Incendiários

Prejuízo de empresários com ônibus queimados já chega a R$ 1 milhão

Valores tratam apenas de veículos que tiveram perda total; em reuniões com o Governo do Estado e a Prefeitura, já foi discutida a possibilidade de ressarcimento dos prejuízos dos empresários pelo poder público

Jock Dean e Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48

Já soma R$ 1 milhão o prejuízo das empresas de transporte coletivo de São Luís por causa dos ataques que aconteceram na cidade de quinta-feira, dia 19, até o domingo, dia 22. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de São Luís (SET), 17 ônibus foram atacados ou sofreram tentativas de depredação. Destes, sete tiveram perda total, somando R$ 1 milhão em prejuízos para os empresários. Por causa dos ataques, na quinta-feira, 19, e no sábado, 21, os usuários ficaram sem transporte à noite. O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Maranhão (Sttrema) afirmou que novo recolhimento da frota dependerá da efetividade das ações policiais de combate ao crime.

Os ataques a ônibus em São Luís começaram na quinta-feira. Por volta das 18h30, um ônibus da linha Jardim Tropical sofreu tentativa de depredação e por volta das 19h um veículo da linha Liberdade foi incendiado, em São Luís. O último ataque aconteceu por volta das 18h de domingo, quando um ônibus da linha Alto do Turu foi atacado por criminosos. Este foi considerado pelo SET como o ataque mais grave.

“Nos ataques anteriores, as informações que temos é de que os criminosos mandavam as pessoas descerem. Nesse, assim que o coletivo chegou ao ponto final, foi recebido a tiros. Os passageiros, cobrador e motorista correram sério risco”, disse José Luiz de Oliveira Medeiros, presidente do SET.

Prejuízo
O SET ainda está fazendo um levantamento de quanto é o prejuízo acumulado pelo setor até agora, por causa dos ataques. “Ainda não concluímos o levantamento de quanto foi o prejuízo total acumulado todas essas ações, mas as empresas estão verificando”, afirmou o presidente do SET, José Luiz Medeiros. No entanto, Medeiros estimou em R$ 1 milhão o prejuízo acumulado apenas com os sete coletivos que tiveram perda total com os incêndios.

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Por causa dos ataques, os coletivos foram substituídos por outros da chamada “frota reserva”. “Cerca de 12% da nossa frota é reserva. Temos pelo menos 100 ônibus de reserva em São Luís que são colocados em operação quando necessário. Mas essa substituição prejudica e atrasa nosso cronograma de manutenção dos veículos que circulam diariamente”, informou José Luiz Medeiros.

Ainda segundo o SET, em reuniões com o Governo do Estado e a Prefeitura de São Luís, já foi discutida a possibilidade de ressarcimento dos prejuízos dos empresários pelo poder público.
Por causa dos ataques a população ficou sem transporte nas noites de sexta-feira e sábado. “No sábado, o recolhimento foi causado por boatos, então, o SET e os rodoviários recolheram a frota, acreditando que, por causa do ocorrido na sexta-feira a população estaria em casa mais cedo no sábado”, disse Medeiros.

Ainda segundo o presidente do SET, a orientação dos empresários é de que mesmo com ataques, a frota circule em seu horário normal, até as 22h30, com recolhimento começando às 23h, como ocorre diariamente.

Recolhimento
O presidente do Sttrema, Isaías Castelo Branco, informou que o recolhimento da frota vai depender da ocorrência de novos ataques e da avaliação da executiva do sindicato sobre o cumprimento, pela Polícia Militar (PM), do esquema de segurança que ficou acordado em reuniões que ocorreram logo após os primeiros ataques. “No caso do ataque ocorrido ao ônibus no Alto do Turu, nos foi confirmado que a viatura que estava no ponto final da linha saiu e quando o ônibus voltou, ficou desprotegido”, informou.

Ainda segundo Isaías Castelo Branco, a maioria dos ônibus atacados é de linhas da zona rural e de bairros dos demais municípios da Região Metropolitana de São Luís. Com o reforço no policiamento após os ataques registrados na quinta-feira, 19, e na sexta-feira, 20, no fim de semana, os criminosos conseguiram incendiar apenas dois coletivos, ambos no Alto do Turu (um no sábado, 21, por volta das 6h, e outro no domingo, 22, às 18h). No primeiro dia de atos criminosos, os ataques se concentraram no período da noite. Já na sexta-feira, os ataques foram registrados ao longo do dia, sendo o primeiro às 7h10 e o último por volta das 20h.

Empresas e consórcios comentam os ataques

Os ataques registrados nos últimos dias na capital deixaram a classe empresarial do setor – especialmente ligada ao edital de transporte - preocupada com possíveis prejuízos. De acordo com os responsáveis por empreendimentos ouvidos por O Estado, é necessário aguardar pelas medidas do poder público.

A empresa Primor, por exemplo, que participa da licitação, teve de arcar com os custos do veículo da linha Liberdade, incendiado na quinta-feira, 19, no bairro. Segundo o gerente da empresa, Lú­cio Fernandes, o veículo que foi alvo do ato não tinha seguro contra incêndio. “Recomendei atenção dos funcionários da empresa. Não há como condenar o trabalhador que decide recolher o veículo, apesar dos prejuízos”, disse.

Ele informou ainda que espera o cumprimento das medidas por parte do Governo do Maranhão, que prometeu policiamento reforçado nas ruas e avenidas da cidade. “O perigo não é somente à noite, mas durante o dia. Estamos aguardando e com expectativa grande de que esses atos não aconteçam mais na cidade”, afirmou.

O gerente da empresa São Benedito, Paulo Pires, confirmou a O Estado que alguns motoristas e cobradores estão apresentando atestados médicos, sob a alegação inicial de que não podem trabalhar por alguma limitação física. “Na verdade, a gente não pode afirmar, mas muita gente está com medo de trabalhar”, disse.

Ele informou ainda que a empresa teve dois veículos atacados nos últimos dias. Segundo o gerente, um deles estava na garagem da empresa. “O fato aconteceu na quinta-feira, dia 19. Homens invadiram a garagem e atearam fogo em um dos veículos. Ainda estamos preocupados, mas cientes de que a situação é difícil”, afirmou.

O Consórcio Via SL, constituído pelas empresas Transportes Urbano São Miguel de Uberlância e Expresso Rei de França informou apenas que aguarda providências das autoridades públicas do Estado.

CRONOLOGIA DOS ATAQUES

Quinta-­feira (19)
18h30 ­ Jardim Tropical, Vila Roseana, Cidade Verde e Vila Cafeteira (tentativa)
19h30 ­ Liberdade
20h30 ­ Raposa

Sexta-­feira (20)
7h10 ­ João de Deus
11h ­ Coroadinho (tentativa)
12h ­ Sol e Mar
18h30 ­ Parque Jair
19h ­ Vila Maranhão
19h ­ Residencial Nova Terra
20h ­ Vila Luizão

Sábado (21)
6h ­ Alto do Turu

Domingo (22)
18h ­ Alto do Turu

OUTROS ATAQUES
Esta é a segunda vez que criminosos cometem atentados contra coletivos em São Luís em pouco mais de dois anos. Na noite do dia 3 de janeiro de 2014, um grupo de criminosos invadiu e ateou fogo em diversos coletivos de São Luís, deixando cinco pessoas feridas, das quais uma acabou falecendo. A primeira ação criminosa aconteceu no bairro do João Paulo, em frente ao Colégio Batista, quando cerca de cinco bandidos ordenaram que os passageiros descessem do ônibus e atearam fogo no veículo. Naquela noite, ocorreram outros três incêndios a ônibus: no Jardim América, na Vila Sarney Filho e nas proximidades da Avenida Ferreira Gullar (na região conhecida como Ilhinha).

No veículo da linha Vila Sarney Filho, em que o entregador de frangos Márcio Ronny da Cruz voltava para casa, também estavam Juliene Santos, 22 anos, e as duas filhas, Ana Clara, 6 anos, e Lorrane, 1,5 ano. Ao perceber que elas não estavam conseguindo descer do coletivo, Márcio Ronny, que já havia desembarcado, voltou para ajudá-las, tendo 75% do corpo queimado. A maioria das queimaduras foi de terceiro grau. Ele iniciou o tratamento ainda em São Luís, no Hospital Tarquínio Lopes Filho (Hospital Geral), mas foi transferido em um avião UTI no dia 8 de janeiro para o Hospital Geral de Goiânia (HGG), onde passou por três cirurgias. Em seguida, foi levado para o Hospital de Queimados de Goiânia, onde continuou o tratamento.

Ana Clara, uma das crianças retiradas do ônibus em chamas por Márcio Ronny, teve 90% do corpo queimado, não resistiu à gravidade dos ferimentos e morreu no dia 6 de janeiro, três dias após o atentado. A mãe de Ana Clara, Juliene Santos, e a irmã, Lorrane, também sofreram queimaduras. Juliene Santos teve 40% do corpo queimado e passou um mês em tratamento em hospital especializado em queimaduras de Brasília. Ela recebeu alta no dia 11 de fevereiro.

Sua outra filha, Lorrane, teve alta dias após os ataques. A quinta vítima do incêndio criminoso, Abiancy Silva, de 35 anos, também recebeu alta dias depois. O atentado ocorrido na noite do dia 3 de janeiro também causou a morte de Rodrigues da Silva, de 80 anos, avó de Ana Clara. Ele teve um ataque cardíaco no dia 5 de janeiro, após saber que a neta estava internada com 90% do corpo queimado.

SAIBA MAIS

Esta não foi a primeira vez este ano que os usuários do Sistema de Transporte Coletivo de São Luís ficaram a pé. No dia 23 de fevereiro, São Luís amanheceu sem ônibus por causa de uma paralisação dos rodoviários, provocada pelo atraso no pagamento do adiantamento dos salários da categoria pelas empresas de transporte coletivo de São Luís. Por causa do atraso, no dia anterior 22, os rodoviários fizeram uma paralisação de duas horas – das 4h30 às 6h30 -, que não afetou tanto a rotina da população. Como o adiantamento salarial não foi pago até as 18h do dia 22, eles suspenderam o serviço no dia 23 para pressionar os empresários a cumprirem a convenção coletiva de trabalho que definiu como deveria ser pago o salário da categoria.

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