Crise

Dilma compara crise política na Turquia ao processo de impeachment

Presidente da República afastada participou de evento com estudantes e representantes de associações de professores em São Bernardo do Campo, em São Paulo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h46
(Dilma Rousseff)

SÃO PAULO

Em evento com estudantes e representantes de associações de professores em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a presidente da República afastada Dilma Rousseff (PT) criticou a política do governo interino de Michel Temer e comparou seu processo de impeachment com a tentativa de golpe na Turquia.

"Um dos maiores argumentos dos golpistas é que nós não vivemos o golpe, porque não há armas, não há tanques nas ruas, não há tiroteio", afirmou a petista. Mas, segundo ela, enquanto na Turquia há um golpe "verdadeiramente militar", o Brasil vive um "golpe parlamentar".

"Lá, você tem um machado que quebra a árvore da democracia, enquanto no golpe parlamentar são parasitas atacando a árvore", afirmou ela na UFABC (Universidade Federal do ABC) ontem.

De acordo com a presidente afastada, há por trás de seu impeachment uma "ambição pelo parlamentarismo", pois o sistema de votos proporcionais criaria "filtros oligárquicos" nas eleições. "O parlamento no Brasil é mais conservador que o Executivo", disse.

Em seu discurso, a petista voltou a afirmar que não cometeu crime de responsabilidade nas pedaladas fiscais e que, ser for condenada por elas, seus antecessores também deveriam ter sido. "Está ficando até chato. Semana passada o Ministério Público Federal disse que a pedalada não ser caracteriza como irregularidade, que não há crime nesse caso”, disse.

Dilma criticou o projeto do governo Temer de estabelecimento de teto para gastos com educação e saúde nos próximos 20 anos. Segundo ela, o resultado da medida seria "a redução per capita dos gastos" ao longo dos anos, com o ingresso de mais alunos nas universidades. "É a medida mais grave desse governo para mim", afirmou.

"Nós temos que gastar mais com educação", disse a petista para a plateia que a havia recebido com gritos de "volta querida". Segundo Dilma, o problema na educação brasileira é "complexo, porque somos um país ainda muito desigual".

"Eu acho que não resolvemos o problema da educação melhorando o acesso a ela", afirmou. Segundo ela, é preciso uma "política contínua" para melhorar a qualidade da educação brasileira. "E aí é o perigo do golpe, a quebra da continuidade", completou.

Política externa - Dilma criticou a política externa de Temer e o ministro das Relações Exteriores José Serra. Segundo ela, o Brasil conseguiu afirmação no plano internacional graças a sua posição "não imperialista" e priorizando países vizinhos. “Não de quem fala fino com os EUA e grosso com a Bolívia”, disse.

"Só quem não entende de política externa pode achar que podemos abrir mão do Mercosul, da Unasul, da Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos]", afirmou.

Ela acusou ainda os articuladores de seu impeachment de usarem os países do continente "para fazer política interna". "Estou me referindo à Venezuela."

O país, que passa por grave crise, é citado por alguns adversários da presidente afastada como o suposto "modelo" a que os governos petistas almejariam.

Mais

O processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) ainda será submetido ao plenário do Senado da República. Já aprovado na comissão especial, o processo definirá o futuro político da petista. Caso o processo seja aprovado, Dilma deixará em definitivo o Governo Federal. Caso contrário, o processo é arquivado, e ela dá continuidade ao seu mandato até dezembro de 2018.

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