Tensão racial

Ataques a policiais provocam mudanças no ''Black Lives Matter''

Movimento protesta contra a violência policial contra negros nos EUA; BLM se solidarizou com as mortes de policiais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h46

Washington - Os assassinatos de policiais por ativistas negros em Dallas e Baton Rouge provocaram uma mudança de rumo no movimento "Black Lives Matter", que protesta contra a violência policial em relação à comunidade negra nos Estados Unidos.

Nascido nas redes sociais, o Black Lives Matter (BLM, 'As vidas dos negros importam', em tradução livre), se popularizou nos últimos dois anos graças à internet. Mas agora começa a ser comum ouvir que "as vidas de todos importam" ou que "as vidas dos negros também importam".

Estas frases são reações ao assassinato neste mês de oito policiais por ex-militares negros. Segundo ativistas locais do BLM, o alvo do movimento é agora a violência armada que atinge o país, não importa de onde venha - mesmo que os negros ainda sejam as maiores vítimas da violência policial nos EUA - um estudo divulgado pelo jornal americano Washington Post mostrou que negros norte-americanos têm 2,5 vezes mais chances de serem baleados por policiais nos Estados Unidos.

"Fico feliz em saber que o BLM está se convertendo em algo onde todos querem fazer sua voz ser ouvida", disse o ativista comunitário John Lewis em um café no campus da Universidade da Louisiana.

No dia 7 de julho, cinco policiais brancos foram assassinados por um homem negro em Dallas, Texas, em reação a morte em Louisiana e Minnesota de dois homens negros por policiais nervosos.

Provavelmente pela mesma razão, embora ainda não tenha sido confirmado, outro extremista negro matou no domingo passado em Baton Rouge, a capital da Louisiana, três policiais, dois brancos e um negro.

A rejeição e o patriotismo que tais ataques geram fazem com que o BLM, que embora seja pacífico se associa a um movimento antipolícia, busque instintivamente se desvincular destes episódios e se mostrar mais inclusivo.

"Odeio dizer que estas tragédias uniram as pessoas, mas é o tipo de tragédia que faz com que as pessoas conversem sobre o que está acontecendo", disse Lewis sobriamente, ignorando duas universitárias que tentavam capturar um Pokémon que aparentemente pulava sobre a mesa.

Golpe de efeito
"O BLM está se en
caminhando para se converter em um movimento que reúne os progressistas e as pessoas da esquerda do espectro político americano", comentou o professor em ciência política Michael Heany, da Universidade do Estado da Louisiana (LSU). "Está mostrando sinais de poder fazer isso", acrescentou.

Embora seu caráter on-line permita se moldar rapidamente a novas realidades, a principal debilidade do movimento - sua falta de hierarquia - pode ser uma ameaça para sua durabilidade, disse.

Um dos golpes de efeito mais notórios desta guinada é a vigília nesta quarta-feira na LSU em homenagem aos policiais assassinados, convocada pela ativista muçulmana Blair Imani em conjunto com a instituição.

Há duas semanas, a mesma ativista de 22 anos havia sido presa durante um protesto do BLM contra a violência policial. "O objetivo (do BLM) nunca foi demonizar a polícia, mas reformar as táticas e a cultura das forças policiais", disse Imani.

"A narrativa de que há dois grupos é um grande obstáculo para que tenhamos uma conversa produtiva", acrescentou. "Espero que as pessoas comecem a entender que o fim da violência em todas as suas formas é o objetivo da maioria de todos os movimentos de justiça social".

Esta visão coincide com outras respostas inclusivas. Um exemplo é a missa da NAACP - a organização de defesa dos direitos dos negros mais antiga dos Estados Unidos - em homenagem aos oficiais Brad Garafola, Matthew Gerald e Montrell Jackson.

Uma centena de pessoas se dirigiram à vigília em New Roads, um pequeno povoado cercado de cana de açúcar à beira do rio Mississippi e a 60 km de Baton Rouge.

"Sentimos que nossos homens negros estão sendo massacrados (pela polícia), mas graças a isso sabemos que todas as vidas importam", comentou Ruth Oliver, presidente do NAACP local.

Ao dizer isso, a líder da centenária e histórica organização de direitos civis utilizou sem perceber a nova variação do slogan dos jovens do BLM.

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