Disputa

Regime e rebeldes preparam batalha determinante em Aleppo, na Síria

No sábado, rebeldes cercaram bairros controlados pelo regime; dois mil combatentes pró-regime chegaram à cidade, diz grupo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h46

Síria - O regime sírio e os grupos rebeldes que lutam contra as forças oficiais enviavam ontem importantes contingentes ao front de Aleppo, a segunda cidade síria que está dividida desde 2012. A batalha pode ser determinante para a guerra que devasta o país e já deixou mais de 290 mil mortos desde 2011 e obrigou milhares a abandonar seus lares.

No domingo, uma aliança de rebeldes e jihadistas anunciou o início da batalha para se apoderar de toda a cidade, depois de ter aplicado um duro revés ao regime. No último sábado, os insurgentes romperam três semanas de cerco imposto pelo regime aos seus bairros no leste de Aleppo, em uma contraofensiva que lhes permitiu cercar parcialmente os bairros do oeste, controlados pelo regime. Esta vitória representa um dos poucos êxitos dos rebeldes nos últimos anos frente ao regime.

Diante da aviação do regime, do apoio dos ataques aéreos russos e dos combatentes iranianos e do Hezbollah libanês, os rebeldes apoiados por jihadistas utilizaram com êxito veículos carregados de explosivos e terroristas suicidas para abrir buracos no sistema de defesa do regime.

Segundo o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, tanto o regime quanto os rebeldes enviaram reforços a Aleppo e aos seus arredores.

"Dois mil combatentes pró-regime, sírios, iranianos, iraquianos e do Hezbollah libanês chegaram a Aleppo através da rota de Castello, ao norte da cidade", procedentes do centro do país, disse. Um funcionário de segurança de alto escalão de Damasco confirmou à AFP a chegada de reforços.

Os rebeldes, por sua vez, receberam reforços de combatentes uigures (muçulmanos) chineses, procedentes da província vizinha de Idleb e da campanha de Aleppo, segundo o OSDH.

Os aviões sírios e russos continuaram, enquanto isso, bombardeando os bairros rebeldes e as posições dos insurgentes ao sul de Aleppo, assim como na cidade de Idleb, reduto rebelde.

Os dois campos se preparam para a batalha, de grande importância para ambos, assim como para seus aliados no exterior. Rússia e Irã apoiam o regime, enquanto os ocidentais, Turquia e Arábia Saudita defendem os rebeldes.

A guerra na Síria, iniciada em março de 2011 após a repressão de manifestações pró-democracia, se tornou mais complexa com o envolvimento de atores internacionais e grupos extremistas.

'A guera não se deterá'
"Não importa quem vencer, a guerra não se deterá. No entanto, é uma etapa importante cujo resultado orientará a trajetória do conflito", estima Thomas Pierret, especialista da Síria.

"Se os rebeldes vencerem, ocorrerá uma divisão do país, com o regime no Golã, Damasco, Homs e na costa", explica este professor da Universidade de Edimburgo.

"Se os leais (ao regime) ganharem, a insurreição recuará à província de Idleb, dominada por Ahrar al Sham e Fateh al Sham", acrescenta.

'Nova fase'
Reforçado por seu êxito em Aleppo, "o Exército da Conquista", que reúne os grupos rebeldes islamitas, entre eles o potente Ahrar al Sham e a Frente Fateh al Sham (antiga Frente al-Nosra, que renunciou a sua lealdade à Al-Qaeda), anunciou "o início de uma nova fase para a libertação do conjunto de Aleppo".

"Anunciamos nossa intenção de duplicar o número de combatentes para esta batalha", declarou.

Esta coalizão também tomou no sábado uma grande parte do bairro governamental de Ramusa, na periferia sul de Aleppo, o que lhe permitiu chegar aos bairros rebeldes, romper seu cerco e cortar a principal rota de abastecimento dos bairros pró-regime.

Ajuda a forças pró-governo
Na noite de domingo, as forças pró-governamentais conseguiram fazer chegar aos seus bairros de Aleppo caminhões de ajuda através da rota do Castello, retomada recentemente dos rebeldes.

Dezenas de caminhões com alimentos e combustível entraram antes do amanhecer nos bairros pró-regime, onde vivem 1,2 milhão de pessoas, depois que os moradores compraram em massa alimentos e água por medo de um cerco total.

Encorajado pela inesperada vitória dos rebeldes, o líder da coalizão da oposição política no exílio, Anas al Abde, convocou os soldados do regime a desertar.

"Rompemos o cerco de Aleppo e vamos libertar toda (a cidade de) Aleppo. Convocamos os oficiais do exército sírio: é sua última oportunidade de desertar", declarou em uma coletiva de imprensa em Istambul.

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