Michel Temer

Partidos já falam em cassação de Jucá e pedem, inclusive, sua prisão pelo STF

Lideranças no Senado dizem que revelações são mais graves que as de Delcídio Amaral

marco Aurélio D''Eça - editor de Política

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48
(Romero Jucá com Aécio Neves)

Pelo menos dois partidos já manifestaram o interesse em pedir a cassação do senador Romero Jucá (PMDB), que deixou ontem o ministério do Planejamento, após revelação de que ele atuou para que o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) tivesse o objetivo de abafar as investigações contra os demais atores políticos. Para o senador Telmário Mota (PDT-RR), “se Jucá não for casado”, é melhor voltar o Delcídio [Amaral, cassado após ter sido pego em gravações semelhantes à do peemedebista] “por que a fala do Delcídio pega aula na fala de Jucá”.

O PSOL foi ainda mais longe e anunciou que vai fazer Representação à Procuradoria-Geral da República com pedido de prisão do senador do PMDB. “O mínimo que a PGR deve fazer é pedir a prisão de Jucá. O mínimo que O STF deve fazer é acatar o pedido”, destaca o presidente nacional do partido, Luiz Araújo.

"Esse suposto pacto é absolutamente inverossímil. Não há o que temer. Não compromete em nada" a independência da mais alta corte do país e suas falas são "bravatas" ou "delírios de imaginação". Ayres Brito, ex-presidente do STF

A revelação de que Romero Jucá atuou para abafar a Lava Jato após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) foi feita pelo jornal Folha de S. Paulo. Áudios divulgados pelo jornal mostram Jucá afirmando ao ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que junto com o impeachment seria construído um pacto para estancar as investigações da Operação Lava-Jato.

Jucá e Machado são investigados pela Lava-Jato. Os diálogos, gravados de forma oculta, ocorrem semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment da presidente Dilma. São 1h15min de conversas, em poder da PGR.

Em uma parte da conversa, Machado diz: "Tem que ter impeachment". O agora ministro responde: "Tem que ter impeachment. Não tem saída".

Afastamento

As revelação foram suficientes para derrubar o ministro do Planejamento e homem forte do governo Michel Temer (PMDB). E repercutiu intensamente no Congresso Nacional. No final da tarde de ontem, após forte pressão política, Jucá anunciou seu afastamento do Ministério do Planejamento.

Ao anunciar licença do cargo, Romero Jucá garantiu que o presidente interino Michel Temer deu a ele um voto de confiança, mas que ele preferiu pedir licença. "Estou tranquilo, e reafirmo tudo o que disse. Vamos fazer um enfrentamento no comando do PMDB. Estou consciente de que não cometi nenhuma irregularidade, eu apoio Lava Jato", afirmou.

Enquanto fazia o anúncio, Romero Jucá ouvia gritos de "golpista!" de manifestantes no Congresso. Visivelmente irritado, Jucá afirmou: "Sou presidente nacional do PMDB, sou um dos construtores desse novo governo, e não quero de forma nenhuma deixar que qualquer manipulação mal-intencionada possa comprometer o governo. Se o Ministério Público se manifestar dizendo que não há crime, que é o que eu espero, caberá ao presidente Michel Temer me reconduzir ou não”, revelou.

A pressão das revelações envolvendo o agora ex-ministro atingiu inclusive o Supremo Tribunal Federal. Na conversa gravada, o peemedebista sugere a existência de um pacto com o STF para delimitar o alcance da operação Lava Jato, afastando Dilma, mas poupando lideranças de outros partidos – inclusive do governo interino de Michel Temer.

Mais

O presidente interino da República, Michel Temer, deixou o Congresso Nacional na tarde de ontem, onde esteve para entregar o projeto de lei que altera a meta fiscal, aos gritos de golpista. Na chegada, Temer também enfrentou protestos tanto fora quanto nos corredores da Casa, a caminho da reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os manifestantes pediram, ainda, a prisão do ministro do Planejamento, Romero Jucá, minutos antes que ele anunciasse que está se licenciando do cargo. Um áudio publicado pela Folha de S.Paulo revelou que Jucá planejava interromper as investigações da Lava Jato, em conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

Em gravação, Jucá intimida PSDB e ameaça Aécio Neves

Na conversa gravada em março deste ano entre o atual ministro Romero Jucá (PMDB-PR) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o então senador peemedebista afirma que "caiu a ficha" de líderes do PSDB sobre o potencial de danos que a Operação Lava Jato pode causar em vários partidos. As informações são da Folha de S. Paulo. "Todo mundo na bandeja para ser comido", diz Jucá.

Na conversa, Sérgio Machado - que foi do PSDB antes de se filiar ao PMDB - diz que "o primeiro a ser comido vai ser o Aécio [Neves (PSDB-MG)", e acrescenta: "O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...".

"É, a gente viveu tudo", completa Jucá, sem avançar nos detalhes.

De acordo com a reportagem, na gravação, Machado tenta refrescar a memória de Jucá: "O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele [Aécio] ser presidente da Câmara?" Não houve resposta de Jucá. Aécio presidiu a Câmara dos Deputados entre 2001 e 2002.

Machado prossegue, afirmando que a "situação é grave" porque "eles", em referência à força tarefa da Lava Jato, "querem pegar todo mundo". Jucá concorda, ironizando o plano. "Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura", afirma.

O atual ministro do Planejamento falou ainda sobre as dificuldades que o PMDB vinha enfrentando para "a solução Michel", que seria a posse do vice-presidente no lugar de Dilma Rousseff. O único empecilho, segundo Jucá, era o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Só Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está morto, porra", afirma Jucá no diálogo, que foi gravado.

"O Renan reage à solução do Michel. Porra, o Michel, é uma solução que a gente pode, antes de resolver, negociar como é que vai ser. 'Michel, vem cá, é isso e isso, isso, vai ser assim, as reformas são essas'", disse Jucá ao ex-presidente da Transpetro.

Machado fala ainda: "O Renan é totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele [Renan]. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor para ele. Ele não compreendeu isso não".

Jucá então completa, segundo da Folha de S. Paulo: "Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem".

De acordo com a reportagem, o senador também afirmou a Machado que havia conversado com "generais", os "comandantes militares", e que eles haviam dado "garantias" ao PMDB a respeito da transição e estavam "monitorando" o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

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