Coluna / Passaporte

Um festejo tradicional e divino

Tradicional festa do Divino Espírito Santo atrai turistas e movimenta cidades, entre elas a secular Alcântara

Marcos Davi Carvalho

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48
As caixeiras dão o tom e o ritmo da festa
As caixeiras dão o tom e o ritmo da festa

Trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses, a celebração ao Divino Espírito Santo começou a ser cultuada em nosso país no início do século XVII e em muitos estados essa tradição foi se consolidando. Existem registros dessa grande manifestação cristã em cidades como Paraty (RJ), Salvador (BA), Ouro Preto (MG) e nas cidades maranhenses de Paço do Lumiar, Alcântara e na capital, São Luís, onde essas festas acontecem, principalmente, em casas de cultura afro-brasileiras.

Segundo historiadores, a Festa do Divino é uma versão católica da celebração à ascensão de Jesus Cristo, que ficou 40 dias na Terra após sua ressureição, dando os últimos ensinamentos aos seus discípulos. No Maranhão, essa homenagem tomou proporções gigantescas, especialmente na cidade de Alcântara, que passa o ano todo preparando-se para o período, principal evento do município.

Logo após o término de uma festividade, os organizadores já começam a pensar no ano seguinte, na escolha dos locais e nos principais personagens do evento. Talvez, em nenhuma outra cidade do país a Festa do Divino demore tanto tempo. Neste ano, o evento começou na última quarta-feira, 4, e vai até o dia 16 deste mês.

Crianças representam a corte do Império na cidade
Crianças representam a corte do Império na cidade



Alcântara fica a cerca de uma hora e meia da capital, numa travessia por mar feita em lanchas, barcos e catamarãs. A cidade esbanja charme, cultura e relíquias do passado. Assim que desembarcamos no Terminal Hidroviário já somos recepcionados pelas Caixeiras do Divino, nome dado às tocadoras de tambor feito de madeira e couro de boi, que dão o ritmo à festa. Aliás, aqui no Maranhão, são as mulheres, na maioria negras, que são as responsáveis pela manutenção dessa cultura secular.


Bandeira
Seguimos o cortejo das caixeiras pelas ruas de paralelepípedos em direção ao primeiro evento do dia, o hasteamento da bandeira do Divino, na Casa da Imperatriz, e o Levantamento do Mastro, que simboliza a demarcação do território. As ruínas e os imensos sobradões deixam de ser, momentaneamente, os principais atrativos do lugar. Uma oportunidade única de conhecer de perto um pouco dessa história, que reúne até hoje traços da cultura portuguesa, africana e brasileira. A cidade conta com um grande número de comunidades quilombolas.

As residências viram palácios temporários nos quais são oferecidos banquetes aos visitantes
As residências viram palácios temporários nos quais são oferecidos banquetes aos visitantes



Apesar de ser todo organizado por adultos, o Festejo do Divino Espírito Santo gira em torno de crianças, reunidas no império ou reinado. Elas se vestem com trajes de nobres e são tratadas com todas as honras e regalias durante os dias da festa. Existe todo um ritual para a escolha desse reinado. Os adultos começam uma hierarquia e, para chegar ao cargo máximo (Imperador – Imperatriz), passam pelos de Mordomo-mor e Mordomo-régio. Na casa de cada um desses “nobres” são montados altares suntuosos, que recebem visitas diárias de membros da realeza e pessoas comuns. Um detalhe chama a atenção. Durante todo o festejo, nesses “palácios temporários” são oferecidos comida, bebidas, doces e delícias regionais, de graça, aos visitantes e turistas. Muito interessante vivenciar isso tudo.

A cidade, que recebe um grande número de turistas, conta também com praias paradisíacas, museus, sobradões coloniais, alguns tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Nacional e muita história. É impossível, não se encantar.

Dicas importantes

Vale à pena passar dois dias e uma noite em Alcântara, para conhecer as belezas das ilhas próximas, suas praias desertas e as comunidades quilombolas do interior. O Museu Casa Histórica de Alcântara é um prédio localizado na Praça da Matriz e guarda relíquias de um passado com ricas memórias. Passear pelo centro da cidade é viajar num tempo de glórias. As ruínas são abertas ao público. Considerada a mais bonita construção de Alcântara, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo chama a atenção pelo tamanho, fachada colonial e pelo altar-mor estilo barroco. Para conhecer as praias mais distantes é preciso combinar a travessia de cinco minutos com os barqueiros do porto do Jacaré. Passe a manhã nelas, relaxando um pouco. Antes da despedida, o visitante deve provar o doce de espécie e levar uma bandejinha dessa delícia, feita com coco.


Como chegar
A melhor forma de se chegar a Alcântara é pelo mar. Siga para o terminal hidroviário, localizado no Centro Histórico da capital maranhense e compre passagem em barco que faz a travessia Alcântara - São Luís. Fone (98) 3232-0692.


Onde ficar
Há uma boa oferta de pousadas, hotéis e até albergue em Alcântara. Quase todos no estilo colonial, para manter a arquitetura local. Uma boa opção é a Pousada La Maison Du Baron. Contato: (98) 3337-1091/ 99142-1636. Apartamentos a partir de R$ 120,00.


Onde Comer
Os restaurantes de cidade oferecem pratos típicos da culinária maranhense, com destaque para a Peixada e camaroada. Restaurante da Josefa - Self Service é
uma boa opção.

Na Bagagem

Uma das fotos que estão à mostra
Uma das fotos que estão à mostra

Exposição fotográfica
O fotógrafo maranhense Charles Eduardo retratou em sua primeira exposição, imagens dos dois últimos festejos do Divino Espírito Santo em Alcântara (MA) e mostra, com riqueza de detalhes, toda a tradição do evento. A exposição está em cartaz no Terminal Hidroviário da cidade, até o final de maio, tem entrada franca e conta com o apoio da revista Maranhão Turismo, da jornalista Léa Zacheu. As fotos estão lindas. Vale à pena prestigiar.

Arruma a mala aê
Quem busca lazer com uma natureza exuberante e passeios inesquecíveis conta agora com um grande atrativo. O Carnaubinha Praia Resort, em Luis Correia (PI), criou pacotes promocionais até o final de junho, com descontos. Além do cenário paradisíaco, o turista pode fazer passeios pelo Delta do Rio Parnaíba e na Rota das Emoções. Uma boa dica de viagem, com acesso fácil por Barreirinhas e grandes surpresas. O litoral piauiense é encantador.

Rede hoteleira pede socorro
Enquanto a divulgação e promoção do destino São Luís não forem tratados a sério e não se pensar numa nova dinâmica, capaz de atrair investimentos e turistas para a capital maranhense, a rede hoteleira vai sofrer as tristes consequências. Alguns hotéis estão fechando as portas e quem permanece no ramo tem reclamado bastante da inércia dos gestores. Alta carga tributária, ausência de mídia promocional e falta de infraestrutura, são as maiores reclamações dos empresários. Vamos torcer por novos rumos.

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