muito entusiasmado em expor a sua inaudita obra, fazendo digressões a despeito do viés poético de Souzinha, as quais o Jomar discordava, concedeu aparte ao nosso polígrafo, que, ali mesmo da galeria, com muita contundência e elegância, lhe deu uma aula sobre a personalidade marcante do grande geômetra maranhense, arrancando aplausos e regozijos de toda plateia presente. Deixando, desse modo, o nosso ilustre visitante todo desconsertado naquela noite inesquecível para mim e para muitos que ali estavam presentes. Eis que imediatamente, o nobre pesquisador pernambucano fez por bem encerrar aquela solenidade. Assim, parafraseando Gonçalves Dias, de quem dissera Erasmo Dias: “Meninos, eu vi!”.

Por tudo isso, em nome da nossa cultura, em nome das tradições que nos iluminam, dos que agora se queimam nas lides intelectuais, como exemplo às gerações maranhenses de hoje e de amanhã, de amor ao estudo (que segundo ele começou tardiamente) e a pertinácia na pesquisa. Faço um apelo, no sentido que todos procuremos dar à memória de Jomar Moraes o testemunho mais firme e mais elevado da nossa admiração pela obra que produziu e do nosso reconhecimento pela marcada posição que nos deu na contextura histórica da cultura maranhense. Adeus Jomar Moraes! Descanse em paz.

LUIZ CARLOS PINHEIRO GOMES

Empresário/Engenheiro Civil

E-mail: luizcarlospgomes@gmail.com

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