Igreja Católica

Justiça do Vaticano absolve jornalistas e condena bispo no caso Vatileaks 2

Tribunal julgou vazamento de documentação sigilosa da Santa Sé; bispo espanhol e relações publicas italiana foram condenados a prisão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h47

Itália - A justiça do Vaticano condenou o bispo espanhol da Opus Dei Lucio Vallejo Balda a 18 meses de prisão por divulgar documentos confidenciais da Santa Sé e absolveu os jornalistas italianos Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi no caso conhecido como Vatileaks 2.

O tribunal condenou também a especialista italiana em relações públicas Francesca Chaouqui a 10 meses de prisão com sursis (suspensão condicional da pena) e absolveu Nicola Maio, colaborador de Vallejo, por não ter cometido o delito.

Os cinco foram julgados por "associação criminosa" no escândalo de divulgação de documentos confidenciais sobre supostos desvios de dinheiro dentro da Igreja Católica.

"Nós fomos indiciados porque fizemos bem o nosso trabalho de jornalistas", declarou Nuzzi. "O Vaticano foi corajoso", considerou por sua vez Fittipaldi pouco após o anúncio do veredicto.

"Em nome de Sua Santidade"
O tribunal, que pronunciou o veredicto "em nome de Sua Santidade o papa Francisco" não seguiu as recomendações da procuradoria que pediu três anos e nove meses de prisão para Chaouqui e três anos e um mês de prisão para Balda. Também havia pedido uma pena com sursis contra um dos dois jornalistas, Gianluigi Nuzzi.

Vazamento de informações
O julgamento começou em novembro passado, depois da detenção do bispo Vallejo Balda e da acusação contra Chaouqui de ter vazado documentos confidenciais para a imprensa. O ato é considerado crime pela Justiça vaticana.

Os dois jornalistas, Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi, usaram esses documentos para escrever os livros "Via Crucis" e "Avarizia", respectivamente, nos quais denunciam as falhas, a má gestão financeira no Vaticano e a vida de luxo de alguns cardeais que vivem em Roma, apesar da vontade de Francisco de querer reformar a entidade.

Os livros citam e-mails, atas de reuniões, conversas privadas gravadas e notas que demonstram o excesso de burocracia, a má gestão, o desperdício e os gastos milionários com aluguéis.

Segundo a imprensa italiana, as obras revelam sobretudo a oposição interna às reformas financeiras do papa Francisco.

Doações

De acordo com Fittipaldi, o Vaticano emprega os recursos de doações para os pobres na sua administração central. Cerca de 400 milhões de euros teriam sido desviados do "Óbolo de São Pedro", com doações provenientes de todo o mundo, para a Cúria Romana.

Vários cardeais, inclusive aposentados, residem em luxuosos apartamentos às custas da CúriaRomana, afirma Nuzzi, autor de outro livro com documentos roubados do escritório do papa Bento 16 e que marcou o final desse pontificado.

Segundo o autor, devido à má gestão das finanças vaticanas, foram registradas "perdas por diferenças no inventário" e "buracos" de até 700 mil euros no balanço do supermercado do Vaticano e de 300 mil euros no da farmácia vaticana.

Nuzzi disse ainda que o papa presidiu uma reunião a portas fechadas em 2013, lamentando que "os custos estejam fora de controle", após indicar um aumento de 30% do número de funcionários em 5 anos.

Segundo Nuzzi, tanto Vallejo como Chaouqui, suas "fontes", queriam "ajudar o papa" com a publicação dos documentos aos que tiveram acesso, como os especialistas da Comissão encarregada de estudar as reformas econômicas da Santa Sé.

Outro vatileaks
O escândalo lembra o que afetou em 2012 o pontificado de Bento XVI, cujas cartas confidenciais foram reveladas à imprensa por seu mordomo. O caso foi batizado de "Vatileaks" pela imprensa. O mordomo foi condenado a 18 meses de prisão, antes de receber o indulto do pontífice. Nuzzi teve um papel-chave naquele escândalo, que, para muitos, influenciou a decisão de Bento XVI de renunciar ao cargo, em 2013

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