Devoção

Bois amanhecem em largo para homenagear São Pedro

Reverências ao padroeiro dos pescadores por grupos de bumba-boi e devotos ocorreram na capela e no largo que levam o nome do santo, na Madre Deus; começaram na noite de terça-feira e duraram todo o dia de ontem, com missas e procissões

Atualizada em 11/10/2022 às 12h47

O amanhecer do Dia de São Pedro, ontem, para muitos foi na capela que leva o nome do santo, no bairro Madre Deus, em São Luís. Como tradição que se estende há décadas, milhares de pessoas foram ao local para prestigiar o tradicional encontro de grupos de bumba-boi em que os brincantes e devotos se dirigem ao espaço para agradecer ao santo padroeiro dos pescadores as graças obtidas.

A festa começou na madrugada, quando os primeiros grupos de bumba-boi se dirigiram para o local para louvar o santo. Por volta das 9h, o Largo de São Pedro estava lotado e os brincantes não demonstravam qualquer sinal de cansaço ou indisposição.

O encontro de bois na capela de São Pedro já acontece há mais de 70 anos. Após a apresentação nos arraiais da cidade, os grupos se dirigem para o largo e transformam o espaço em um grande arraial, em uma mistura que envolve alegria e festa junina com fé e devoção.

Ao som predominantemente das matracas, pandeirões e outros instrumentos musicais típicos do período junino, os brincantes renderam diversas graças e pediram bênçãos a São Pedro, grande homenageado do dia.

Ao chegarem ao espaço, a primeira tarefa dos integrantes dos grupos era subir os 46 degraus da capela, atividade essa que eles realizaram com grande alegria e entusiasmo. Lá dentro da casa de São Pedro, o som das matracas e dos pandeirões ecoavam. Integrantes e entusiastas do bumba meu boi faziam com que o ritmo e a cadência dos instrumentos se tornassem únicos. Na falta de matracas, brincantes utilizavam as próprias mãos espalmadas, imitando o movimento do instrumento, tudo para não deixar de participar da brincadeira.

Capela

Dentro da capela, os brincantes faziam a feste em frente à imagem do santo, que se encontrava em um pequeno barco confeccionado em madeira e ornamentado com algumas fitas coloridas, flores e outros adereços alusivos ao período junino. Houve também aqueles grupos de bumba meu boi que preferiam entrar na capela pelas portas laterais, sem ter necessidade de subir a escadaria.

Dezenas de agremiações de sotaques de matraca, baixada e zabumba passaram pelo local para reverenciar São Pedro, cada uma de forma diferente e mostrando um pouco da diversidade da cultura maranhense. Todo esse momento foi acompanhado pelo público, que lotou o local para acompanhar a passagem dos grupos de bumba-boi.

O encontro de grupos de bumba meu boi na capela é um reflexo da devoção dos brincantes ao santo, que também é padroeiro dos pescadores, além de ser homenageado com festejos em vários locais do país.

Desde a madrugada de ontem até o raiar do dia uma mistura de ritmos e cores marcou a festa no local. Um após o outro, os grupos de bumba boi chegavam ao Largo de São Pedro, que estava devidamente enfeitado com bandeirinhas e balões coloridos, típicos das festividades juninas. Ainda no local, embalados pelo som das batidas dos pandeirões, maracás e matracas, os brincantes faziam uma pequena apresentação para o público, brincando e dançando como se estivessem em arraiais.

Devoção

Antes mesmo da chegada dos grupos de bumba boi, algumas pessoas se dirigiram à capela e se ajoelharam em frente à imagem do santo para fazer suas preces e orações. Já outras aproveitaram o dia para pagar promessas e subir a escadaria da capela de joelhos para agradecer a São Pedro alguma bênção obtida. Ao completar o trajeto, os devotos novamente se colocavam de joelhos na frente da imagem do pescador, segundo a tradição católica, para reverenciá-lo e agradecê-lo.

O funcionário público Etevaldo Luzo, que mora no Vera Cruz, foi à capela para ascender velas em homenagem ao santo para agradecê-lo por uma graça. “Há mais de 10 anos eu venho aqui para agradecer por um benção, que foi o nascimento da minha filha com saúde”, disse.

A dona de casa Antonilde Melo Alves, moradora do Coroadinho, afirmou que é devota de São Pedro e também foi ao local agradecer por graças obtidas. “Eu tenho braços, pernas, saúde e estou me mexendo. Apenas tenho a agradecer à São Pedro por tudo”, disse.

Confusão

Mas nem tudo foi festa e devoção no local. No início da manhã houve uma confusão entre integrantes de grupos de bumba-boi. Os brincantes se agrediram durante as suas apresentações, sendo necessária a intervenção da Polícia Militar (PM). O tumulto teve início após uma discussão próximo ao palco que se tornou generalizada.

As matracas, zabumbas, pandeirões e outros objetos que dão o ritmo do São João se transformaram em armas nas mãos dos brincantes, pois eles atiravam esses objetos uns nos outros. Garrafas, cadeiras e outros objetos também foram utilizados para a agressão mútua. Muitas pessoas ficaram feridas. Após alguns minutos do início da confusão, homens da Polícia Militar chegaram ao espaço para acalmar os ânimos.

Mais

Segundo a comunidade da Madre Deus, o festejo na Capela de São Pedro teve início há mais de 70 anos. O festejo teria se originado no Desterro, em 1939, indo para a Madre Deus em 1940, onde havia mais pescadores, cujo padroeiro é o santo. Na época, a capela era de taipa e coberta com palha. Apenas em 1949 foi erguida a de alvenaria, com o apoio do político e industrial Cesar Aboud, dono da Fábrica Santa Isabel, de tecelagem.

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