Droga

Colombianos miram cultivo e exportação legal de maconha

O presidente Juan Manuel Santos liderou uma revisão da legislação colombiana sobre drogas, promulgada 30 anos atrás

Atualizada em 11/10/2022 às 12h46

Bogotá - Como muitos barões das drogas na Colômbia, Federico Cock-Correa quer vender seu produto globalmente. Ele está pensando em substituir os hectares de flores que cultiva em sua fazenda a 25 km de Medellín por pés de maconha, com planos de exportar o que colher. Porém, diferentemente do tráfico brutal de heroína e cocaína que antes corria solto nas proximidades, sua operação conta com a aprovação do governo.

No ano passado, o presidente Juan Manuel Santos liderou uma revisão da legislação colombiana sobre drogas, promulgada 30 anos atrás, legalizando formalmente a produção de maconha medicinal para consumo doméstico. A nova lei também autorizou o cultivo comercial, o processamento e a exportação de produtos medicinais a base de maconha, como óleos e cremes –mas não da flor, a parte da planta que normalmente é fumada em forma de baseado.

As autoridades esperam que a iniciativa enfraqueça o narcotráfico colombiano, ao criar uma oportunidade legal em um setor historicamente controlado pelo mercado negro. Elas acreditam que a nova lei vai ajudar a atrair investimentos e dar um incentivo à economia, apesar de que será preciso esperar alguns anos para que os retornos sobre os investimentos fiquem claros.

"É saúde, é ciência, é a oportunidade de redimir o nome do país", falou Cock-Correa, que dirige a divisão colombiana da PharmaCielo, uma empresa que quer capitalizar sobre a nova legislação. "Entre produzir uma planta que mata e uma que cura, a diferença é grande."

Empresas como a PharmaCielo presentes na Colômbia acreditam que poderão fincar raízes na indústria farmacêutica, assim como fizeram suas contrapartes ilegais no passado. Nos Estados Unidos, o setor da maconha legalizada ainda sofre empecilhos devido ao conflito entre regulamentações locais e federais. Embora alguns Estados tenham legalizado a droga nos últimos anos, o governo federal atualmente proíbe a importação de produtos à base de maconha.

"Achamos que a Colômbia poderá criar uma indústria internacional bem-sucedida em torno da exportação de maconha medicinal", disse em e-mail o ministro da Saúde colombiano, Alejandro Gaviria. "O país está preparado para participar desse mercado global emergente."

Sediada em Toronto, a PharmaCielo foi fundada em 2014 e em junho tornou-se a primeira empresa na Colômbia a receber uma licença do governo para manufaturar produtos à base de maconha. Ela ainda aguarda a licença para cultivar a planta.

Mercado interno

Outras firmas já estão seguindo seu exemplo. Em julho o governo concedeu licença de produção a outra empresa canadense, a Cannavida, e a uma companhia colombiana, a Labfarve-Ecomedics. Diferentemente da PharmaCielo, a Labfarve-Ecomedics vai concentrar sua atuação no mercado interno, o que talvez lhe permita entrar em atividade em menos tempo, já que não precisará de licença de exportação.

Assim que receber a aprovação, a PharmaCielo vai começar a cultivar maconha e então processar o material para fabricar produtos médicos que poderão ser exportados ao Canadá e a outros países que autorizam a importação da maconha para fins medicinais. A perspectiva de exportar para os Estados Unidos ainda está no futuro distante.

"O potencial mercado global pode valer bilhões", disse o investidor canadense Anthony Wile, que aposta na PharmaCielo. Outro investidor na empresa é Jim Rogers, co-fundador, ao lado de George Soros, do Fundo Quantum.

Clima e solo

Entrevistado num terreno de 130 mil metros quadrados que será o local inicial de cultivo da PharmaCielo, Cock-Correa explicou por que a Colômbia é ideal para a produção de maconha, citando o clima e o solo propícios. Não foi por acaso que o colombiano Pablo Escobar se lançou no mundo das drogas traficando maconha.

Há mais de 50 anos, a região de Rionegro, nos Andes colombianos, onde a PharmaCielo tem suas terras, é um dos pontos principais de produção de flores exportadas para os Estados Unidos e Europa. A região concentra um quarto das exportações colombianas de flores e é a maior fornecedora de flores cortadas para os Estados Unidos.

Grandes estufas feitas de lonas plásticas simples estendidas sobre suportes se espalham pelos morros da região. O solo vulcânico fértil possibilita o cultivo de flores como crisântemos e cravos o ano inteiro.

Mas o que está no cerne dos planos da empresa são as finanças.

Quando a produção estiver a pleno vapor, a PharmaCielo prevê produzir um grama de flores de maconha por cerca de US$0,05, um décimo do custo de produção nos Estados Unidos e no Canadá.

Os plantadores de maconha na América do Norte geralmente têm duas opções: cultivar a planta ao ar livre, produzindo apenas uma safra por ano, ou em espaços fechados, numa produção que envolve alto consumo de energia.

Mas as empresas que estão investindo na Colômbia pretendem lançar mão dos atributos naturais do país para fugir desse modelo.

"Nosso crescimento decorre da luz solar", disse Marcelo Siqueira, executivo operacional chefe da PharmaCielo Colômbia. Assim, a empresa prevê fazer quatro colheitas por ano, a um custo substancialmente mais baixo que suas rivais norte-americanas.

Ao mesmo tempo, uma rede de açudes ajuda a conservar água e, por extensão, controlar os custos. Graças à fertilidade do solo, a empresa será menos dependente de produtos como musgo de turfa e fibras de coco desfiadas para ajudar as plantas a crescer. Com isso, vai poupar dinheiro e reduzir o desperdício.

Espera

Mas a PharmaCielo ainda está em compasso de espera. Enquanto aguarda as licenças necessárias, Cock-Correa cultiva flores nos 130 mil metros quadrados da companhia.

O empresário, que trabalha no ramo das flores há 30 anos, diz que o processo de mudar do cultivo de flores para o de maconha será simples. Já existe uma força de trabalho treinada, a infraestrutura está presente e o solo está pronto para ser semeado.

A partir do momento que obtiver as licenças, a empresa estima que no prazo de dois anos poderá estar com 2,4 quilômetros quadrados de maconha em cultivo ativo. Cock-Correa quer fechar contratos com fazendas vizinhas que hoje cultivam flores.

Numa visita à área de plantio inicial, em maio, os canteiros ainda estavam plantados com flores. Trabalhadores estavam correndo para terminar de cortar e embalar as flores a tempo para o Dia das Mães.

Cock-Correa disse: "Daqui a um ano, isto tudo vai ser maconha."

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