Eleições 2016

Em busca de reeleição, prefeitos superestimam premiações para valorizar gestões

Nos últimos meses pelo dez prefeitos surgiram como premiados por feitos em suas gestões

Ronaldo Rocha

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48
(Prefeitos)

Prefeitos maranhenses em busca de reeleição inauguraram neste ano um novo método de promoção pessoal: supervalorizam o recebimento de prêmios – muitos deles de origem duvidosa – para valorizar suas imagens e tentar convencer o eleitorado de que são gestores de excelência.

Nos últimos meses pelo dez prefeitos surgiram como premiados por feitos em suas gestões – a maioria deles como “Prefeito Empreendedor”, um ranking criado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Um dos casos que mais chamaram a atenção foi o do prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior (PDT). Atualmente com dificuldades para sua reeleição – ele aparece mal posicionado em todas as recentes pesquisas eleitorais -, o pedetista divulgou maciçamente ter sido o vencedor estadual do prêmio oferecido pelo Sebrae. No plano nacional anunciou estar entre os 20 melhores prefeitos do país.

O mesmo prêmio, contudo, foi dado a outros prefeitos do Maranhão: Iracema Vale (PT), de Urbano Santos; Eric Costa (PCdoB), de Barra do Corda; Jairo Madeira (PSDB), de João Lisboa; Capitão Otsuka (PT), de Grajaú; e Adalberto Rodrigues (PT), de Belágua – este último um dos piores municípios do estado em termos de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Todos eles “venderam-se” como melhores gestores do estado.

Metodologia – Em nota encaminhada a O Estado, no entanto, o Sebrae tratou de esclarecer o assunto. Segundo o serviço, o prêmio “Prefeito Empreendedor” não avalia as gestões como um todo, apenas projetos específicos inscritos pelas prefeituras, o que aponta para uma supervalorização do prêmio pelos prefeitos com claro objetivo eleitoral.

“A 9ª edição do Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor premiou, no Maranhão, sete gestores públicos que tiveram seus projetos avaliados com melhor desempenho, dentro dos critérios técnicos estabelecidos no Regulamento do Prêmio, que está disponível para consulta no site www.prefeitoempreendedor.sebrae.com.br e que valeu para todos os estados da federação”, diz o comunicado.

No caso específico do prefeito da capital, por exemplo, ele foi premiado por um projeto apenas: "Pequenos Negócios no Campo". Os demais, também tiverem experiências exitosas em áreas específicas e apenas nas categorias em que se inscreveram.

“O Sebrae no Maranhão tem segurança em dizer que todos os projetos premiados de fato provaram ter promovido resultados positivos para os pequenos negócios locais nas áreas referentes às categorias em que se inscreveram", completa.

Apesar do exagero da divulgação, enquanto não há campanha eleitoral de fato, não há que se falar em crime eleitoral.

Deputado acredita em pagamento por prêmio

O deputado estadual Othelino Neto (PCdoB) criticou, no início da semana, os critérios da Associação Nacional dos Prefeitos e Vice-prefeitos (ANPV) para premiar o prefeito de Alcântara, Domingos Arakém (PT), como um dos cem melhores do Brasil. Ele também citou a inclusão de outros gestores na lista, como o de Presidente Sarney, Edson Chagas (PMDB), e o de Santa Inês, Ribamar Alves (PSB).

O comunista levantou a hipótese de o prêmio haver sido conseguido mediante pagamento por parte dos gestores.

“Esse prêmio mais parece aqueles que a gente recebe no e-mail, apresentando-se como completamente gratuito, mas que tem que dar uma pequena colaboração de alguns mil reais para as despesas do evento”, disse.

Othelino disse que, na verdade, Arakém está “entre os dez piores prefeitos do Maranhão e entre os cem piores do Brasil”. Ele citou pesquisa, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há cerca de um mês , que aferiu as intenções de votos e outras informações importantes do município, e disse que “esses dados comprovam que a ANPV não esteve no município para realizar essa avaliação antes de conceder este prêmio”.

“Eu quero saber quem ele pensa que vai enganar com isso? Será que ele acha que, com essa pesquisa de uma entidade que ninguém sabe onde é, os eleitores de Alcântara vão mudar de ideia? Porque o grande espelho para ele é a cidade dele, onde consegue ser o quarto lugar, ficar atrás do líder nas pesquisas, que é o Anderson Wilker, pré-candidato do PCdoB”, comentou Othelino Neto.

Premiações guardam contradições com atuação de gestores

Em dois casos específicos, as premiações anunciadas guardam grave contradição com o atual momento dos prefeitos: em Santa Inês e em Barreirinhas.

No primeiro deles, Ribamar Alves (PSB) responde a um processo por estupro, supostamente cometido contra uma jovem de 18 anos. Ele chegou a passar aproximadamente um mês na cadeia, depois de ser preso em flagrante.

Com a imagem arranhada na cidade e tendo sua reeleição ameaçada, ele voltou ao noticiário local na semana passada ao receber de uma certa Associação Nacional dos Prefeitos e Vice-prefeitos da República Federativa do Brasil (ANPV) o Prêmio ANPV 2016.

Segundo material distribuído pela assessoria do socialista, com a honraria ele havia sido escolhido um dos 100 melhores prefeitos do Brasil.

“Estamos mantendo os salários em dia. Hospital mantido pelo Município aberto; com médicos e medicamentos. Escolas funcionando, com merenda escolar de qualidade; professores sendo capacitados permanentemente e valorizados pelo Plano de Cargos. Nossa agricultura em destaque nacional. Todos os departamentos e secretarias funcionando e mostrando serviço. Para a nossa gestão, isso vale mais que asfalto”, destacou o premiado prefeito.

Cassação – Em Barreirinhas, nova incoerência: a assessoria de imprensa do prefeito Leo Costa (PDT) informou que ele foi selecionado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para compor uma lista de 24 personalidades públicas e da sociedade civil brasileira para avaliar a presença do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) no Brasil.

De acordo material divulgado, a indicação se deu “pelas relevantes contribuições de Léo Costa ao Projeto Selo UNICEF Município Aprovado, em execução nos nove Estados da Amazônia Legal brasileira”.

O “Selo UNICEF” é concedido a municípios que tenham obtido êxito na implementação de políticas públicas voltadas para a infância e a adolescência, entre as quais ações em educação.

Duas semanas antes de ser escolhido pela ONU, o pedetista havia sido acionada na Justiça, pelo Ministério Público, acusado de fraudar licitações e contratos de merenda escolar. Segundo os promotores que moveram ação, as irregularidades cometidas pelo prefeito causaram prejuízo de R$ 7,6 milhões aos cofres da Educação de Barreirinhas.

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